7.09.2009


PAZ SEM VOZ É MEDO

Na última semana de junho foi amplamente divulgado um evento previsto para acontecer no domingo, dia 28 do mesmo mês, no Morro Santa Marta, favela em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O convite chamava para uma roda de funk, que começaria às 16 horas em uma praça do morro. O material de divulgação informava que o objetivo do encontro era “chamar atenção para a proibição das manifestações de cultura popular, impossibilitadas de acontecer desde o início da ocupação do morro pela polícia”. Na sexta-feira, dia 26, dois dias antes do evento, a organização foi comunicada que a roda de funk havia sido proibida pela polícia.

Convite da Roda de Funk que foi canceladaA roda de funk que não aconteceu no Santa Marta foi organizada pela Associação de Profissionais e Amigos do Funk (ApaFunk) e militantes do movimento Funk é Cultura. Eles vêm organizando eventos nesse estilo há pelo menos um ano e a roda já passou por universidades, diversas comunidades e até na Central do Brasil, no Centro do Rio. Promover uma roda de funk, aliada a outros elementos da cultura dos espaços populares, como o grafite e apresentações de break, foi uma das formas que aqueles que vêm lutando pelo reconhecimento do funk como expressão cultural, encontraram para se manifestar e promover o ritmo.

A roda prevista para acontecer no Santa Marta, entretanto, tinha um objetivo mais específico do que levar adiante a luta que vem sendo conduzida por MC’s e militantes. Lá, como bem explicitava o convite, a intenção era se manifestar contra proibições que vêm sendo impostas em favelas recém ocupadas por forças policiais. Semanas antes, o movimento havia feito o mesmo na Cidade de Deus, comunidade ocupada de forma semelhante.

Em declarações dadas a jornais, o comandante do 2º Batalhão da PM (Botafogo) disse que a roda foi proibida porque não é permitida a realização de bailes naquela região. O comandante só não levou em conta que o que havia sido planejado para acontecer no Santa Marta não era um baile funk, mas sim um encontro entre artistas e moradores, à tarde, gratuito, sem fins lucrativos, numa praça e ao som de funk, mas também de rap e o que mais surgisse.

A proibição imposta no Santa Marta nos remete à pior face do Estado, a do autoritarismo e da discriminação. Como imaginar uma cidade diferente e a consolidação de novas sociabilidades quando a polícia proíbe manifestações da cultura popular? Como concretizar o exercício da cidadania se o próprio Estado promove ações que inviabilizam a superação de estereótipos?

Os acontecimentos no morro contradizem as afirmações de “promoção da cidadania” e “pacifismo” tão presentes no discurso que permeia as recentes incursões policiais no Rio de Janeiro. Cabe ao Estado repensar este tipo de atuação e a todo o resto da sociedade a tarefa de não admitir que fatos como esses se repitam. Se o desejo de todos é uma cidade una, de paz e transformada, apenas através da intervenção unificada dos sujeitos é que será possível construí-la, não por meio do medo ou da opressão.
e-mail para esta coluna botecosdovaledocafe@gmail.com

Bambas do samba sobem aos palcos cariocas


José Raphael Berrêdo

RIO - Os fãs de samba têm a difícil missão de escolher entre shows de três bambas nesta sexta-feira (10.07): Zeca Pagodinho, Beth Carvalho ou Paulinho Viola, que tocam respectivamente no Citibank Hall, no Circo Voador e no Canecão. O único que dá uma colher de chá e se apresenta novamente (outras cinco vezes) é Paulinho da Viola, em cartaz de sexta a domingo até o dia 19 de julho. Mais uma opção sem concorrência é Alcione, que recebe Emílio Santiago, Mat'nália e Nana Caymmi no palco do Canecão nesta quarta-feira (08.07), com arrecadação em prol das vítimas das enchentes no Maranhão.
Até Zeca Pagodinho ficaria em cima do muro na hora de escolher entre as apresentações que concorrem com a gravação do DVD de seu show "Uma prova de amor", esta sexta no Citibank:
- Eu iria me multiplicar e ir nos dois - esquiva-se.
Depois de turnê bem sucedida pelas principais cidades do país, o álbum do cantor vai virar DVD com participações da Velha Guarda e de Jorge Ben Jor.
- Com certeza é um presente daquele lá de cima. Junto com a banda Muleke (que acompanha Zeca) vamos "botar fogo" no Citibank - promete.

O show será dividido em blocos que irão representar as várias "provas de amor" feitas pelo artista por meio da música. O povo brasileiro, os mitos, a malandragem e a mulher estão entre os homenageados no show com direção musical de Paulão 7 Cordas e arranjos metais de Eduardo Neves. No total, serão 24 canções, entre inéditas e velhos sucessos.
Enquanto Zeca grava seu DVD, Paulinho da Viola apresenta para o público o show que deu origem ao premiado Acústico MTV, nas lojas e nas rádios desde 2007. O cantor fica no Canecão até dia 19, às sextas, sábados e domingos.
No Circo Voador, também esta sexta, Beth Carvalho faz show com repertório dedicado à Lapa, com participação da cantora e compositora Mariana Aydar. Juntas, as duas vão de "Desesperar Jamais" (de Ivan Lins e Vitor Martins) e "Maior é Deus" (de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro), gravadas por ambas.

- Preparei um repertório especial para os fãs, com um pout-pourri de sambas-enredo, além de fazer homenagem a Ataulfo Alves, mestre mineiro que completaria 100 anos este ano - conta a cantora, que vai interpretar "Ai que saudades da Amélia" e "Leva meu samba", do compositor que completaria cem anos em 2 de maio deste ano.
Beth faz ainda outro pout-pourri, de marchinhas de carnaval, além de lembrar sucessos como "Coisinha do pai" (Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos), "O que é o que é" (Gonzaguinha), "Folhas secas" (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito) e "As rosas não falam" (Cartola). A apresentação faz parte do projeto TAM Paixão pelo Rio.
A primeira dos quatro bambas a se apresentar, nesta quarta, é Alcione, em um show beneficente para arrecadar fundos para as vítimas das enchentes no Maranhão, estado natal da artista. A Marrom recebe convidados ilustres como Emílio Santiago, Mat'nália e Nana Caymmi para cantar sucessos da carreira e mostra um pouco do repertório do disco "Acesa", que será lançado no fim do mês. ( Leia mais na coluna Café Impresso )