2.15.2010

Ex-túmulo do samba

RUY CASTRO
RIO DE JANEIRO - Nos últimos anos, em que o Carnaval retomou as ruas do Rio e dezenas de novos blocos e bandas vieram juntar-se aos veteranos Simpatia É Quase Amor, Carmelitas, Boitatá, Barbas e aos veteraníssimos Bola Preta e Banda de Ipanema, um único bairro parecia avesso à folia: o Leblon.
Era incompreensível. Enquanto Ipanema, Copacabana, Botafogo, Laranjeiras, Jardim Botânico, Santa Teresa, o Centro e toda a zona norte se entregavam à alegria, concentrando multidões eufóricas em torno de sambas e marchinhas, o Leblon, onde moro, era chamado, e com justiça, de "túmulo do samba". Certo, aqui abundam empresários, banqueiros, escritores e outros depressivos e doentes do pé, mas onde estavam os rapazes e moças de que o Leblon também é cheio? Abrilhantando o Carnaval dos bairros vizinhos, claro.
Apenas duas vozes, muito tímidas, tentaram quebrar o silêncio do sepulcro nesses anos todos: a do Empurra Que Pega -o próprio nome já era uma súplica a adesões-, um pequeno bloco dedicado a ensaiar com grande empenho todas as noites ao pé da avenida Niemeyer, mas que nunca vi nas ruas; e a da querida e modesta banda Azeitona Sem Caroço, da rua Dias Ferreira.
Mas nada é para sempre, e estava escrito que este tríduo nos traria duas surpresas inacreditáveis: a prisão de um político, o governador do DF, José Roberto Arruda, acusado de corrupção em último grau, e a triunfal conversão do Leblon ao Carnaval -com os novos blocos Maginô Agora Amassa (cujo enredo homenageia Nelson Rodrigues), Areia e Me Esquece sacudindo o bairro e abrindo alas para o Empurra e o Azeitona. Evoé: não somos mais o túmulo do samba!
Pelo menos um desses blocos, inconformado com o fim do Carnaval, dará um jeito de desfilar na Quarta de Cinzas. Mas duvido que Arruda ainda esteja na cadeia até lá.

CARNAVAL DE OUTRORA : OS CARIOCAS

OS CARIOCAS com Vera Lúcia, no flime "Barnabé tu és meu" de 1951

Livro historia harmonias e dissonâncias do Rio

Resenha de Livro
Título: Canções do
Rio A Cidade em
Letra e Música
Autor: Marcelo
Moutinho
(Organização)
Editora: Casa da
Palavra
Cotação: * * * 1/2

"Cidade maravilha / Purgatório da beleza e do caos", na definição do refrão lapidar de Rio 40 Graus (Fernanda Abreu, Fausto Fawcett e Laufer), o Rio de Janeiro vem sendo (de)cantado em versos - com maior ou menor dose de lirismo - pelos compositores cariocas desde a formatação de uma música brasileira urbana, nas primeiras duas décadas do século 20. Recém-editado pela Casa da Palavra, com organização de Marcelo Moutinho, o livro Canções do Rio - A Cidade em Letra e Música historia a abordagem da metrópole - ainda a capital cultural do Brasil - sob a ótica de compositores de vários estilos musicais. Ensaios assinados por seis nomes ligados à música - em geral, jornalistas especializados - expõem harmonias e dissonâncias cariocas retratadas em músicas. No texto inicial Dos Primórdios à Era de Ouro, João Máximo enfatiza a visão mais romantizada e idealizada com que bairros como a Lapa e a mítica Mangueira eram cantados na primeira metade do século 20. E, no tópico mais surpreendente do texto, ressalta que o bairro mais cantado por Noel Rosa (1910 - 1937), o Poeta da Vila, não foi sua Vila Isabel, mas, sim, a Penha, citada inclusive no antológico samba Feitio de Oração, composto com Vadico. Na sequência, Sérgio Cabral escreve sobre as marchinhas, gênero carnavalesco que pôs o bloco na rua, com ironia e visão mais crítica, para abordar problemas como a falta d'água e a superlotação dos trens. Por sua vez, o compositor Nei Lopes expõe superficialmente as visões do Rio sob a ótica dos sambistas, se permitindo incluir seu nome entre os autores citados (com todo o direito, diga-se, pois Nei já retratou a cidade, em especial o subúrbio, com muita propriedade em vários de seus sambas). O mérito do texto do compositor é oferecer um panorama mais atual do assunto, mostrando que a cidade - já partida pela violência que escapa dos morros para o asfalto - é alvo tanto de visões mais desiludidas (Nomes de Favela, samba de Paulo César Pinheiro, lançado pelo autor em 2003 - e não em 2004 como escreve Nei Lopes) como de abordagens ainda romantizadas de bairros como Madureira (O Meu Lugar, Arlindo Cruz e Mauro Diniz, 2008). Em seguida, Ruy Castro gasta linhas sobre os vários possíveis pontos de partida da Bossa Nova antes de entrar propriamente no assunto do livro: o Rio que, no caso da bossa, sempre foi o Rio ensolarado de céu e mar, cantado com leveza e tom coloquial (até a turma dissidente enveredar, já na década de 60, por abordagens mais sociais da cidade). E, se o Rio foi ficando cada vez mais sem harmonia por conta da escalada da violência provocada pela injustiça social, houve compositores que abordaram tais dissonâncias com maestria - como relata Hugo Sukman num dos melhores textos do livro. Chico Buarque foi um deles, recorrendo ao lirismo em Estação Derradeira (1987) para cantar as leis e códigos informais que regem os morros. Assunto - a bem da verdade, como lembra Sukman - já tratado de forma mais direta e pioneira pela dupla João Bosco e Aldir Blanc em Tiro de Misericórdia, samba que deu título ao álbum lançado por João Bosco em 1977. Por fim, Silvio Essinger relata - em texto saboroso e cronológico - a visão do Rio na ótica de roqueiros, rappers e funkeiros, mostrando que a descontração carioca dos chopes pedidos pela Blitz foi cedendo lugar à realidade nua e crua cantada por grupos como o Rappa. Sob qualquer ótica, contudo, o Rio de Janeiro às vezes parece continuar lindo para os poetas musicais, pois, como já sentenciou Tim Maia (1942 - 1998), "Do Leme ao Pontal Não Há Nada Igual"...

Unidos da Tijuca levanta a Marquês de Sapucaí e ouve 'É campeã!'

Madalena Romeo e Nice de Paula
RIO - A Imperatriz Leopoldinense reviveu um prazer de antigos carnavais. Por alguns segundos, as caixas de som ficavam em silêncio, e a bateria só ficava ao som de atabaques. A tática de mestre Marcone funcionou e deu um encanto a mais à escola de Ramos. Ouvir o povo cantar é divino, como o enredo Brasil de Todos os Deuses. Acompanhe os desfiles do primeiro dia do Grupo Especial em tempo real.
O segundo carro, do Deus Tupã, também chamou atenção. A maioria dos destaques vieram fantasiados de índios e índias seminus.
- A mulherada das arquibancadas aos camarotes pediam para a gente dar uma viradinha para mostrar o bumbum. Adorei! Dá uma sensação de liberdade - comentou o bancário Leonardo Pinto, 38 anos.
(Um dos autores do samba-enredo fala da alegria de desfilar)
No entanto, o carro abre alas apresentou problema ainda na concentração. Foi preciso reforço para arrastá-lo até o fim da Avenida, o que contribuiu para abrir buracos no desfile da escola.
A eterna rainha da bateria, Luiza Brunet, trocou este ano seu tradicional maiô por um biquini prata que deixava o corpo bem mais a mostra.
- O tamanho da roupa é a metade do que eu costumo usar. Dá um pouco de vergonha, mas tive que enfrentar porque foi uma orientação do carnavalesco.
O desfile marcou a volta do carnavalesco Max Lopes, 17 anos após conquistar o campeonato com Liberdade! Liberdade!, e de Dominguinhos do Estácio. Segundo Dominguinhos, não é bem uma volta.
- Estava no banco e me botaram de novo no campo. Se deus quiser vou continuar na Imperatriz. Estou muito feliz - disse o intérprete, chorando ao final do desfile.

Madonna no carnaval do Rio

A musa pop foi acompanhada do namorado Jesus Luz
Madonna conversa com o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral