10.19.2009
Gravuras se destacam em exposição com 300 obras do artista franco-russo Marc Chagal, no MNBA
Eduardo Fradkin
RIO - Até o dia 6 de dezembro, o Museu Nacional de Belas Artes será a casa de 300 obras do artista russo naturalizado francês Marc Chagall (1887-1985). Qualificada como a maior exposição desse artista já feita no Brasil, "O mundo mágico de Marc Chagall - O sonho e a vida" foi vista por 58 mil pessoas em Belo Horizonte, onde esteve em cartaz até 4 de outubro. Este é o maior evento do ano no MNBA, onde o grande destaque da programação até agora tinha sido uma mostra de fotos do carioca Alécio de Andrade.
Segundo o curador Fabio Magalhães, a exposição de Chagall traz pinturas representativas, porém os itens de maior interesse são os conjuntos de gravuras.
- Ele levou muitos anos ilustrando a Bíblia, e a coleção completa de gravuras aquareladas à mão veio ao Brasil (são 105). Outras três coleções importantes que vieram são as gravuras ilustrativas para a fábula "Daphnis et Chloé" (42 imagens), para o livro de Nikolai Gogol "As almas mortas" (96) e para as fábulas de La Fontaine (23). Quando ele chegou em Paris, em 1923, havia lá a vanguarda mais radical, mais transgressora. Os seus amigos mais próximos foram escritores como Apollinaire e Max Jacob, e não pintores. Assim, as gravuras ilustrativas dele eram feitas com paixão, pois ele amava a literatura. Chagall, assim como Miró, foi tão importante como pintor quanto foi como gravador - diz Magalhães, que é ex-curador-chefe do Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Na mostra, há uma gravura intitulada "O casamento", da primeira série que Chagall fez, chamada "Minha vida", que tem uma curiosa dedicatória a Mário de Andrade. Diz: "A meu amigo desconhecido". O curador explica que Andrade era admirador de Chagall e provavelmente comprou aquela gravura por intermédio de um amigo comum, e não de um marchand.
'O mundo mágico de Marc Chagall - O sonho e a vida'
@ Museu Nacional de Belas Artes. Até 6 de dezembro.
Av. Rio Branco 199, Centro - 2240-0068. Ter a sex, das 10h às 18h. Sáb, dom e feriados, do meio-dia às 17h. Grátis (aos domingos) e R$ 5.
Barraca itinerante do Luizinho Mandarino é mais bar do que muito pé-sujo estrelado por aí
Juarez Becoza
RIO - Antes de mais nada: a coluna de hoje não é sobre um botequim, propriamente. Não tem garçom, não tem mesa, não tem balcão. Nem endereço fixo possui o lugar que ora apresento. Mas é preciso fazer justiça: a barraca itinerante do Luizinho Mandarino é mais bar do que muito pé-sujo estrelado por aí.
Aos 47 anos, Luizinho vive de vender discos e bebidas em eventos musicais desde a década de 90. Depois de organizar festas do PT nos tempos pré-Lula presidente, e de tocar o bar do Clube Condomínio quando o Monobloco arrastava multidões lá para os fundos do Jardim Botânico, hoje ele ganha a vida nas ruas. Mais precisamente, em dois pontos concorridos nas manhãs de fins de semana: a feira do chorinho da Rua General Glicério, ao sábados, e a roda de choro Arruma Meu Coreto, da Praça São Salvador, aos domingos.
A Barraca do Luizinho é famosa, principalmente, pelas caipirinhas de primeira que serve (R$ 7). Feitas com gelo filtrado, frutas frescas e capricho pelo Afonso, dono de uma mão certeira para misturas à base de cachaça ou vodca. E com direito a mimos de deixar o barman do Copa com inveja: se você não quer açúcar nem gosta de adoçante, Afonso faz sua caipirinha com mel.
Aliás, em que outra barraca de rua, caro leitor, você encontra Anísio Santiago, a melhor cachaça do país (R$ 30, a dose), ao lado de um CD raro de Ernesto Nazareth? Só no Luizinho mesmo. Que ainda tem uma boa carta de cervejas nacionais e importadas, a preços muito razoáveis se considerarmos a qualidade do som ao vivo que ouvimos, de graça, bem ali do lado.
Barraca do Luizinho:
Rua General Glicério, Laranjeiras, das 11h às 15h. Dom, na Praça São Salvador, Flamengo.
Sáb,das 11h às 15h. Tel: 9805-7525. C.C.: M e V
Isabella Taviani sobe ao palco do Teatro Rival no projeto Palco MPB
RIO - Isabella Taviani é a atração desta segunda-feira (19.10) do projeto Palco MPB. A cantora sobe ao palco do Teatro Rival, às 19h, para cantar as canções do álbum "Meu coração não quer viver batendo devagar". Apenas as cem primeiras pessoas entram gratuitamente (as senhas serão distribuídas a partir das 13h30m).
No repertório, estão "Foto Polaróide", "Ternura", "Luxúria", "Diga sim pra mim" e "De qualquer maneira", entre outras. Isabella conversa ainda com o locutor Fernando Mansur sobre turnê, carreira e projetos.Isabella Taviani
@ Teatro Rival Petrobras.Rua Álvaro Alvim 33, Cinelândia - 2524-1666. Seg, às 19h (distribuição de senhas a partir das 13h30m). Apenas as cem primeiras pessoas entram gratuitamente. Não recomendado para menores de 18 anos.
Tico Tico Duo
Filha da produtora cultural Ana Sabugosa, Lia lança seu segundo disco, Pra Quem Quiser. O repertório tem músicas de novos compositores, entre elas a faixa-título, de Martha V. 18 anos. Posto 8 (386 pessoas). Avenida Rainha Elizabeth, 769, Ipanema, 2523-1703. Terça (20), 21h30. R$ 10,00 (para quem mandar e-mail para informativoliasabugosa @gmail.com) e R$ 25,00. Bilheteria: a partir das 16h (ter.). Cc: A, M e V. Cd: todos. IC. www.posto8.blogspot.com.
JOÃO DONATO
Nas comemorações pelos 75 anos de vida e sessenta de carreira, Donato volta a apresentar o espetáculo inspirado no disco A Bad Donato, incursão muito particular do pianista pelo funk gravada nos Estados Unidos, em 1970, ao lado de nomes como o saxofonista Bud Shank. Nesta apresentação, o músico divide o palco com o baterista Robertinho Silva, o contrabaixista Luiz Alves, o saxofonista e flautista Ricardo Pontes, o trompetista José Arimatéa e o trombonista Marlon Sette. Seu filho, Donatinho, completa o time na programação eletrônica. 14 anos. Sesc Ginástico (513 lugares). Avenida Graça Aranha, 187, Centro, 2279-4027, metrô Carioca. Terça (20) e quarta (21), 19h. R$ 20,00. Bilheteria: a partir das 13h (ter. e qua.). http://www.sescrio.org.br/.
ANNA LUISA
Em turnê de lançamento do segundo CD-solo, Girando, a jovem cantora exibe o clipe de Tonta e versões para Arnaldo Antunes (Socorro), Baby do Brasil e Pepeu Gomes (Fazendo Música, Jogando Bola) e Gilberto Gil (Parabolicamará). 18 anos. Centro Cultural Carioca (200 lugares). Rua do Teatro, 37, Centro, 2252-6468, metrô Carioca. Quarta (21), 21h. R$ 20,00.
MARCOS SACRAMENTO
Na companhia apenas do violonista Luiz Flávio Alcofra, o cantor mostra os sambas de seu último disco, Na Cabeça. Completam o repertório Cai Dentro, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, Último Desejo, de Noel Rosa, e Sim, de Cartola e Oswaldo Martins. Livre. Teatro Glauce Rocha (278 lugares). Avenida Rio Branco, 179, Centro, 2220-0259. Quarta (21), 19h. R$ 15,00. Bilheteria: a partir das 14h (qua.).
ARNALDO BRANDÃO
Um dos pioneiros do rock nacional, o baixista, cantor e compositor que integrou a A Bolha e Os Doces Bárbaros - e depois criou grupos como Brylho e Hanoi Hanoi - lança seu terceiro disco-solo, Amnésia Programada. O trabalho serve de base para o repertório da apresentação, mas também estão previstos sucessos de sua autoria como Rádio Blá, com Lobão e Tavinho Paes, O Tempo Não Para, em parceria com Cazuza, e Noite de Prazer, com Cláudio Zoli. 18 anos. Cinematheque Música Contemporânea (240 lugares). Rua Voluntários da Pátria, 53, Botafogo, 2286-5731, metrô Botafogo. Terça (20), 21h. R$ 20,00. Cc: todos. Cd: todos. www.matrizonline.com.br.
CARLINHOS E GUILHERME VERGUEIRO
Parceiro de grandes nomes da música, Carlinhos gravou pela primeira vez um disco ao lado do irmão, o exímio pianista Guilherme. Em Mano a Mano, o samba jazz afiado da dupla fala alto. Há inéditas de Carlinhos como Arrepio no Braço, com João Nogueira, Maria e Ademar, com Paulo Cesar Feital, e Nossa Aliança, com Sombrinha e Gordinho. Os músicos que participaram das gravações sobem ao palco: Laudir de Oliveira (percussão), Carlinhos Sete Cordas (violão) e Thiago Silva (bateria). 16 anos. Teatro Rival Petrobras (472 lugares). Rua Álvaro Alvim, 33, Cinelândia, 2240-4469, metrô Cinelândia. Quarta (21), 19h30. R$ 30,00. Bilheteria: 13h30/19h30 (seg. e ter.); a partir das 13h30 (qua.). TT. www.rivalbr.com.br.
DINO RANGEL
Próxima atração do projeto 5ª no BNDES, o guitarrista apresenta choros com roupagem de jazz. Em meio a obras de Garoto, Guinga e Tom Jobim, Rangel exibe a sua Café. Ele divide o palco com Marcio Bahia (bateria), Mazinho Ventura (baixo) e Zé Canuto (sax). Livre. Auditório do BNDES (300 lugares). Avenida Chile, 100, Centro, 2172-7757, metrô Carioca. Quinta (22), 19h. Grátis. Distribuição de senhas uma hora antes.
EDU KRIEGER
Com a turnê do novo disco, Correnteza, o compositor mostra por que vem emplacando músicas e mais músicas em lançamentos alheios. Seu nome está nos créditos dos últimos discos de Roberta Sá, Maria Rita e Zé Paulo Becker. Com seu violão de oito cordas e voz suave, Krieger apresenta as inéditas Galileu, Serpentina e Feira Livre. 10 anos. Sesc Tijuca (250 lugares). Rua Barão de Mesquita, 539, Tijuca, 3238-2100. Quinta (22), 20h. R$ 12,00. Bilheteria: 15h/19h (ter. e qua.); a partir das 15h (qui.). www.sescrio.com.br.
ÉPOCA DE OURO
Fundado por Jacob do Bandolim, o mais tradicional grupo de choro do país celebra 45 anos ao lado da cantora Ademilde Fonseca. Por causa do falecimento de dois grandes músicos, entraram os violonistas André Bellieny no lugar de Cesar Farias, pai de Paulinho da Viola, e Tony Sete Cordas no posto do bamba Dino. Jorge Filho (cavaquinho), Jorginho do Pandeiro e Ronaldo do Bandolim completam a formação. Livre. Centro Cultural Light (194 lugares). Avenida Marechal Floriano, 168, Centro, 2211-4515. Quarta (21), 12h30. R$ 5,00.
ROBERTO MENESCAL, WANDA SA E BEBOSSA
O sócio-fundador da bossa nova e uma de suas primeiras musas apresentam grandes sucessos ao lado do sexteto vocal Bebossa. Estão previstas também canções recentes, a exemplo de Japa, Agarradinhos e O Brasil Precisa Balançar. 16 anos. Teatro Rival Petrobras (472 lugares). Rua Álvaro Alvim, 33, Cinelândia, 2240-4469, metrô Cinelândia. Quinta (22), 19h30. R$ 40,00. Bilheteria: 13h30/19h30 (seg. a qua.); a partir de 13h30 (qui.). TT. www.rivalbr.com.br.
Críticos e artistas dizem que importância do trabalho de Hélio Oiticica vai além do Brasil
RIO - O incêndio que destruiu o acervo de Hélio Oiticica transformou em cinzas um capítulo fundamental da arte mundial, disseram críticos e artistas.
- Perdemos um momento-chave da história da arte da segunda metade do século XX - afirmou o crítico Paulo Sérgio Duarte, autor de "Anos 60, transformações da arte no Brasil". - Já no final dos 1950 e início dos 1960, Hélio Oiticica começa a pensar a arte como criação de ambientes, algo que não era apenas contemplado, mas vivenciado espacialmente, aquilo que mais tarde se chamaria de instalações. Fora isso, com os parangolés ele repensou a questão da escultura, que passou a ser maleável e incorporada ao corpo humano.O artista plástico Ernesto Neto foi enfático:
- Ele era simplesmente o nome mais representativo da arte brasileira. Um revolucionário da arte mundial. É uma perda enorme, como se ele tivesse morrido duas vezes.
Obras de Hélio Oiticica destruídas em incêndio eram motivo de impasse entre família e Prefeitura do Rio
O poeta Ferreira Gullar, um dos criadores do movimento neoconcreto, integrado por Oiticica, diz que as propostas e trabalhos do grupo foram a primeira contribuição realmente original do Brasil à arte mundial. O artista Cildo Meireles concorda:
- Ele é um dos artistas que, a partir da década de 1950, começaram a instaurar uma singularidade que deu uma visibilidade internacional à produção artística no Brasil.
Nos últimos anos, o reconhecimento internacional do pioneirismo e da originalidade da obra de Hélio Oiticica fez com que seus trabalhos fossem integrados a coleções públicas e privadas no exterior. O MoMA, em Nova York, tem em seu acervo 13 criações do artista, doadas por Patricia Cisneros, e a Tate Modern, em Londres, tem nove. Cesar Aché, que por sete anos cuidou das negociações em nome do Projeto Hélio Oiticica, diz que muitos trabalhos do artista foram vendidos:
- Ironicamente, essas vendas, que foram criticadas por tirar os trabalhos do Brasil, acabaram garantindo a sobrevivência das obras.
Em 2007, uma grande mostra de Oiticica foi organizada pelo Museu de Belas Artes de Houston, que trabalhou com a família num projeto de restauração das obras e reuniu trabalhos em poder de colecionadores privados. O museu comprou do brasileiro Adolpho Leirner uma coleção de arte nacional que incluía duas obras de Oiticica. A coleção privada Daros-Latinamerica, em Zurique, tem em seu acervo um bólide (objeto escultural), um metaesquema (pintura abstrata) e um relevo espacial.
No Brasil, o Museu de Arte Moderna tem um bólide e três metaesquemas que fazem parte da coleção Gilberto Chateaubriand, e o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, tem uma pintura a óleo e alguns metaesquemas da coleção de João Sattamini. O Museu do Açude, no Alto da Boa Vista, tem um penetrável da série "Magic Square", assim como o centro Inhotim, em Minas Gerais, que tem ainda "Cosmococa 5: Hendrix War", parte de uma série de cinco projeções feita com o cineasta Neville de Almeida, e está construindo um espaço para receber as outras quatro partes.
O artista plástico Waltércio Caldas disse que o percentual da obra de Oiticica destruído pelo fogo lembra a falta de uma política nacional de aquisição e preservação de obras de arte:
- Se tivéssemos mais museus comprando obras para seu acervo, a perda seria menor.
SAMBA E FUTEBOL COM: PAGODE DA ARRUDA
As duas maiores paixões do carioca se encontram todas as quartas-feiras, na Parada da Lapa
Lapa, samba e futebol. Essa é a receita da PARADA DA LAPA para agitar as noites de quarta-feira. A proposta é oferecer variadas formas de diversão aos frequentadores da choperia anexa à FUNDIÇÃO PROGRESSO, que já virou um dos happy hours mais badalados da região.
O telão exibe os jogos da rodada e, quando a bola não estiver rolando, o público se acaba de dançar ao som do grupo PAGODE DA ARRUDA. Para completar a noite, uma mesa oficial de FUTEBOL DE BOTÃO e outra de TOTÓ estão à disposição dos clientes na varanda. O espaço ainda se transforma em sala de cinema com a exibição de filmes sobre futebol. É diversão garantida!
O PAGODE DA ARRUDA nasceu, em 2005, do encontro de amigos em uma animada roda de samba. O grupo se reunia na banca da Zezé, em Mangueira, para cantar os sucessos da “santíssima trindade” (assim definidos por eles): Donga, João da Baiana e Pixinguinha. O PAGODE também passa por Zé Kéti, João Nogueira, Noel Rosa e Jovelina; sem esquecer de personalidades como Cartola, Zeca Pagodinho, Chico Buarque e outros bambas.
Os sambistas decoram a choperia com muita arruda, carrancas e figas - para espantar o mau olhado - garantindo união e alto astral. O PAGODE DA ARRUDA é formado por Luíza Nogueira (voz), Gustavo Palmitão (repique de mão, pandeiro e voz), Fabão (tantã de marcação), Marcelinho (rebolo/ tantã de corte), Léo Prateado (xequebalde, reco, xequerê e quexada), Felipe (violão), Pindoba (banjo e voz), Armandinho do Cavaco (cavaco e voz), Cori Duarte (reco-reco e voz) e Fábio Bubba (percussão).
Todas as quartas-feiras na Parada da Lapa. Rua dos Arcos, s/n - Lapa. 20h
R$10,00. Telefone: (21) 2524-2861
Lista amiga: contato@paradadalapa.com.br
Classificação etária: 18 anos. Dinheiro, cartões de crédito Mastercard, Visa débito Redeshop e Visaelectron.O local possui acesso para deficientes físicos
Olimpíadas: o Brilho e a Ferrugem
Flavio Ferreira
O que está em jogo no momento, a localização dos equipamentos olímpicos, é a própria estrutura da cidade e do seu futuro. Este jogo é muito mais importante para a nossa cidade do que os jogos olímpicos em si. Para ganharmos o “ouro”, teremos que aprender com os sucessos e fracassos das cidades que já abrigaram Olimpíadas.
O sucesso se deu quando a localização dos equipamentos olímpicos ajudou a estruturar e revitalizar a cidade e o seu sistema de transporte público, e os equipamentos continuaram a ser utilizados. Tudo isso justificou os imensos recursos investidos, beneficiando concretamente a maioria dos seus cidadãos.
Um exemplo de sucesso é Barcelona. Havia terrenos baratos, abundantes, mas longínquos. Entretanto o Comitê Olímpico e a Cidade entenderam que localizar os equipamentos perto do centro, no seu antigo porto, era fundamental. Foram necessárias caríssimas desapropriações. Os projetos foram feitos com qualidade, os grandes selecionados em concursos públicos, dos quais só podiam participar arquitetos
A Barcelona que hoje se conhece, exuberante, criativa e próspera é em grande parte resultado do acerto da localização e da qualidade dos seus equipamentos olímpicos. Até hoje um dos locais mais freqüentados da cidade é onde foi o antigo porto.
Um exemplo de fracasso é Sidney. Escolheram grandes e belos terrenos, porém distantes do centro da cidade. Passadas as Olimpíadas, viu-se que estes equipamentos não contribuíam em nada para a estrutura da cidade e o bem da maioria dos seus cidadãos. Está lá aquela gigantesca lataria vazia, enferrujando na chuva e no sol. Dá dó!
O Rio de Janeiro se defronta com essa grave decisão: ou se baseia no precedente bem sucedido de Barcelona e enfrenta o épico desafio de se fazer um ótimo projeto no Porto, no Gasômetro, e ao lado da Estação da Leopoldina, isto é, no centro da cidade; ou sucumbe, copiando Sidney, construindo a maior parte dos equipamentos na Barra.
Não é difícil a solução no Porto. A Vila Olímpica requer cerca de 50 hectares e todos os outros equipamentos cerca de 20 hectares. O Porto, o Gasômetro e a Leopoldina somam mais do que 300 hectares.
Para os que chegarem ao Rio para as Olimpíadas, vindo de todo o Brasil e do exterior, é também muito importante que os jogos aconteçam principalmente no Porto. Para os de fora o Rio é o Cristo, que se vê do Porto, o Pão de Açúcar, todo o monumental conjunto de montanhas, as ruas cheias de gente, a música.
A Barra tem alguma coisa assim?
Quando o Instituto dos Arquitetos do Brasil organizou um congresso nacional na Barra, os arquitetos de fora não gostaram. Um gaúcho ironizou: “Eu vim porque pensei que o congresso era no Rio, não no pampa”.
Ao se transferir as Olimpíadas para o Porto resolve-se também outro grave problema. O atual plano da Prefeitura, denominado “Porto-Maravilha”, legisla para a área taxas de ocupação de terreno gigantescas, permitindo-se edifícios de até cinqüenta andares. A Prefeitura alega que, como não tem dinheiro, a renovação do Porto tem que ser autofinanciável. Resolve então este problema vendendo-se em hasta pública os terrenos, super valorizados pela permissão de se construir esta grande e alta massa de edifícios.
Teríamos uma solução financeiramente viável, mas um péssimo resultado urbanístico, com grandes prejuízos para a integridade paisagística da cidade. Por exemplo, quando viemos do interior, da Zona Norte e do Galeão nos sentimos no coração do Rio quando estando no elevado, entre a Rodoviária e o Gasômetro, contemplamos a bela cordilheira da qual o Corcovado é o elemento mais importante. Com o projeto “Porto-maravilha” esta maravilhosa experiência visual estaria perdida para sempre. Tanto no terreno do Gasômetro como no terreno da Rodoviária estão previstos massudos edifícios de cinqüenta andares!
Legislar muito denso e muito alto tem um outro grave inconveniente: atrasa a consolidação da área. Não há economia urbana suficiente para construir os edifícios grandes de pronto. Os terrenos ficarão desocupados por décadas e enquanto isso o Porto continuará vazio.
Com as Olimpíadas e seus recursos financeiros, surge a oportunidade de se refazer o plano, com ênfase na preservação da baixa altura. Com olhos contemporâneos muito do que esta lá construído poderá receber intervenções criativas, de pequena escala, aproveitando-se parte das edificações já existentes. Há precedentes no mundo todo, principalmente na renovação das áreas portuárias de intervenções deste tipo. O projeto pioneiro do Haymarket em Boston e do Porto Madeiro em Buenos Aires são bons exemplos deste tipo delicado e criativo de renovação.
Aqui no Rioa transformação pioneira de armazéns do Porto para a sede da Xérox, dos anos setenta, o projeto de renovação do Museu do Telephone, no Flamengo, que mantém suas fachadas e revoluciona o seus interiores, e o Museu das Ruínas em Santa Tereza, elegante conjunção entre o antigo e o novo, são exemplos criativos do que se pode fazer, em grande e rápido, no Porto.
É fácil para o poder público induzir este tipo de intervenção: basta legislar volumes construídos semelhantes aos que lá estão e garantir que o alinhamento das fachadas seja mantido. Pode e deve haver exceções, como torres finas e altas aqui e acolá, mas de forma que não interfiram na bela paisagem.
Uma coisa não deve ser mudada no “Porto-Maravilha”: a venda dos imóveis em hasta pública e a conseqüente, e indispensável, participação da iniciativa privada.
Flavio Ferreira
Arquiteto, doutor em Urbanismo, professor do programa de Pós-Graduação em Urbanismo da FAU/UFRJ (PROURB) e ex-secretário de Urbanismo do Rio de Janeiro.
O que está em jogo no momento, a localização dos equipamentos olímpicos, é a própria estrutura da cidade e do seu futuro. Este jogo é muito mais importante para a nossa cidade do que os jogos olímpicos em si. Para ganharmos o “ouro”, teremos que aprender com os sucessos e fracassos das cidades que já abrigaram Olimpíadas.
O sucesso se deu quando a localização dos equipamentos olímpicos ajudou a estruturar e revitalizar a cidade e o seu sistema de transporte público, e os equipamentos continuaram a ser utilizados. Tudo isso justificou os imensos recursos investidos, beneficiando concretamente a maioria dos seus cidadãos.
Um exemplo de sucesso é Barcelona. Havia terrenos baratos, abundantes, mas longínquos. Entretanto o Comitê Olímpico e a Cidade entenderam que localizar os equipamentos perto do centro, no seu antigo porto, era fundamental. Foram necessárias caríssimas desapropriações. Os projetos foram feitos com qualidade, os grandes selecionados em concursos públicos, dos quais só podiam participar arquitetos
A Barcelona que hoje se conhece, exuberante, criativa e próspera é em grande parte resultado do acerto da localização e da qualidade dos seus equipamentos olímpicos. Até hoje um dos locais mais freqüentados da cidade é onde foi o antigo porto.
Um exemplo de fracasso é Sidney. Escolheram grandes e belos terrenos, porém distantes do centro da cidade. Passadas as Olimpíadas, viu-se que estes equipamentos não contribuíam em nada para a estrutura da cidade e o bem da maioria dos seus cidadãos. Está lá aquela gigantesca lataria vazia, enferrujando na chuva e no sol. Dá dó!
O Rio de Janeiro se defronta com essa grave decisão: ou se baseia no precedente bem sucedido de Barcelona e enfrenta o épico desafio de se fazer um ótimo projeto no Porto, no Gasômetro, e ao lado da Estação da Leopoldina, isto é, no centro da cidade; ou sucumbe, copiando Sidney, construindo a maior parte dos equipamentos na Barra.
Não é difícil a solução no Porto. A Vila Olímpica requer cerca de 50 hectares e todos os outros equipamentos cerca de 20 hectares. O Porto, o Gasômetro e a Leopoldina somam mais do que 300 hectares.
Para os que chegarem ao Rio para as Olimpíadas, vindo de todo o Brasil e do exterior, é também muito importante que os jogos aconteçam principalmente no Porto. Para os de fora o Rio é o Cristo, que se vê do Porto, o Pão de Açúcar, todo o monumental conjunto de montanhas, as ruas cheias de gente, a música.
A Barra tem alguma coisa assim?
Quando o Instituto dos Arquitetos do Brasil organizou um congresso nacional na Barra, os arquitetos de fora não gostaram. Um gaúcho ironizou: “Eu vim porque pensei que o congresso era no Rio, não no pampa”.
Ao se transferir as Olimpíadas para o Porto resolve-se também outro grave problema. O atual plano da Prefeitura, denominado “Porto-Maravilha”, legisla para a área taxas de ocupação de terreno gigantescas, permitindo-se edifícios de até cinqüenta andares. A Prefeitura alega que, como não tem dinheiro, a renovação do Porto tem que ser autofinanciável. Resolve então este problema vendendo-se em hasta pública os terrenos, super valorizados pela permissão de se construir esta grande e alta massa de edifícios.
Teríamos uma solução financeiramente viável, mas um péssimo resultado urbanístico, com grandes prejuízos para a integridade paisagística da cidade. Por exemplo, quando viemos do interior, da Zona Norte e do Galeão nos sentimos no coração do Rio quando estando no elevado, entre a Rodoviária e o Gasômetro, contemplamos a bela cordilheira da qual o Corcovado é o elemento mais importante. Com o projeto “Porto-maravilha” esta maravilhosa experiência visual estaria perdida para sempre. Tanto no terreno do Gasômetro como no terreno da Rodoviária estão previstos massudos edifícios de cinqüenta andares!
Legislar muito denso e muito alto tem um outro grave inconveniente: atrasa a consolidação da área. Não há economia urbana suficiente para construir os edifícios grandes de pronto. Os terrenos ficarão desocupados por décadas e enquanto isso o Porto continuará vazio.
Com as Olimpíadas e seus recursos financeiros, surge a oportunidade de se refazer o plano, com ênfase na preservação da baixa altura. Com olhos contemporâneos muito do que esta lá construído poderá receber intervenções criativas, de pequena escala, aproveitando-se parte das edificações já existentes. Há precedentes no mundo todo, principalmente na renovação das áreas portuárias de intervenções deste tipo. O projeto pioneiro do Haymarket em Boston e do Porto Madeiro em Buenos Aires são bons exemplos deste tipo delicado e criativo de renovação.
Aqui no Rioa transformação pioneira de armazéns do Porto para a sede da Xérox, dos anos setenta, o projeto de renovação do Museu do Telephone, no Flamengo, que mantém suas fachadas e revoluciona o seus interiores, e o Museu das Ruínas em Santa Tereza, elegante conjunção entre o antigo e o novo, são exemplos criativos do que se pode fazer, em grande e rápido, no Porto.
É fácil para o poder público induzir este tipo de intervenção: basta legislar volumes construídos semelhantes aos que lá estão e garantir que o alinhamento das fachadas seja mantido. Pode e deve haver exceções, como torres finas e altas aqui e acolá, mas de forma que não interfiram na bela paisagem.
Uma coisa não deve ser mudada no “Porto-Maravilha”: a venda dos imóveis em hasta pública e a conseqüente, e indispensável, participação da iniciativa privada.
Flavio Ferreira
Arquiteto, doutor em Urbanismo, professor do programa de Pós-Graduação em Urbanismo da FAU/UFRJ (PROURB) e ex-secretário de Urbanismo do Rio de Janeiro.