8.13.2009

Artistas em clima de celebração na gravação do DVD ‘Baile do Simonal’

Christina Fuscaldo

O mais bacana da gravação do DVD “Baile do Simonal”, que teve Simoninha e Max de Castro como anfitriões na noite desta terça-feira (11/08/09), no Vivo Rio, foi o clima de alegria e comemoração entre os artistas convidados. Maria Rita chorou de emoção ao falar de sua relação (próxima) com a família Simonal.
“Simoninha e Max são quase como irmãos para mim. A gente se conhece desde muito pequeno. Tô até ficando emocionada… Simonal tem uma história muito importante, que fala não só da realidade daquele tempo, mas também do ser humano. Naquele momento, ninguém foi sensível ou capaz de tirá-lo de uma encrenca que não teve necessidade. Ficou uma dívida com aquele artista genial”, disse a filha de Elis Regina.
Por ter acompanhado a história do mestre de longe, Rogério Flausino opinou sem se comprometer. Uma repórter perguntou: “Você tem certeza de que ele foi injustiçado?”
“Eu não posso ter certeza, mas sempre ouvi na minha casa: ‘Não acredito muito, não’. E todo mundo dizia: ‘Eu também não.’ Muito tempo se passou, mas eu nunca acreditei, não. Acho que teve uma vontade geral que isso fosse verdade, mas acho que não é.”
Sobre “Meia-volta (Ana Cristina)”, o vocalista do Jota Quest comentou:
“A música que o Max escolheu pra mim, eu não conhecia. Fala de dar a volta por cima. Ele disse que eu ia defender ela bem. Ouvi e faz uns 15 dias que só escuto essa música. É bem Jota: simples e otimista.”
Simoninha era só alegria no camarim, antes do evento.
“Já estou emocionado com o tanto que já trabalhei. A gente tem condição de realizar bem este show. E tenho certeza de que ele (Simonal) está feliz. Quero devolver essa alegria que ele deu pra gente através da música”, declarou o primogênito. “Vou cantar ‘Aqui é o país do futebol’ e ‘Tributo a Martin Luther King’, que ouvia muito quando era pequeno. Dedico esta ao meu pai e aos meus filhos (os gêmeos Tom e Gabriel, de três anos).”
Simoninha foi elegante ao falar sobre a suposta “injustiça” sobre Simonal, debatida no documentário “Ninguém sabe o duro que dei”, de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal:
“Uma brincadeira que aprendi com Jorge Ben Jor é dizer que não me preocupo com isso. Me preocupo em fazer com que a música de Simonal esteja cada vez mais dentro das pessoas. Como Max disse no fim do filme: ‘A gente está aqui para celebrar a alegria que ele nos deixou’.”
Max de Castro engrossou o coro:
“A gente está muito feliz com tudo o que vem acontecendo. Nada é forçando a barra. Fomos pegos de surpresa porque a ideia surgiu do presidente da EMI, Marcelo castello Branco, que curtiu o filme e nos perguntou se tínhamos interesse. Ligamos para algumas pessoas que nem têm ligação direta com Simonal e sentimos um feedback positivo. Refizemos alguns elos. Lulu Santos, por exemplo, disse que tinha 14 anos quando foi ao show do meu pai no Maracanãzinho, em 1969. Bi Ribeiro (Paralamas do Sucesso) contou que encontrou o Simonal no aeroporto, uma vez. D2 trouxe os filhos para a passagem de som porque eles vivem cantando ‘Nem vem que não tem’. Modéstia à parte, fomos felizes na escolha das músicas. D2 está cantando essa, que tem super a ver com ele. Os meninos do Exaltasamba (Péricles e Thiago) ficaram com o samba ‘Na galha do cajueiro’. A produção deu trabalho, mas valeu a pena”, disse Max.
Previsto para ser lançado pela EMI ainda este ano, o DVD tem direção do casseta Cláudio Manoel e os filhos do “rei da pilantragem” na direção musical e e produção.
Veja o set list do show:
1 – LULU SANTOS ZAZUEIRA (virtual)
2 – OS PARALAMAS MUSTANG COR DE SANGUE
3 – ED MOTTA LOBO BOBO
4 – MART’NÁLIA MAMÃE PASSOU AÇÚCAR EM MIM
5 – FREJAT VESTI AZUL
6 – FERNANDA ABREU NA TONGA DA MIRONGA DO CABULETÊ
7 – ROGÉRIO FLAUSINO MEIA-VOLTA (ANA CRISTINA)
8 – SIMONINHA AQUI É O PAÍS DO FUTEBOL
9 – SIMONINHA TRIBUTO A MARTIN LUTHER KING
10 – SAMUEL ROSA CARANGO
11- MARIA RITA QUE MARAVILHA
12 – MARCELO D2 NEM VEM QUE NÃO TEM
13 – MAX DE CASTRO MEU LIMÃO, MEU LIMOEIRO
14 – MAX DE CASTRO MENININHA DO PORTÃO
15 – DIOGO NOGUEIRA ESTÁ CHEGANDO A HORA
16 – SANDRA DE SÁ BALANÇO ZONA SUL
17 – ALEXANDRE PIRES SÁ MARINA
18 – PÉRICLES E THIAGO NA GALHA DO CAJUEIRO
19 – CAETANO VELOSO REMELEXO
20 – SEU JORGE PAÍS TROPICAL
21 – ORQUESTRA IMPERIAL TEREZINHA

E por falar em golpe militar...

FERREIRA GULLAR

A radicalização de que se diziam "revolucionários" abriu caminho para o golpe

EM DEBATE RECENTE , na televisão, ouvi de historiadores e estudiosos de nossa vida política afirmações acerca do golpe de 1964 que me deixaram surpreso. Embora não tenha a autoridade daqueles debatedores, eu, por ter vivido e acompanhado de perto aqueles acontecimentos, tenho visão diferente da deles em alguns pontos da interpretação que preponderou durante aquela discussão. Um dos debatedores afirmou que o presidente João Goulart, antes de ser deposto, estava de fato preparando um golpe nas instituições democráticas para manter-se no poder. Tal afirmação, em última instância, justificaria o golpe militar, pois seria na verdade um contragolpe. O autor dessa tese deve ter se baseado em algum documento ou informação que desconheço.
De qualquer modo, incorre num grave equívoco, desconsiderando, assim, fatos notórios que determinaram a derrubada do presidente da República pelos militares. O testemunho do general Jarbas Passarinho, que integrou o ministério da ditadura, não deixa dúvida quanto à motivação do golpe, que teria sido dado para impedir a instauração, no Brasil, de um regime comunista, coisa que Jango nunca foi.
Como os supostos indícios dessa nova "intentona" não tinham apoio na realidade, fica evidente que, da parte dos militares, o propósito de depor João Goulart foi decisão tomada desde que ele assumiu o governo. Aliás, aqueles mesmos generais tudo fizeram para impedir que ele o assumisse, após a renúncia de Jânio Quadros.
Se o conseguiu, foi graças à reação de Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, que conquistou o apoio do comandante do Terceiro Exército, ali sediado. A solução conciliatória foi a adoção de um parlamentarismo fajuto, mais tarde revogado pela vontade popular, num plebiscito. Com isso, Jango retomou os plenos poderes de presidente da República, o que os generais engoliram com dificuldade e se prepararam para derrubá-lo.
Foi o que aconteceu de fato, como é verdade também que o fortalecimento de Jango estimulou as forças de esquerda a intensificarem suas ações em favor das chamadas "reformas de base", como a reforma agrária e teses anti-imperialistas, que assustavam setores conservadores.
Em função disso, Jango se tornou uma espécie de refém das forças que o apoiavam, particularmente o sindicalismo reformista, que promovia greves sucessivas em todo o país. O centro do Rio de Janeiro se tornou uma praça de guerra, impedindo o funcionamento do comércio e das repartições públicas. Naturalmente, esses fatos contribuíram para o fortalecimento das forças anti-Jango e a ampliação da conspiração que veio a derrubá-lo.
Considerando as necessárias diferenças e proporções, a situação de Goulart antecipou o que ocorreria, mais tarde, com Salvador Allende, no Chile, também vítima da ação impensada daqueles que deveriam apoiá-lo. Se é verdade que a situação brasileira, em 1964, não era idêntica à do Chile em 1973, é certo também que, aqui como lá, a radicalização insensata de setores que se diziam "revolucionários" minou a autoridade do governo constitucional e abriu caminho para o golpe militar.
No caso brasileiro, um desses involuntários aliados dos golpistas foi aquele mesmo Leonel Brizola, que o salvara em 1962. A pretensão de se tornar o sucessor do seu cunhado ("Cunhado não é parente, Brizola para presidente") levou-o a uma insensata campanha para retirar do Ministério da Fazenda o paulista Carvalho Pinto, que funcionava como uma espécie de avalista do governo junto à classe empresarial.
A sua demissão abriu caminho para a derrubada de João Goulart, desgastado pelas greves e por um início de rebelião dos Fuzileiros Navais, comandados pela almirante Aragão, que manifestava claramente apoio às reformas exigidas pelas forças de esquerda. A um de seus ministros, Jango confidenciou: "Esses Fuzileiros Navais vão terminar me tirando do governo".
Desse modo, Jango terminou numa situação crítica: vendo avançar a conspiração que visava derrubá-lo, teria que reprimir as greves e as manifestações de setores militares que o apoiavam, mas sabia que, se o fizesse, não evitaria o golpe já em curso. Daí o comício na Central do Brasil e o encontro com os sargentos no Automóvel Clube, que só serviram para precipitar sua queda.
Dizer que o presidente João Goulart é que pretendia golpear as instituições é não entender o que de fato ocorreu e dar crédito à versão dos golpistas.