João Pimentel
RIO - Mais de 400 anos depois de Villegagnon, uma nova invasão: oito dos mais renomados intelectuais que atuam no meio acadêmico francês, nas áreas de filosofia, filologia, literatura, historiografia e antropologia, além da crítica, participam do ciclo de palestras "A França volta ao Petit Trianon", que acontece até quinta-feira (23.07), na Academia Brasileira de Letras. As conferências, coordenadas pelo presidente da casa, Cícero Sandroni, serão abertas ao público e terão tradução simultânea.
O ciclo foi criado por Sandroni a partir da reforma do Petit Trianon, sede da Academia desde 1923, quando o prédio foi doado pelo governo francês. O imóvel histórico é uma réplica idêntica à construída por Maria Antonieta no Palácio de Versalhes.
- A rainha queria um espaço dentro do palácio para ter a sua intimidade. Essa foi a origem do Trianon original. O arquiteto Antoine Gabrielli criou então essa joia neoclássica. O próprio Lúcio Costa atestou a perfeição da cópia. Como o Ano da França no Brasil coincidiu com a restauração que recuperará o projeto original, decidimos fazer o gesto simbólico de devolução do prédio - diz Sandroni.
Ele lembra que o prédio, originalmente, foi sede do pavilhão francês nas comemorações do centenário da independência do Brasil, em 1922. Desta época, por exemplo, é o prédio que abriga o consulado americano, na mesma Avenida Presidente Wilson, antiga Avenida das Nações.
Confira a programação completa do ciclo:
TERÇA-FEIRA (21.07): 10h - "Francofilia" (Commment peut-on être francophone?)
Xavier North - Linguista e Delegado Geral da Língua Francesa do Ministério da Cultura e das Comunicações da França.
11h20m: "O francês e o português entre as línguas românicas" (Le Français et le Portugais parmi les langues romanes)
Henriette Walter - Linguista e professora na Universidade Haute-Bretagne em Rennes,
Membro do Conceil International de la Langue Française, é conhecida internacionalmente como uma das maiores especialistas em Fonologia. É autora de Aventura das línguas no ocidente (Mandarim Editora 2001).
***
QUARTA-FEIRA (22.07):
10h: "Ficção teórica" (Fiction Thèorique)
Henri-Pierre Jeudy - Sociólogo. Pesquisador e professor do Centre de la Recherche Scientifique e do Laboratório de Antropologia das Instituições e das Organizações Sociais. Autor de obras sobre o pânico, o medo, a catástrofe, as memórias coletivas e os patrimônios. Ente seus livros publicados: O corpo como objeto de arte (Estação Liberdade, 2002), Le Désir de catastrophe (Aubier, 1990).
11h20m: "O Brasil e o 'modelo' francês" (Le Brésil et le 'modèle' français)
Pierre Rivas - Professor Emérito de Literatura Comparada na Universidade Paris X. Tradutor e autor do primeiro estudo sistemático sobre a presença do Brasil e de Portugal nas letras francesas de 1880 a 1935, publicado no Brasil com o título "Encontro entre literaturas: França, Portugal e Brasil".
***
QUINTA-FEIRA (23.07): 10h: "Imprensa e livrarias de origem francesa" (Perdition et découverte: presse et librairies d'origine française)
Jacqueline Penjon - Professora de Língua, Literatura e Civilização Brasileira na Universidade Paris III. Autora da tese "Ser professor de português em Paris".
11h20m: "A História, representação do passado e medida do tempo" (L'Histoire, reprèsentation du passé et mesure du temps)
Roger Chartier - Diretor da École des Hautes Études em Sciences Sociales, em Paris, Professor especializado em história cultural e história da leitura. Entre seus livros publicados no Brasil: História da vida privada (Cia das Letras, 2009); Inscrever e apagar (UNESP, 2007), Do palco a página (Casa da Palavra, 2002).
Academia Brasileira de Letras - Av. Presidente Wilson 203, Castelo. Tel.: 3974-2500
7.20.2009
Benedetto Lupo é o solista dos concertos que a OSB realiza no fim de semana
Luiz Paulo Horta
RIO - O pianista italiano Benedetto Lupo é o solista dos concertos que a Orquestra Sinfônica Brasileira realiza neste fim de semana, na Sala Cecília Meireles, sob a regência de Andrew Grams. No programa, o Concerto para a mão esquerda de Ravel, peças de Nino Rota, Dukas e Chabrier. Com boa carreira na Europa e nos Estados Unidos, Lupo estará quinta-feira (23.07) na Fundação Eva Klabin fazendo música de câmara com um quarteto de cordas que tem os violinos de Michel e Bernardo Bessler (quinteto de Schumann e um quarteto de Haydn).
Quarta-feira (22.07), na Sala, a série Pianissimo da Dell'Arte termina com o pianista espanhol Iván Martín, que vai tocar, entre outras peças, as "Danças Espanholas", de Granados. Aos 31 anos, Martin desenvolve intensa carreira na Europa e nos Estados Unidos.
Nesta terça (21.07), no Ibam, apresentação do tenor venezuelano Andrés Perillo, tendo ao piano Andrés Roig.
Sala Cecília Meireles:
Largo da Lapa 47, Lapa. Tel: 2332-9160.
Fundação Eva Klabin.
Av. Epitácio Pessoa 2.480, Lagoa. Tel: 3202-8550
ROGÊ
Cantor e compositor identificado com um pop de acento carioca, o músico debruça-se sobre o samba nas apresentações do disco Brasil em Brasa, lançado no início do ano. Ele mostra algumas canções próprias tiradas do baú e parcerias mais recentes, como a faixa-título, feita com Arlindo Cruz e Gabriel Moura. Além de algumas incursões de Chico Buarque pelo gênero, Rogê exibe, dele, Catinga de Suingue e Samba Pode Esperar. 18 anos. Carioca da Gema (300 pessoas). Avenida Mem de Sá, 79, Lapa, 2221-0043. Terça (21), 21h. R$ 17,00.
TANIA MALHEIROS
No repertório da cantora, clássicos do samba como Praça Onze, de Herivelto Martins e Grande Otelo, e Tem que rebolar, de José Batista e Magno de Oliveira, eternizada por Ciro Monteiro e Elizete Cardoso. Outros grandes nomes que ganham interpretação de Tânia Malheiros são Wilson Moreira, Nei Lopes, Nelson Sargento, Paulo César Pinheiro, Délcio Carvalho e Dona Ivone Lara. 18 anos. Rio Scenarium (1 000 pessoas). Rua do Lavradio, 20, Centro, 3147-9000. Terça (21) e quarta (22), 22h. R$ 15,00. Cc.: todos. Cd.: todos. www.rioscenarium.com.br.
QUARTETO EM CY
As tarimbadas cantoras do grupo encerram a série de shows Saudades de Dolores Duran, em homenagem aos cinquenta anos de morte da cantora e compositora (1930-1959). Além de parcerias de Dolores com Tom Jobim, Cyva, Cybele, Cynara e Cylene mostram alguns dos sucessos que ganharam fama pelos vocais do quarteto. Livre. Centro Cultural Light (194 lugares). Avenida Ma-rechal Floriano, 168, Centro, 2211-4515, Metrô Presidente Vargas. Quinta (23), 12h30 e 18h30. Grátis. Distribuição de senhas uma hora antes.
LEBLON JAZZ FESTIVAL
Depois do sucesso da primeira realização, o festival ganha mais uma edição. A principal atração do palco montado na Rua Dias Ferreira, no trecho entre a Rua Professor Azevedo Marques e a Avenida Ataulfo de Paiva, é o casal sensação Marcelo Camelo e Mallu Magalhães. Outras atrações da tarde são o guitarrista Victor Biglione, o saxofonista George Israel e a banda Os Roncadores. Livre. Praça Cazuza. Rua Dias Ferreira, em frente ao número 15, Leblon. Sábado (25), 13h às 21h. Grátis.
MORAES MOREIRA
Há um ano o músico baiano subiu ao palco da Feira de São Cristóvão para desfiar grandes sucessos da carreira. O registro do show chega às lojas no DVD A História dos Novos Baianos e Outros Versos, que Moreira agora lança na Lapa. Estão no repertório Ferro na Boneca, do início da trajetória, além de clássicos que ganharam fama na época dos Novos Baianos, a exemplo de Acabou Chorare, Pombo Correio, Preta Pretinha e Festa do Interior. Com participação de Pepeu Gomes. Na abertura, o som fica por conta da banda Vulgo Qinho e os Caras. 18 anos. Circo Voador (2 500 pessoas). Arcos da Lapa, s/nº, Lapa, 2533-0354. Sábado (25), 22h. R$ 40,00. Bilheteria: 12h/18h (seg. a qui.); a partir de 20h (sex. e sáb.). IC. www.circovoador.com.br.
4º PENEDO WINTER JAZZ
A grande atração do fim de semana de shows do festival é a francesa Manu Le Prince. Dividindo-se entre a França e o Brasil, Manu costuma se apresentar em clubes de jazz parisienses e festivais europeus. Na serra, ela conta com a participação do saxofonista franco-argelino Idriss Boudrioua e do multi-instrumentista Arismar do Espírito Santo, que a acompanham em obras de Michel Legrand, Tom Jobim, Fátima Guedes e Cole Porter. Esta é uma ótima oportunidade para ver Espírito Santo em ação com a guitarra. Reconhecido como um artista completo, o guitarrista tem a sua maneira de tocar e compor harmonias inusitadas como marca registrada. Antes, na sexta (24), a atração é o bluesman J.J., ao lado do quarteto César Machado. Aos trinta anos de carreira, Jackson tocou com grandes nomes do gênero. Seu primeiro conjunto, Rocking Teens, tinha entre seus integrantes Jimi Hendrix. Do ex-parceiro, ele exibe Little Wing. Jazz Village Bistrô (60 lugares). Rua Toivo Suni, 33 (Hotel Pequena Suécia), Penedo, (24) 3351-1275. Sexta (24), 21h. R$ 100,00. Sábado (25), 21h. R$ 50,00. Cc.: todos. Cd.: todos. www.jazzvillage.com.br.
TURBILHÃO CARIOCA
Surgido de uma das oficinas de percussão do Monobloco, o grupo mostra que Carnaval pode ser o ano inteiro apresentando versões de músicas conhecidas acompanhadas de poderosa percussão. O cavaquinhista Pedro Buarque puxa Isso Aqui Tá Bom Demais, de Dominguinhos, Frevo Mulher, de Zé Ramalho e Festa do Interior, de Moraes Moreira. Também estão previstos sambas-enredos clássicos da União da Ilha, do Salgueiro e da Imperatriz. Entre outros, É Hoje e Liberdade! Liberdade! costumam agitar a pista. 18 anos. Posto 8 (386 pessoas). Avenida Rainha Elizabeth, 769, Ipanema, 2523-1703. Domingo (26), 20h. R$ 15,00 (mulher) e R$ 30,00 (homem). Bilheteria: 16h/22h.
e-mail para esta coluna botecosdovaledocafe@gmail.com
Festival de MPB vira filme
A onda dos documentários musicais pode ser comparada a outra onda sonora ocorrida no Brasil, lá pelo fim dos anos 1960, quando o país praticamente parava para acompanhar os festivais de música. Num encontro entre os dois tempos, um documentário, claro, está em curso para contar os fatos do III Festival de MPB da TV Record (1967), considerado o mais importante da História. Dirigido por Ricardo Calil e Renato Terra, o filme tem o título provisório de "A noite que mudou a MPB".
- Historicamente, o cinema brasileiro sempre buscou energia e inspiração na música popular, desde as chanchadas até "2 filhos de Francisco". No caso dos documentários recentes, existe um desejo de investigar uma manifestação cultural que não apenas é muito bem-sucedida como também reflete a complexidade da sociedade brasileira como nenhuma outra, incluindo aí o cinema - explica Calil.
"A noite..." deve ser lançado até o fim do ano. O filme vai trazer entrevistas com artistas e jurados daquele festival, como Sérgio Ricardo, Chico Buarque, Caetano, Gil, Edu Lobo, Chico Anysio e Roberto Carlos.
- Nós acreditamos que o momento retratado, a final do III Festival da Record, ajuda a entender a ebulição cultural e política daquela época e, quem sabe?, do que aconteceu depois com nossa música, nosso país e com os fundamentais artistas que estiveram lá - diz Calil.
Mas não é só. A lista de documentários com temática musical programados para este ano ou em produção é imensa, sem preconceito com gênero, tendências ou origem. "Mamonas, o documentário", de Claudio Khans, resgata a história dos Mamonas Assassinas. "Favela on blast", de Leandro HBL e Diplo, é um retrato da cultura em torno do funk. "Contratempo", de Malu Mader e Mini Kerti, mostra a trajetória de
jovens do projeto Villa-Lobinhos. "Palavra (en)cantada", de Helena Solberg, cria uma ponte entre MPB e poesia. "Loki - Arnaldo Baptista", de Paulo Henrique Fontenelle, é uma cinebiografia do Mutante. "O homem iluminado", de Nelson Pereira dos Santos, mostra Tom Jobim a partir da visão das mulheres de sua vida. "O homem que engarrafava nuvens", de Lírio Ferreira, traz vida e obra do compositor Humberto Teixeira. "Raul, o início, o fim e o meio", de Adrian Cooper, relembra Raul Seixas. "O milagre de Santa Luzia", de Sergio Rozenblit, viaja pelo Brasil ao som da sanfona. E "L.A.P.A.", de Cavi Borges e Emilio Domingos, este em cartaz desde o ano passado, trata do hip-hop no Rio. Ufa!
Calma lá: ufa nada.
- A música é a principal vertente da nossa cultura e, portanto, acho natural o cinema focar o assunto. Fora isso, é uma forma de preservar nossa memória, já que personagens riquíssimos como Macalé, Arnaldo Baptista e Simonal, por exemplo, não são lembrados no rádio e na TV - diz João Pimentel, crítico de música do GLOBO, que, com Marco Abujamra, dirigiu "Jards Macalé: um morcego na porta principal", um dos lançamentos de 2009.
Mesmo depois de citar uma série de filmes, provavelmente ainda estamos esquecendo de algum. É que a música brasileira tem espaço para muitas outras cenas de cinema. Opa, "Cena de cinema" não é o título de uma música do Lobão? Olha aí mais um possível documentário musical.
Este vídeo foi montado com as duas apresentações do frevo GABRIELA, em 21/10/1967, noite final do histórico III Festival da Música Popular Brasileira, no Teatro Record Centro, São Paulo.
- Historicamente, o cinema brasileiro sempre buscou energia e inspiração na música popular, desde as chanchadas até "2 filhos de Francisco". No caso dos documentários recentes, existe um desejo de investigar uma manifestação cultural que não apenas é muito bem-sucedida como também reflete a complexidade da sociedade brasileira como nenhuma outra, incluindo aí o cinema - explica Calil.
"A noite..." deve ser lançado até o fim do ano. O filme vai trazer entrevistas com artistas e jurados daquele festival, como Sérgio Ricardo, Chico Buarque, Caetano, Gil, Edu Lobo, Chico Anysio e Roberto Carlos.
- Nós acreditamos que o momento retratado, a final do III Festival da Record, ajuda a entender a ebulição cultural e política daquela época e, quem sabe?, do que aconteceu depois com nossa música, nosso país e com os fundamentais artistas que estiveram lá - diz Calil.
Mas não é só. A lista de documentários com temática musical programados para este ano ou em produção é imensa, sem preconceito com gênero, tendências ou origem. "Mamonas, o documentário", de Claudio Khans, resgata a história dos Mamonas Assassinas. "Favela on blast", de Leandro HBL e Diplo, é um retrato da cultura em torno do funk. "Contratempo", de Malu Mader e Mini Kerti, mostra a trajetória de
jovens do projeto Villa-Lobinhos. "Palavra (en)cantada", de Helena Solberg, cria uma ponte entre MPB e poesia. "Loki - Arnaldo Baptista", de Paulo Henrique Fontenelle, é uma cinebiografia do Mutante. "O homem iluminado", de Nelson Pereira dos Santos, mostra Tom Jobim a partir da visão das mulheres de sua vida. "O homem que engarrafava nuvens", de Lírio Ferreira, traz vida e obra do compositor Humberto Teixeira. "Raul, o início, o fim e o meio", de Adrian Cooper, relembra Raul Seixas. "O milagre de Santa Luzia", de Sergio Rozenblit, viaja pelo Brasil ao som da sanfona. E "L.A.P.A.", de Cavi Borges e Emilio Domingos, este em cartaz desde o ano passado, trata do hip-hop no Rio. Ufa!
Calma lá: ufa nada.
- A música é a principal vertente da nossa cultura e, portanto, acho natural o cinema focar o assunto. Fora isso, é uma forma de preservar nossa memória, já que personagens riquíssimos como Macalé, Arnaldo Baptista e Simonal, por exemplo, não são lembrados no rádio e na TV - diz João Pimentel, crítico de música do GLOBO, que, com Marco Abujamra, dirigiu "Jards Macalé: um morcego na porta principal", um dos lançamentos de 2009.
Mesmo depois de citar uma série de filmes, provavelmente ainda estamos esquecendo de algum. É que a música brasileira tem espaço para muitas outras cenas de cinema. Opa, "Cena de cinema" não é o título de uma música do Lobão? Olha aí mais um possível documentário musical.
Este vídeo foi montado com as duas apresentações do frevo GABRIELA, em 21/10/1967, noite final do histórico III Festival da Música Popular Brasileira, no Teatro Record Centro, São Paulo.
Carla Bruni canta para Nelson Mandela em Nova York
NOVA YORK - Carla Bruni-Sarkozy participou no sábado à noite, em Nova York, de um concerto organizado para celebrar o aniversário do líder sul-africano Nelson Mandela. A primeira-dama da França, que cantou em público pela primeira vez depois de seu casamento com o presidente Nicolas Sarkozy em fevereiro de 2008, foi acompanhada por Dave Stewart, ex-membro do Eurythmics. Sarkozy assistiu à apresentação.
Aretha Franklin, Stevie Wonder, Queen Latifah e Cindy Lauper também estiveram, entre outros artistas, no Radio City Music Hall, para celebrar os 91 anos de Mandela, primeiro presidente da África do Sul depois do apartheid.
Mandela não esteve presente, mas enviou uma mensagem que foi exibida em um telão.
Fonte Reuters
Aretha Franklin, Stevie Wonder, Queen Latifah e Cindy Lauper também estiveram, entre outros artistas, no Radio City Music Hall, para celebrar os 91 anos de Mandela, primeiro presidente da África do Sul depois do apartheid.
Mandela não esteve presente, mas enviou uma mensagem que foi exibida em um telão.
Fonte Reuters
Zélia Duncan, Léo Jaime e Leoni encabeçam manifesto que defende fã que baixa música
Leonardo Lichote
RIO - O tom é contundente: "Quem baixa música não é pirata, é divulgador!". Extraída do manifesto Música Para Baixar (MPB), a frase sintetiza o teor do texto que, no ar há uma semana, já arregimentou mais de 800 assinaturas on-line. Entre elas, as de artistas como Zélia Duncan (que reforçou seu apoio com o recado "é fundamental que isso aconteça", ao lado de seu nome), Léo Jaime, André Abujamra, Ritchie, Roger Moreira (Ultraje a Rigor) e Leoni - um dos idealizadores do manifesto (leia na íntegra) .
- Existe um discurso oficial das gravadoras de que nós, artistas, somos prejudicados pela chamada pirataria digital. Queríamos mostrar que há uma outra forma de se olhar para a situação - explica Leoni. - O fã que baixa divulga nossa música de graça. Um ótimo exemplo é o caso do compositor americano Corey Smith, que põe suas músicas disponíveis de graça em seu site e à venda no iTunes. Ele fez um teste e tirou as canções do seu site. As vendas delas no iTunes caíram. E voltaram a crescer quando ele voltou a disponibilizá-las gratuitamente.
O manifesto nasceu no 1º Fórum Música Para Baixar, realizado no mês passado em Porto Alegre , como parte da programação do Fórum de Software Livre. Entre suas propostas, o movimento MPB defende a isenção de impostos para a música. Quer ainda debater junto ao Ministério da Cultura a flexibilização dos direitos autorais.
- Os direitos autorais nasceram para incentivar os artistas a produzirem sua obra para a sociedade. Hoje, isso se perdeu em distorções - avalia Leoni. - Uma escola pública de Taubaté foi impedida de fazer sua festa junina porque o Ecad cobrou direitos das músicas que seriam executadas. Eles não tinham dinheiro. Mas uma escola particular tem. Nesse caso, os direitos autorais servem para aumentar a distância entre o ensino público e o privado.
Assinado também por artistas novos emergentes como Macaco Bong e Teatro Mágico (outro que está entre os organizadores do documento), o manifesto define o movimento MPB como uma "reunião de artistas, produtores(as), ativistas da rede e usuários(as) da música em defesa da liberdade e da diversidade musical que circula livremente em todos os formatos e na internet".
- Estão aparecendo propostas perigosas de cercear a internet, criar uma vigilância sobre os usuários. É certo acabar com a liberdade de troca de informação da rede em nome de um negócio que está acabando? - pergunta o compositor, referindo-se às gravadoras e ao modelo fonográfico tradicional. - E, na internet, todo cuidado é inútil. É melhor eu pôr minhas músicas no meu site que encontrá-las no Lime Wire (site de compartilhamento) atribuída a outros autores, com qualidade baixa ou vírus.
RIO - O tom é contundente: "Quem baixa música não é pirata, é divulgador!". Extraída do manifesto Música Para Baixar (MPB), a frase sintetiza o teor do texto que, no ar há uma semana, já arregimentou mais de 800 assinaturas on-line. Entre elas, as de artistas como Zélia Duncan (que reforçou seu apoio com o recado "é fundamental que isso aconteça", ao lado de seu nome), Léo Jaime, André Abujamra, Ritchie, Roger Moreira (Ultraje a Rigor) e Leoni - um dos idealizadores do manifesto (leia na íntegra) .
- Existe um discurso oficial das gravadoras de que nós, artistas, somos prejudicados pela chamada pirataria digital. Queríamos mostrar que há uma outra forma de se olhar para a situação - explica Leoni. - O fã que baixa divulga nossa música de graça. Um ótimo exemplo é o caso do compositor americano Corey Smith, que põe suas músicas disponíveis de graça em seu site e à venda no iTunes. Ele fez um teste e tirou as canções do seu site. As vendas delas no iTunes caíram. E voltaram a crescer quando ele voltou a disponibilizá-las gratuitamente.
O manifesto nasceu no 1º Fórum Música Para Baixar, realizado no mês passado em Porto Alegre , como parte da programação do Fórum de Software Livre. Entre suas propostas, o movimento MPB defende a isenção de impostos para a música. Quer ainda debater junto ao Ministério da Cultura a flexibilização dos direitos autorais.
- Os direitos autorais nasceram para incentivar os artistas a produzirem sua obra para a sociedade. Hoje, isso se perdeu em distorções - avalia Leoni. - Uma escola pública de Taubaté foi impedida de fazer sua festa junina porque o Ecad cobrou direitos das músicas que seriam executadas. Eles não tinham dinheiro. Mas uma escola particular tem. Nesse caso, os direitos autorais servem para aumentar a distância entre o ensino público e o privado.
Assinado também por artistas novos emergentes como Macaco Bong e Teatro Mágico (outro que está entre os organizadores do documento), o manifesto define o movimento MPB como uma "reunião de artistas, produtores(as), ativistas da rede e usuários(as) da música em defesa da liberdade e da diversidade musical que circula livremente em todos os formatos e na internet".
- Estão aparecendo propostas perigosas de cercear a internet, criar uma vigilância sobre os usuários. É certo acabar com a liberdade de troca de informação da rede em nome de um negócio que está acabando? - pergunta o compositor, referindo-se às gravadoras e ao modelo fonográfico tradicional. - E, na internet, todo cuidado é inútil. É melhor eu pôr minhas músicas no meu site que encontrá-las no Lime Wire (site de compartilhamento) atribuída a outros autores, com qualidade baixa ou vírus.
Cafe de Los Maestros se apresenta no Rio
RIO - O projeto Cafe de Los Maestros, idealizado pelo produtor e músico argentino Gustavo Santaolalla, reúne veteranos do tango na Argentina que atuam desde as décadas de 40 e 50. Eles se apresentam no Rio de Janeiro, no Vivo Rio, na quarta-feira,(22) às 22h.
Cafe de Los Maestros -
Vivo Rio: Av. Infante Dom Henrique 85, Aterro do Flamengo - 4003-1212 (Ingresso Rápido). Qua, às 22h. R$ 30 (frisa), R$ 150 (setor 3), R$ 200 (setor 2), R$ 250 (camarote B) e R$ 300 (camarote A e setor VIP). Não recomendado para menores de 16 anos.
Veja aqui trecho do filme de Gustavo Santaolalla sobre o Cafe de Los Maestros:
Café de los Maestros - Trailer
Fonte O Globo
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Vídeo
Batida Diferente
por Durval Ferreira e Maurício Einhorn
Durval Ferreira (foto) foi um compositor, violonista, guitarrista, arranjador e produtor musical brasileiro. Como músico, em 1962 acompanhou o saxofonista estadunidense Cannonball Adderley e tocou com Sérgio Mendes no concerto do Carnegie Hall. Mais tarde dedicou-se à produção de discos comerciais. Como produtor, lançou os cantores Emílio Santiago, Joanna e Sandra de Sá. Apesar da longa carreira, só em 2004 ele gravou seu único disco solo, Batida Diferente. Morreu vítima de câncer. Maurício Einhorn é um gaitista brasileiro. Filho de judeus poloneses, também gaitistas, começou a tocar o instrumento aos cinco anos de idade. Dos cinco aos treze anos apresentava-se no Colégio Franco-brasileiro, onde estudava. Aos 10 anos, Einhorn começou a participar dos renomados programas radiofônicos de calouros da época.
"Batida Diferente" é música de Durval Ferreira.
Clique aí do lado esquerdo desta página em cima do ícone Estação Jazz & Tal e ouça pouco mais de cinco mil músicas divididas em cinco canais: música brasileira, música americana, música de filmes, música de Tom Jobim, e o canal que toca tudo misturado. Para ouvir esse último, basta clicar em cima do nome da estação e deixar rolar. Para ouvir os outros, depois que se abrir a cartela da rádio, clique em cima do que preferir.
Veja o vídeo
Em junho de 2005, Durval Ferreira se apresentou no "Parque dos Patins", na Lagoa (RJ), ao lado de Leny Andrade, com Fernando Merlino ao piano, Adriano Giffoni no baixo, e Márcio Bahia na bateria.
Durval Ferreira (foto) foi um compositor, violonista, guitarrista, arranjador e produtor musical brasileiro. Como músico, em 1962 acompanhou o saxofonista estadunidense Cannonball Adderley e tocou com Sérgio Mendes no concerto do Carnegie Hall. Mais tarde dedicou-se à produção de discos comerciais. Como produtor, lançou os cantores Emílio Santiago, Joanna e Sandra de Sá. Apesar da longa carreira, só em 2004 ele gravou seu único disco solo, Batida Diferente. Morreu vítima de câncer. Maurício Einhorn é um gaitista brasileiro. Filho de judeus poloneses, também gaitistas, começou a tocar o instrumento aos cinco anos de idade. Dos cinco aos treze anos apresentava-se no Colégio Franco-brasileiro, onde estudava. Aos 10 anos, Einhorn começou a participar dos renomados programas radiofônicos de calouros da época.
"Batida Diferente" é música de Durval Ferreira.
Clique aí do lado esquerdo desta página em cima do ícone Estação Jazz & Tal e ouça pouco mais de cinco mil músicas divididas em cinco canais: música brasileira, música americana, música de filmes, música de Tom Jobim, e o canal que toca tudo misturado. Para ouvir esse último, basta clicar em cima do nome da estação e deixar rolar. Para ouvir os outros, depois que se abrir a cartela da rádio, clique em cima do que preferir.
Veja o vídeo
Em junho de 2005, Durval Ferreira se apresentou no "Parque dos Patins", na Lagoa (RJ), ao lado de Leny Andrade, com Fernando Merlino ao piano, Adriano Giffoni no baixo, e Márcio Bahia na bateria.
OBESIDADE
A Obesidade é reconhecida hoje como importante problema de saúde pública. É doença crônica, progressiva, fatal, geneticamente relacionada e caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura e desenvolvimento de outras doenças. O número de obesos no Brasil e no mundo tem aumentado com muita rapidez.
Um estudo comparativo do Setor de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP mostrou que, em apenas duas décadas (entre 1974 e 1997), o número de pessoas obesas no Brasil quase triplicou. Outra pesquisa, feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS), indicou que o aumento da obesidade é um problema que atinge vários países.
A obesidade é uma doença que depende de vários fatores para se desenvolver: a genética da pessoa, fatores culturais e étnicos, sua predisposição biológica, estilo de vida e principalmente hábitos alimentares.
As pessoas, no entanto, engordam por uma simples questão: consomem mais calorias do que gastam. Em outras palavras, não se alimentam de forma equilibrada e muitas levam uma vida sedentária. Se o corpo não usa a energia que ingeriu, por meio de atividades físicas, essa energia se transforma em gordura e se acumula no corpo, causando o aumento de peso.
Como a perda de peso é algo que requer muita força de vontade e disciplina, melhor do que combater é prevenir. O cuidado com a obesidade começa já na infância.
Além dos problemas psicológicos, a obesidade está relacionada a problemas de saúde que incluem: Diabetes tipo 2, Doenças Cardiovasculares, Hipertensão Arterial, Colelitíase ( calculo de vesícula) e Esteatose Hepática (acumulo de gordura no fígado), complicações nas articulações como osteoartrite e gota, problemas pulmonares incluindo apnéia do sono e no sistema reprodutivo de mulheres. A obesidade também está relacionada a taxas mais altas de incidência de certos tipos de câncer.
Uma dieta saudável deve ser incentivada desde a infância, evitando que a criança apresente peso acima do normal. Além disso, atividades físicas, lazer são a melhor forma de prevenir a obesidade.
Sandra Helena Mathias Motta
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Quando o Rio queria ser Paris
José Castello
16.01.2006 | Parece muito distante, hoje, é quase um conto de fadas, o “Rio Europeu” imaginado por parte expressiva da elite carioca, na virada do século 19 para o 20. Sonho que, de certa forma, se concretizou com a reforma urbana liderada, entre 1902 e 1906, pelo prefeito Pereira Passos, esforço que visava transformar a cidade em uma pequena Paris. Eliminando cortiços, alargando ruas e avenidas, e atraindo investimentos estrangeiros, ele deu origem ao mito da Cidade Maravilhosa, que os governantes de hoje se empenham, ofegantes, em sustentar.
Era uma idéia que, já naquela época, não combinava com a realidade, e que teve como estratégia secreta a eliminação dos miseráveis e a ocultação da pobreza. Uma quimera que, ainda assim, mudou a face do Rio de Janeiro e que se transformou no grande tema dos cronistas da virada do século. Tempo de grandes cronistas, como Machado, Carlos de Laet, Raul Pompéia e o poeta Olavo Bilac, fundadores de um gênero que, mais tarde, seria praticado, entre outros, por Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Carlos Drummond de Andrade.
Este sonho de um Rio Parnasiano, com todas as contradições que comporta, é o grande tema de Olavo Bilac em suas crônicas, que de resto tratam também de grandes homens como Julio Verne, José do Patrocínio e Eça de Queiroz, e de temas universais como o suicídio, a longevidade e o vício literário. Crônicas que se oferecem aos governantes de hoje, quem sabe, como vacina contra suas invencionices e quixotadas. Elas ganham, agora, um volume especial na Coleção Melhores Crônicas, da Global Editora, dirigida por Edla Van Steen (“Melhores crônicas de Olavo Bilac”, seleção e prefácio de Ubiratan Machado, Global Editora, 192 páginas, R$ 28,00).
A destruição do passado
Fala-se em Bilac e logo lembramos do “príncipe dos poetas”, o grande líder do movimento parnasiano, que propunha, contra a literatura realista e naturalista, um retorno à herança clássica, erguendo, no lugar da desagradável realidade e suas imperfeições, os ideais europeus do Belo e da perfeição. Mas Bilac foi, além de poeta, um cronista inspirado. Começou a escrever crônicas em 1897, aos 32 anos, como substituto de Machado de Assis no posto de cronista dominical da “Gazeta de Notícias”. Publicou crônicas, ainda, na “Cidade do Rio” e no “Diário Mercantil”, de São Paulo.
A geração de Bilac experimentou uma grande aceleração do tempo, uma agitação inédita na história do país. Passou pela abolição da escravatura, pela proclamação da República, e pelos primeiros governos republicanos. Viu o Brasil crescer e se modernizar. Bilac retratou a Belle Époque carioca, que tinha como utopia um Rio regido pela beleza, pela limpeza, pela higiene e pelo equilíbrio. Ele escreveu crônicas até falecer, em 1918.
O sonho parnasiano, mesmo em uma cidade que não tinha mais que 700 mil habitantes, era, porém, inábil e exagerado. Para construir o novo Rio, para implantar ousados projetos de urbanização, saneamento e higiene, grande parte da herança arquitetônica e do passado foi destruída. Em seu lugar, as modas efêmeras, os arremedos do estilo europeu, os exageros de retórica passaram a dar as cartas e a distinguir as reputações.
As crônicas de Bilac revelam a posição ambígua que muitos intelectuais tiveram diante do sonho urbano parnasiano. Como bom príncipe do Parnaso, Bilac admirava o equilíbrio clássico e a cultura européia. Ainda assim, ele soube criticar os exageros, as manias, as poses geradas pela onda modernizadora. Como cronista, exercitou um humor leve e delicado e, ao contrário de Machado de Assis, sempre evitou o sarcasmo e a ironia. Enquanto Machado foi um cronista crítico, que fez da ironia uma arma para desmontar a pose alheia, Bilac foi um impressionista, um homem que se detinha nas impressões e nas sensações, mas que nunca perdia a delicadeza.
Apesar de suas oscilações de humor (ele mesmo se classificava como um “neuraustênico”) e das dificuldades que enfrentou por conta disso em sua vida pessoal, o poeta foi, em geral, um otimista que, entre outros arroubos cívicos, se engajou com entusiasmo em campanhas como as da vacinação e a do serviço militar obrigatório - de que o Exército o transformou, depois, em patrono.
Em suas crônicas, ele debocha da gente elegante do Rio que, nas noites abafadas, enfrentava uma maratona de corridas, regatas, o corso e os bailes e, para não perder a pose, chegava sempre exausta, na manhã seguinte, ao trabalho. Estar na moda, acompanhar a velocidade dos novos dias, cansava muito. De um amigo, que cochilava no escritório, ele ouve e registra o desabafo: “O Rio de Janeiro é atualmente uma cidade que morre de sono!” Fardo de uma elite que, precisando ganhar o pão de cada dia em horário comercial, à noite devia cumprir o ritual da nova moda.
O favorito das platéias
Outra tradição das elites que Bilac se apressa a criticar é a nova tendência irrefreável à oratória, inclinação, na verdade, de herança nordestina, como observou muitos anos depois o poeta João Cabral de Melo Neto; mas que parece ter encontrado no Rio parnasiano seu cenário ideal. A crônica tem um título saboroso: “A eloqüência de sobremesa”. Sempre interessado em classificar a desordem do mundo, Bilac escreve: “A bebida do orador político é o champagne; a do orador dos clubes, é o vinho do Porto”. Mas nenhum deles o empolga.
Ele confessa, então, que seu orador preferido era certo comendador que, ao ser eleito presidente de uma sociedade beneficente e recreativa, prometeu à platéia um discurso notável de posse. Antes dele, doze oradores discursaram, e o comendador os ouviu em profundo silêncio. Quando chegou sua vez, assombrou a platéia com uma declaração viril: “Eu cá nunca fui orador! Comigo, é pão-pão, queijo-queijo...”
Não se pode esquecer, contudo, que o próprio Olavo Bilac se tornaria depois, também, o príncipe dos conferencistas. Graças a seus dotes retóricos, ele foi escolhido, em 1906, secretário-geral da 3a Conferência Pan-Americana. Quando a moda das conferências literárias se espalhou pela cidade, arrastando multidões para os salões do Instituto Nacional de Música, o poeta logo se tornou o favorito das platéias. “O público tem os seus conferencistas preferidos”, escreve Ubiratan Machado em seu prefácio. “Olavo Bilac, com a sua voz empostada, bela dicção e talento de ator, supera a todos”.
Fascinado pelo mundo europeu - é em Paris que Bilac, para fugir de uma depressão, se refugia por dois meses em 1916, indiferente ao início da primeira grande guerra -, o príncipe do Parnaso carioca, ao ver a cidade devastada pelo Bota-Abaixo, sofre, ele também, de saudosismo. Dedica uma de suas crônicas, por exemplo, ao Grito de Sogra, um vagabundo que, durante anos, perambulou pela Avenida Central e que, certo dia, o poeta se dá conta, desapareceu. “Desapareceu o último dos nossos velhos tipos de rua”, ele se lamenta. “Já lá se foram o Vinte e Nove, o Tangerina, o Pai da Criança, o Caxuxa, sem falar dos velhíssimos, como o Castro Urso, o Natureza e o Oba.”
Bilac viu o Grito de Sogra, pela última vez, em plena Avenida, “ao sol da tarde, muito velho, muito sujo, muito murcho, vendendo balões de borracha”. Entristecido, lamenta que o Rio tenha banido de suas ruas essas figuras exóticas (que ele vê, na verdade, mais como personagens de romance de que como seres de carne e osso). “Daqui a pouco aparecerão outros”, consola-se, o eterno otimista. “Não há cidade que não possa viver sem os seus tipos de rua, sem as suas celebridades grotescas, ou sérias”. O desaparecimento do Grito de Sogra lhe inspira, ainda, uma amarga reflexão a respeito da transitoriedade: “Daqui a um mês, já ninguém se lembrará do Grito de Rua; daqui a cem anos, já ninguém se lembrará de nós - ó meus companheiros de fugaz nomeada, ó poetas, ó políticos, ó artistas, ó agitadores de idéias”.
Uma raça de namoradores
Com delicadeza, mas sem esconder sua simpatia, Bilac debocha do namorador de esquina, tipo carioca que “encostado ao lampião do gás, com o olhar erguido para uma janela”, se dedica a admirar sua musa. “Nós somos uma raça de namoradores”, diz o poeta que, em seguida, se põe a classificar a linhagem de galanteadores que se espalha pelo Rio parnasiano, divididos por ele entre o “namoro de bonde”, o “namoro de sala”, o “namoro de rua”, o “namoro à janela”, entre outros. Tipos, eles também, fadados ao desaparecimento.
Mas o saudosismo de Bilac se fixa, sobretudo, nos restos do Rio Imperial, na cidade elegante da Corte e da pompa, na nobreza expulsa pela República. Um dia, ele sente saudades da palmeira real que D. João VI plantou no Jardim Botânico. Apressa-se em visitá-la. Ao vê-la, se pergunta por que motivos poetas ainda não cantaram sua glória centenária. Bilac encara o progresso com pessimismo. É sem espanto, por exemplo, que ele vê, na cidade que se moderniza, a sobrevivência das antigas cartomantes. “Há quem pense que, com o progredir da civilização, diminui o número de supersticiosos”, escreve. “Completa ilusão. Nunca houve tantos supersticiosos e tantas superstições como agora”.
Olha com desconfiança, também, as novas modas e manias - como a do café-cantante. “Tereis notado, certamente, que, em menos de seis meses, o Rio de Janeiro ficou abarrotado de teatrinhos equívocos”, escreve. “Não há rua, por mais esconsa, por menos freqüentada, que não possua o seu café-cantante”. Toda aquela velocidade e volatilidade não combinam com os ideais pétreos do classicismo, que está sempre pronto a defender. Cheio de si, ele vocifera: “Ai! Vamos ver quanto há de durar a nova mania! E, depois desta, que outra virá?”
Em outra crônica, Bilac, agora menos amargo, exalta o gosto antigo dos cariocas pela dança, que nem os novos ventos europeus puderam apagar. “Nós somos um povo que vive dançando”, ele diz. Mas, sempre apegado ao equilíbrio e à clareza, o poeta se apressa em classificar a dança que, a seu ver, varia de bairro a bairro, nunca é a mesma. “Dançai, rapazes e raparigas! A vida é curta, o mundo é mau, o dinheiro anda arisco, a carne custa os olhos da cara, e a morte é certa”, ele escreve, em um desabafo no qual a alegria e o pessimismo se tornam uma coisa só.
Alma Carioca, em Botafogo, é uma boa surpresa
Leonardo Aversa
RIO - Confesso que tinha a maior implicância. Pela localização, pelas TVs de plasma que via da calçada... Algo me fazia resistir a entrar no Alma Carioca. "Mil vezes o Baixo Botafogo", pensava eu, com um desdém altivo que só aqueles que se julgam do lado "correto" se permitem sentir. Ainda assim, nunca deixei de admirar o projeto do bar, moderno e bonito.
No começo da semana, porém, fui lá com um amigo que se encontrava nas redondezas. Era para ser coisa rápida, uma sad hour que talvez nem chegasse a se estender pelos 60 minutos regulamentares. Reclamar da vida e tomar uns drinques, nada mais. Foi aí que, entre boas caipivodcas de lima e frutas vermelhas (R$ 12, com matéria-prima nacional), pedimos um caldinho de feijão (R$ 8): estava ótimo. "É feijão do bom e está muito bem temperado", disse o meu amigo.
Mas não era só isso. Além de bem temperado e espesso, a porção era de respeito, servida num bowl e acompanhada por torresmo e alho picadinho. "Caldinho", no caso, é apenas força de expressão: "caldão" seria mais apropriado. Entusiasmados, decidimos arriscar a porção de linguiça mineira acebolada (R$ 15) e tivemos, mais uma vez, uma farta surpresa. Para garantir que realmente estava tudo ótimo, repetimos o feijão...
O ótimo atendimento, o lugar bonito e agradável (as TVs são mantidas sem som, salve, salve!), a comida boa, o álcool - tudo, enfim, contribuiu para tornar happy uma hour que se pretendia sad. Ponto para o Alma Carioca.
Alma Carioca Bar e Grill:
Praia de Botafogo 470, Botafogo - 2266-3245. Diariamente, do meio-dia às 2h. C.C.: Todos.