Red Taylor, Tom Jobim (de costas), João Gilberto e Stan Getz: 48 horas de estúdio em março de 1963
Ruy Castro mergulha nos conturbados bastidores da gravação de Getz/Gilberto, talvez o maior LP da Bossa Nova
Nos dias 18 e 19 de março de 1963, dez pessoas - oito homens e duas mulheres - reuniram-se no A&R, um estúdio de gravação na Rua 48 Oeste, quase esquina com a Sexta Avenida, em Nova York, e criaram o álbum - LP, como então se dizia - que, para muitos, é o maior da bossa nova em todos os tempos. Ou o maior LP de bossa nova gravado fora do Brasil.
Claro que, enquanto o estavam gravando, eles não imaginavam o tamanho da façanha, e nem que o disco seria um divisor de águas na vida de todos os envolvidos. Alguns talvez apenas desconfiassem disso. Esses homens e mulheres eram o sax tenor americano Stan Getz, 36 anos recém-feitos, muito admirado por seu lirismo ao instrumento - e nem tanto, no mundo do jazz, por seu caráter ou falta de -; o pianista e compositor brasileiro Antonio Carlos Jobim, também 36 feitos havia pouco e só então perdendo a timidez que o caracterizava; o violonista e cantor João Gilberto, 32, tido por unanimidade como o criador e principal nome da bossa nova; o contrabaixista Tião Neto, 32, com sua marcação firme e o som poderoso e redondo; e o baterista Milton Banana, às vésperas dos 28 e tão importante para a bateria da bossa nova quanto João Gilberto para o violão da dita.