

Convite da Roda de Funk que foi canceladaA roda de funk que não aconteceu no Santa Marta foi organizada pela Associação de Profissionais e Amigos do Funk (ApaFunk) e militantes do movimento Funk é Cultura. Eles vêm organizando eventos nesse estilo há pelo menos um ano e a roda já passou por universidades, diversas comunidades e até na Central do Brasil, no Centro do Rio. Promover uma roda de funk, aliada a outros elementos da cultura dos espaços populares, como o grafite e apresentações de break, foi uma das formas que aqueles que vêm lutando pelo reconhecimento do funk como expressão cultural, encontraram para se manifestar e promover o ritmo.
A roda prevista para acontecer no Santa Marta, entretanto, tinha um objetivo mais específico do que levar adiante a luta que vem sendo conduzida por MC’s e militantes. Lá, como bem explicitava o convite, a intenção era se manifestar contra proibições que vêm sendo impostas em favelas recém ocupadas por forças policiais. Semanas antes, o movimento havia feito o mesmo na Cidade de Deus, comunidade ocupada de forma semelhante.
Em declarações dadas a jornais, o comandante do 2º Batalhão da PM (Botafogo) disse que a roda foi proibida porque não é permitida a realização de bailes naquela região. O comandante só não levou em conta que o que havia sido planejado para acontecer no Santa Marta não era um baile funk, mas sim um encontro entre artistas e moradores, à tarde, gratuito, sem fins lucrativos, numa praça e ao som de funk, mas também de rap e o que mais surgisse.
A proibição imposta no Santa Marta nos remete à pior face do Estado, a do autoritarismo e da discriminação. Como imaginar uma cidade diferente e a consolidação de novas sociabilidades quando a polícia proíbe manifestações da cultura popular? Como concretizar o exercício da cidadania se o próprio Estado promove ações que inviabilizam a superação de estereótipos?
Os acontecimentos no morro contradizem as afirmações de “promoção da cidadania” e “pacifismo” tão presentes no discurso que permeia as recentes incursões policiais no Rio de Janeiro. Cabe ao Estado repensar este tipo de atuação e a todo o resto da sociedade a tarefa de não admitir que fatos como esses se repitam. Se o desejo de todos é uma cidade una, de paz e transformada, apenas através da intervenção unificada dos sujeitos é que será possível construí-la, não por meio do medo ou da opressão.
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