4.16.2009

O estilo interpretativo de Jacob do Bandolim


Raquel do Carmo Santos

O chorinho brasileiro deve muito de sua forma e estrutura a Jacob do Bandolim (1918-1969), que adotou no nome artístico o instrumento de sua paixão. Apontado pela crítica como um dos mais importantes defensores do choro tradicional, o compositor e instrumentista não cedeu às tendências de mercado e a modismos, caracterizando o gênero com a interpretação de músicas que emocionam várias gerações, como Sofres porque queres, de Pixinguinha, e Receita de Samba, dele mesmo.
O estilo interpretativo de Jacob do Bandolim foi o objeto de pesquisa do músico Almir Côrtes, que levou em frente o desejo de estudar os elementos musicais que faziam do bandolinista uma figura singular. Para a dissertação de mestrado no Instituto de Artes, orientada pelo professor Esdras Rodrigues Silva, Côrtes transcreveu seis interpretações de Jacob. Também entrevistou companheiros do compositor, como do conjunto Época de Ouro, que ele criou: César Faria, Carlinhos Leite, Déo Rian, Joel Nascimento.
“Entre os vários fatores que contribuíram para o êxito na carreira, está o timbre que ele conseguiu extrair do bandolim: um som bonito, bem acabado, refinado. Sua interpretação era criteriosa e bem pensada. Mesmo com recursos precários, fazia gravações primorosas”, observa Almir Côrtes. Para o autor da dissertação, o compositor era ainda um formador de opinião. “Ele elaborava arranjos sem tirar a essência do gênero, mantendo a característica dabrasilidade num período em que o país sofria grande influência da música norte-americana e a bossa nova estava em ascensão”, lembra.
Sobre as transcrições, Côrtes preocupou-se em tornar a leitura acessível para o instrumentista sem familiaridade com o choro. De Pixinguinha, ele transcreveu Ingênuo, Lamentos e Sofres porque queres; e de Ernesto Nazaré, as peças Odeon, Brejeiro e Apanhei-te, cavaquinho.

Este é o único vídeo de Jacob do Bandolim de que se tem notícia....

'Final de um tempo'


Músicos e teóricos discutem o fim da canção

Leonardo Lichote

RIo - A tese já corria aqui e ali, mas ganhou notoriedade para valer quando Chico Buarque declarou que a canção, como a conhecemos, pode ter se esgotado e estar encerrando seu ciclo na História. Desde então, a ideia atravessou discos ("Danç-êh-sá", de Tom Zé), filmes (o documentário "Palavra (en)cantada") e inúmeros debates filosóficos em mesas de bar. Batizada exatamente de "O fim da canção", a série de aulas-show que Arthur Nestrovski e José Miguel Wisnik apresentam desde o dia 7 de abril, no Instituto Moreira Salles, joga outra luz sobre a questão.
E você? Acha que a canção como a conhecemos vai acabar?
E, para o desapontamento dos apocalípticos, o tal fim, pelo menos aqui, não é algo tão objetivo assim:
- O "fim da canção" aqui ganha vários sentidos: propósito e ponto de chegada, final de um tempo e "finalidade sem fim" - explica Nestrovski, por e-mail. - Quem melhor definiu as coisas foi Lorenzo Mammì, no ensaio de apresentação ao "Cancioneiro Chico Buarque". Diz ele: "Os jovens compositores que se dedicam hoje ao gênero canção (...) não são candidatos ao estatuto que vigorava há 30 ou 40 anos. (....) A canção de autor já não é o motor principal da indústria fonográfica, mas apenas um nicho cultural. (...) Hoje se espera o lançamento de um disco de Chico Buarque como se espera a publicação de um livro de contos de um escritor importante. A canção já tem espessura, sutileza, história para tanto e já é abordada (...) como uma 'literatura'".
" A canção brasileira não está perto do fim em nenhum sentido objetivo. Ela não cessa de dar evidências contundentes de originalidade e maestria, nos gêneros mais diversos "
Na visão apresentada no curso, portanto, não se vislumbra a possibilidade de extinção da canção.
- A canção brasileira não está perto do fim em nenhum sentido objetivo. Ela não cessa de dar evidências contundentes de originalidade e maestria, nos gêneros mais diversos. Impossível dizermos que a canção brasileira perdeu força, confrontados com os discos recentes de Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Luiz Tatit, Zélia Duncan, Fernanda Takai etc. - lista Nestrovski, que este mês reedita pela Biscoito Fino seu disco "Jobim violão", de 2007.
Wisnik acrescenta:
- E Tom Zé, Lenine, Guinga, Marcelo Camelo, Moreno, Domenico, Kassin e novos que estão surgindo, como Kristoff Silva, Celso Sim, Marcelo Jeneci, Iara Rennó...
O curso é composto de quatro aulas-show. O objetivo da série, Wisnik ressalta, não é dar um panorama histórico da música brasileira. Em cada módulo, a dupla se detém sobre um aspecto dessa arte no país, destrinchando - com auxílio do piano e do violão - canções que o ilustrem.
- Não é uma história da canção na sequência linear temporal, mas um mergulho em certos temas históricos que se dá na profundidade das canções - diz Wisnik.
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