7.27.2009

Roda de choro é segredo das noites de segunda-feira no bar Estrelato

Juarez Becoza

RIO - Impossível entrar no Estrelato, pequenino bar na Travessa dos Tamoios, sem notar a imensa bandeira do Brasil bordada no toldo que protege as mesinhas na calçada em frente. Trata-se de pano de fundo acolhedor para um dos segredos mais bem guardados da Zona Sul: um boteco familiar, com duas décadas de vida, que tem entre seus fiéis frequentadores alguns dos mais refinados músicos da cidade. Terá a descrição despertado alguma lembrança familiar ao leitor que rima música com botequim? Pois então, é isso mesmo: o Estrelato é quase um Bip Bip do Flamengo.
Com algumas diferenças, claro: em vez do famoso e temperamental Alfredinho do bar de Copacabana, aqui temos a Lenice, sorridente até em dia de inundação na Marquês de Abrantes. No lugar da cerveja em lata, chope razoável e algumas boas opções gastronômicas, com destaque para o caldinho de feijão temperadíssimo e delicioso, servido em copo americano, e para a picanha na chapa.
A semelhança entre os bares fica, é claro, no espírito musical. Se no Bip as rodas rolam quase diariamente, no Estrelato o dia nobre é a segunda-feira, quando uma turma da pesada se reúne para beber e tocar chorinho. Às sextas tem voz e violão. Tudo informal mesmo, armado pelos próprios clientes, que fazem questão de perpetuar o espírito da casa.
Como fica embaixo de um edifício residencial, o Estrelato fecha cedo. A música sempre termina às 23h, meia-noite no máximo, quando o choro está bom demais. Quem manda parar é sempre o Zinho, guardião da chopeira e dos bons costumes. Eventualmente, seu humor peculiar lembra até o do Alfredinho. Taí, aliás, mais uma semelhança entre os dois botecos.
@@@@@@
Estrelato: Travessa dos Tamoios 32, Flamengo - 2205-0149. Seg a sáb, das 18h às 23h. C.C.: Todos.

Secretaria de Cultura divulga novas atrações do Cultura para Todos

Foto Felipe de Souza
Como costuma acontecer toda manhã de segunda-feira, hoje (27) uma fila se formou em frente ao Cine 9 de Abril, na Vila Santa Cecília, para a retirada de convites do Cultura para Todos. Amanhã (28), será apresentado o espetáculo Terapia do Riso, às 19h e 21h - a abertura fica por conta da cantora Mariângela Leal.

Para trocar o convite, centenas de pessoas enfrentam a manhã nublada e levaram leite do tipo longa vida. É permitida a troca de até dois convites e é necessário levar um litro de leite para cada ingresso. A distribuição, que começou às 10h, segue até às 19h e caso não esgotem os convites, o trabalho continua amanhã, no mesmo horário.

O projeto, que começou no início de maio, segue agora para a segunda fase. As apresentações divulgadas pela secretaria de Cultura, quando o Cultura para Todos começava, terminam amanhã. A lista dos novos de artistas que subirão ao palco do Cine 9 de Abril para dar prosseguimento já está disponível:

04/08 - Kleiton e Kleidir
Abertura: Armando Bandeira

11/08 - Nerson da Capitinga
Abertura: Joca Otoni

18/08 - Neguinho da beija-flor
Abertura: Talles Dias e convidados

25/08 - Ivan Lins
Abertura: Ranieri e os pintos

01/09 - Leila Pinheiro
Abertura: Vicente Lima e seu violino

08/09 - Aonde está você agora - Peça com Bruno Gagliasso
Abertura: Auriston

15/09 - Malu Magalhães
Abertura: Figurótico e banda

22/9 - Comédia em Pé
Abertura: Jorge Guilherme

29/09 - Elba Ramalho
Stael de Oliveira e cia Arte em Cena

----

As atrações de outubro e novembro serão decididas com base na enquete disponível no site da prefeitura de Volta Redonda - www.portalvr.com.
Fonte Diário do Vale

O continente negro: No Nelson Rodrigues, um teatro dramático escrito em forma de contraponto


Barbara Heliodora

RIO - No Teatro Nelson Rodrigues está em cartaz "O continente negro", do chileno Marco Antonio de la Parra. Primeira obra do autor montada no Brasil - o texto é objeto de uma brilhante tradução de Silvia Gomez -, a peça do dramaturgo chileno é uma intrigante experimentação, um teatro dramático escrito em forma de contraponto.
Duas atrizes e um ator criam os 12 personagens que se entrelaçam para compor a complexa rede que narra varias histórias, nenhuma delas dominante, todas elas fragmentos de um todo que cobre chegadas e partidas, ilusões e desencantos. Essa estrutura exige de início muita atenção. Porém, uma vez que o espectador identifica o jogo, tudo fica mais fácil e compreensível. Não há preocupação com elaboração de tensões crescentes, pois os vários componentes afloram e desaparecem alternadamente, cumprindo suas missões na composição do todo.
Trilha sonora cria ambientes distintos
A encenação é dominada por um vasto cenário - que, por sua vez, apresenta múltiplas possibilidades, disciplinadas em um todo -, criado por André Cortez, também responsável pelos figurinos que individualizam os vários personagens. A ótima iluminação é de Telma Fernandes, e a trilha sonora, que cria ambientes distintos, é de Dr. Morris.
A direção é de Aderbal Freire-Filho, que manipula com firmeza o desenho físico dos vários componentes da ação e, com igual segurança, estabelece climas e personalidades que dão vida ao complexo espetáculo.
O elenco é composto por Débora Falabella, Yara Novaes e Angelo Antônio que com pequenas mas claras mudanças de postura e tom dão vida a 12 personagens de maior ou menor peso, muito embora não se trate aqui de uma narrativa, como já tem acontecido em outros espetáculos de Aderbal. Há toques de depoimento crítico muito importantes para a natureza do espetáculo.
"O continente negro" é uma fascinante experimentação dramatúrgica.

@@@
'O continente negro'.
Texto: Marco Antonio De La Parra.
Direção: Aderbal Freire-Filho.
Elenco:Débora Falabella, Ângelo Antônio e Yara de Novaes.

O amor platônico, uma mãe ausente e fútil e um marido infiel são temas abordados para retratar a dificuldade dos relacionamentos amorosos.
Teatro Nelson Rodrigues: Caixa Cultural. Av. Chile 230, Centro - 2262-8152. Qui a sáb, às 20h. Dom, às 19h. R$ 20. 60 minutos. Até 2 de agosto.

HORTELÃ


A hortelã estimula o aparelho digestivo e tem também propriedades anestésicas", devido a isso, é chamada de antiespasmódico, basta ferver 3 g de hortelã em 100 mL por não mais de cinco minutos. "O chá combate dores de barriga e prisão de ventre."

A hortelã é rica em vitaminas C e A, cálcio, fósforo, potássio e ferro. "A vitamina C é um antioxidante poderoso e ajuda a sintetizar o colágeno. A vitamina A faz bem para a pele, os cabelos e os ossos. O cálcio atua na formação de ossos e dentes, e o ferro essencial para formação de hemoglobina (proteína que carrega oxigênio para tecidos), fósforo (participa no metabolismo de açúcares) e potássio (participa da atividade neuromuscular)

No entanto, não adianta achar que o consumo de hortelã vai suprir as necessidades desses nutrientes. "A erva pode ser usada apenas como complemento nutricional, pois uma quantidade muito pequena é usada no preparo dos alimentos".

SALADA DE LENTILHA COM HORTELÃ

Ingredientes:
9 colheres (sopa) de azeite extra-virgem
3 colheres (sopa) de vinagre branco
3 colheres (sopa) de hortelã picada
500 G de lentilha
1 unidade de cebola
1 dente de alho
1 maço de cheiro-verde
Sal à gosto
pimenta-do-reino branca à gosto
Preparação:
Prepare o molho: misture todos os ingredientes (menos a hortelã).

Prepare a salada: em uma panela, junte a lentilha, a cebola, o alho e o maço de cheiro-verde.
Tempere com sal e pimenta-do-reino.
Cozinhe em água suficiente até as lentilhas ficarem macias.
Retire do fogo e escorra.
Coloque a lentilha em uma saladeira, tempere com o molho e deixe na geladeira por 4 horas.
Momentos antes de servir, junte a hortelã e enfeite com ovos cozidos em rodelas.

Rendimento:
4 porções

Mostra 'Homenagem a Hélio Silva' exibe 27 filmes no CCBB

RIO - O Centro Cultural Banco do Brasil realiza até 2 de agosto a mostra "Homenagem a Hélio Silva", com a exibição de 27 filmes, celebrando o aniversário do diretor de fotografia, que completaria 80 anos em 2009.
Além de títulos consagrados, o projeto também vai recuperar obras esquecidas pela historiografia e, no dia 28 de julho, será promovido o debate "Hélio Silva e a fotografia do cinema brasileiro moderno".
(Assista a trecho do filme 'Rio Zona Norte', que será exibido na mostra)
Para que o público possa ter melhor compreensão da obra de Hélio Silva, a mostra foi dividida em nove blocos: "Realismo urbano", "Diante da luz do sertão", "O preto-e-branco suave das cidades", "O preto-e-branco áspero das tragédias", "As primeiras experiências em cor" (e a prevalência do marrom), "A profusão de cores da comédia erótica", "A luz dramática dos filmes policiais", "Algumas experiências isoladas na década de 1980" e "O olhar documental".

Confira a programação:

TERÇA-FEIRA (28.07):
13h - "Rio zona norte", de Nelson P. dos Santos, 1957, P&B, 35mm, 86 min., Livre
18h- "Mandacaru vermelho", de Nelson P. dos Santos, 1960, P&B, 35mm, 76 min., 14 anos
20h - Debate
QUARTA-FEIRA (29.07):
13h- "Banana mecânica" (Braz Chediak, 1974, cor, 35mm, 97 min, 18 anos)
18h- "A dívida da vida", de Octávio Bezerra, 1992, cor, vídeo, 115 min., 12 anos
20h - "O lado certo da vida errada", de Octávio Bezerra, 1996, cor, vídeo, 90 min., 14 anos
QUINTA-FEIRA (30.07):
13h- "Amenic", de Fernando Silva, 1985, cor, 35mm, 95 min., 16 anos
17h- "Boca de ouro", de Walter Avancini, 1990, cor, vídeo, 108 min., 18 anos
SEXTA-FEIRA (31.07):
13h- "Crueldade mortal", de Luiz Paulino dos Santos, 1976, cor, 35mm, 92 min., 18 anos
18h- "Escalada da violência", de Milton Alencar, 1982, cor, 35mm, 92 min., 18 anos
20h- "Dois perdidos numa noite suja", de Braz Chediak, 1975, cor, 16mm, 100 min., 18 anos
SÁBADO (01.08):
16h- "El justicero", de Nelson Pereira dos Santos, 1966, P&B, 35mm, 80 min., 14 anos
18h- "Lance maior", de Sylvio Back, 1968, P&B, 35mm, 100 min., 12 anos
20h- "O homem nu", de Roberto Santos, 1967, P&B, vídeo, 118 min., 14 anos
DOMINGO (02.08):
12h- "Banana mecânica", de Braz Chediak, 1974, cor, 35mm, 97 min., 18 anos
18h- "Amenic", de Fernando Silva, 1985, cor, 35mm, 95 min., 16 anos
20h- "Nzinga", de Octávio Bezerra, 2006, cor, vídeo, 83 min., Livre

'Homenagem a Hélio Silva' -
Centro Cultural Banco do Brasil(CCBB),
Rua Primeiro de Março 66, Centro. Tel: 3808-2020. R$ 6
Fonte O Globo

Lula, o criminalista do Planalto

Enviado por Jorge Antonio Barros -

Para proteger o presidente do Senado, José Sarney - seu aliado político - Lula fez um discurso sobre a relativização de crimes - dito em entrevista à Rádio Globo - que tem clara inspiração num dos expoentes do Direito Penal, Cesare Beccaria, autor do clássico "Dos delitos e das penas", do século XVIII. Aposto que aprendeu isso com seu ex-ministro da Justiça e conselheiro-mor, Márcio Thomaz Bastos, um dos mais bem sucedidos criminalistas do país. O presidente Lula tem incrível capacidade de aprender apenas escutando. É um autodidata típico.
Lula mais uma vez abriu mão de padrões de ética para seus pares, ao dizer que "uma coisa é matar, outra coisa é o lobby".
- Uma coisa é você matar, outra coisa é você roubar, outra coisa é você pedir um emprego, outra coisa é relação de influências, outra coisa é o lobby - disse Lula para atenuar os supostos delitos praticados por Sarney, que foi flagrado numa escuta telefônica participando de negociação de um cargo no Senado para o namorado da neta, um dos atos secretos da casa.
Pioneiro do Direito Penal liberal, o italiano Cesare Beccaria (1738-1793) foi o primeiro a se opor à tradição jurídica e à legislação penal de seu tempo, quando havia julgamentos secretos e a tortura era aceita como forma de se obter prova do crime. Ele foi um dos defensores do princípio de que todos são iguais perante a lei e da proporcionalidade, um dos princípios fundamentais do Direito Penal, que prevê a sanção penal é proporcional à culpabilidade da pessoa e a gravidade do crime.
Veja se Lula - ao dar uma de advogado de defesa de Sarney - não assinaria embaixo o que escreveu Beccaria sobre as finalidades da pena:
"Da simples consideração das verdades, até aqui expostas, fica evidente que o fim das penas não é atormentar e afligir um ser sensível, nem desfazer o delito já cometido. É concebível que um corpo político que, bem longe de agir por paixões, é o tranquilo moderador das paixões particulares, possa albergar essa inútil crueldade, instrumento do furor e do fanatismo, ou dos fracos tiranos? Poderiam talvez os gritos de um infeliz trazer de volta, do tempo, que não retorna, as ações já consumadas? O fim da pena, pois, é apenas o de impedir que o réu cause novos danos aos seus concidadãos e demover os outros de agir desse modo.
É pois, necessário selecionar quais penas e quais os modos de aplicá-las, de tal modo que, conservadas as proporções, causem impressão mais eficaz e mais duradoura no espírito dos homens, e a menos tormentosa no corpo do réu".
E mais: "Cada delito, embora privado, ofende a sociedade, mas nem todo delito procura a destruição imediata dessa mesma sociedade".
Pois eu gosto de Beccaria em outro texto: "A verdadeira medida do delito é o dano à sociedade".
Delitos praticados por políticos causam tanto dano à sociedade quanto aqueles praticados por criminosos armados. Alguns saques ao dinheiro público são tão fatais quanto alguns tiroteios em favelas. É fácil contar os mortos após uma escaramuça, mas praticamente impossível saber quantas crianças acabarão morrendo de inanição porque algum político desviou o dinheiro da merenda escolar.
Apesar de escorregar na ética, Lula pode até ter razão de que cada crime deve ter uma pena proporcional à gravidade do delito. Mas, poxa, ninguém está pedindo a pena de morte para Sarney. Espera-se apenas que ele se afaste do cargo até que tudo seja devidamente apurado. A sociedade está cansada de ver poderosos escaparem de punição no país porque não confessam seus delitos ou ninguém consegue investigá-los com eficiência. Quanto mais poder, maior deveria ser a responsabilidade.
Em vez de fora, eu diria, "Sarney, dá um tempo".

Gilberto Velho critica Lula por defender aliados suspeitos de atos ilícitos

Cláudia Lamego

Ao defender aliados envolvidos em escândalos e investigados por crimes, o presidente Lula legitima um padrão ético e moral discutível no país. A opinião é do antropólogo Gilberto Velho, que criticou ontem Lula por relativizar supostos crimes praticados na República. Para ele, é preocupante, num “país que vive uma crise de valores”, que Lula minimize a prática de atos ilícitos. Segundo o antropólogo, as declarações de Lula são movidas por seus interesses políticos. “Tudo em nome de um projeto político e pessoal”, lamenta.

O GLOBO: Depois de pedir ao Ministério Público que tenha cuidado com a biografia dos investigados, o presidente Lula disse ontem que é preciso relativizar os crimes. O que o senhor achou dessa declaração?

GILBERTO VELHO: Para começar, não cabe ao chefe do Executivo orientar os outros poderes sobre como eles devem proceder. Isso é preocupante com relação à distribuição do poder no país. Ele não pode ir à posse do procurador-geral e orientar o trabalho dos procuradores.

A outra questão é que, ao minimizar faltas graves dos aliados, ele está legitimando um padrão moral e ético que é no mínimo discutível. O que está se propondo é que tudo seja investigado, não está se condenando com antecedência. Agora, houve uma série de episódios nos quais não havia dúvida sobre faltas e ilegalidades, e ele, mesmo assim, defendeu. Qual é o padrão moral que está sendo sugerido pelo presidente? É de um pragmatismo... não sei como classificar isso. É algo como a ideia de que é possível minimizar meios ilícitos, que são condenáveis sob qualquer perspectiva ética mais séria e consequente.

O GLOBO:O presidente dá mau exemplo ao defender suspeitos de atos ilícitos?

GILBERTO VELHO: Sim. Não é isso o que se espera de um chefe de Estado, que tem força e popularidade grandes, num país que vive uma crise de valores imensa. É um pouco decepcionante que ele não esteja demonstrando preocupação com a corrupção, sobretudo quando seus interesses políticos são prejudicados. É lamentável que ele confunda seus interesses com os do país. Tudo em nome de um projeto político e pessoal.

O GLOBO:Num país com tanta impunidade, qual o impacto desse tipo de conduta do presidente?

GILBERTO VELHO: Há muito tempo venho chamando atenção sobre os deslizes, irregularidades, falta de responsabilidade e de compromisso com a verdade no nosso país. Aí, vem o presidente e minimiza tudo. Ele, como pessoa, pode ter suas opiniões, e podemos discordar delas. Mas, falando como chefe de Estado, é preciso elevar o padrão ético do país. A pergunta que temos que fazer é: é importante ou não que os governantes pautem seus comportamentos pela ética? No fundo, funciona aqui ainda a máxima de que os fins justificam os meios. Achar que vale tudo porque é melhor para seu grupo ou partido é muito assustador.

O GLOBO:E quando o presidente aparece ao lado de políticos que ele mesmo já condenou no passado, como o senador Fernando Collor?

GILBERTO VELHO: Como é possível ele aparecer abraçado com o Collor, com o Renan, com o Jader Barbalho? O país se mobilizou contra o Collor, que foi eleito agora pelo clientelismo.

E Lula se alia a esse clientelismo mais atrasado. Então, o presidente passa uma esponja sobre tudo o que aconteceu e toda aquela mobilização da população não tem mais valor?
É muito triste

Projeto do trem-bala é pioneiro em planejamento na questão ambiental

BRASÍLIA - O Brasil está aproveitando o trem-bala que ligará o Rio a São Paulo e Campinas para testar uma novidade que visa à redução dos custos para minimizar os impactos ambientais das grandes obras de infraestrutura, mostram Catarina Alencastro e Eduardo Rodrigues em reportagem publicada na edição deste domingo de O GLOBO. Desde o início das discussões sobre o trem-bala, a área ambiental acompanha e interfere no projeto, tendo mudado traçados e sugerido soluções para que o empreendimento cause o mínimo dano possível nos 511 quilômetros do trajeto, que corta a Serra das Araras.
Para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, a "catequese ambientalista" se provará eficiente: a estimativa é que quem vencer a licitação gastará no máximo 1% dos R$ 34,6 bilhões da obra em ações como adotar parques e implementar barreiras acústicas.
Para se ter uma ideia de quanto o acompanhamento prévio pode reduzir desembolsos, esse mesmo custo na BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM), chega a 93,7% do valor da estrada. Como contrapartida pelo prejuízo que a rodovia de R$ 697 milhões trará à Floresta Amazônica, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) terá de bancar investimentos ambientais de R$ 653,5 milhões.
- No caso do trem-bala, está sendo escolhido o trecho de menor impacto. Por onde ele passa e tem cidade, vai ter de botar uma barreira acústica, plantando árvores dos dois lados. O empreendimento vai ter de adotar parques e botar dinheiro em educação ambiental, que temos cobrado de todo grande empreendimento - disse Minc.

Entrevista com Caetano, sobre o filme "Coração Vagabundo" e outros assuntos


Entrevista à Folha de S. Paulo - 22/07/09

.
Tema de "Coração Vagabundo", que estreia na sexta, o músico critica a cobertura da Folha sobre o uso da Lei Rouanet para sua turnê, afirma que o jornal quis tratá-lo como "misto de Sarney e Dado Dolabella" e revela saudades da "alegria física" da juventude
.
Caetano Veloso tem medo da morte, mas menos do que tinha "quando era mais moço e mais narcisista". Aos 66, ele tem "saudades do equilíbrio e da elasticidade do corpo, da força dos cabelos, o jato de urina forte, as ereções firmes, a alegria física da juventude".
Caetano Veloso odeia "a hipocrisia" e teme "o fanatismo". Ele acha que "dadas as revelações da personalidade pragmática do político Lula", a adesão de seu amigo e também músico Gilberto Gil ao governo, como ministro da Cultura (2003-2008) "não teve o caráter negativo" que ele temia.
Tudo isso o cantor e compositor baiano contou à Folha, numa entrevista a propósito de "Coração Vagabundo", documentário a seu respeito, que chega aos cinemas nesta sexta. O diretor do filme, Fernando Grostein de Andrade, diz que sua intenção era realizar "não uma biografia, mas uma passagem pela vida de Caetano".
Com orçamento em torno de R$ 700 mil, considerado baixo pelos parâmetros brasileiros, "Coração Vagabundo" contou com patrocínio de empresas que tiveram incentivo fiscal para realizar o investimento no filme. O incentivo é proporcionado pelas leis federais de incentivo à cultura, das quais quase todos os filmes produzidos no Brasil lançam mão.
Quando fala no tema da subvenção estatal ao fazer artístico, representada sobretudo pela Lei Rouanet, que movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano, Caetano Veloso engrossa o discurso e critica a Folha, certo jornalismo "travestido de investigativo" e a coluna "Mônica Bergamo" nesta entrevista, que preferiu fazer por e-mail.
A polêmica sobre o uso da Lei Rouanet envolvendo o nome de Caetano tem origem na revelação feita pela Folha de que a turnê de seu mais novo álbum, "Zii e Zie", só pôde recorrer a patrocínio com benefício desse mecanismo de renúncia fiscal depois que o ministro da Cultura, Juca Ferreira, interveio em decisão da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC).
A comissão analisa os projetos submetidos à Lei Rouanet e avaliou, originalmente, que a turnê de Caetano era comercialmente viável, podendo prescindir do incentivo. O orçamento era de R$ 2 milhões.
Caetano julga a cobertura da Folha "uma pobreza". Por um lado, ele estrila. Por outro, não se cansa de ter esperança de um dia "melhorar mais", como afirma a seguir.

FOLHA - Na última vez em que falou à Folha sobre a Lei Rouanet, você deixou clara a sua impressão de não estar sendo devidamente compreendido. Poderia dizer qual é sua opinião sobre o subsídio estatal à produção artística e que avaliação faz do principal mecanismo em prática no Brasil -a Lei Rouanet?
.
CAETANO VELOSO - Uma moça entrou na fila de fãs no camarim e, ao chegar junto de mim, pediu para fazer duas perguntas. De cara, não percebi que era uma jornalista. Quando entendi isso, eu a encaminhei para a assessora de imprensa. Eu tinha uma fila grande para atender. Julguei que a assessora fosse dispensá-la.
Mas ela reapareceu depois, dizendo agora que faria uma pergunta só. Respondi rindo que sim, que fizéssemos logo para nos livrarmos. Era sobre a Lei Rouanet. Não sou bom nesses assuntos e já tinha lido na Folha sugestões de que eu estaria usando dinheiro público indevidamente. Ora, eu não pleiteei nada junto à comissão que se encarrega de julgar esses pedidos. O produtor que me contratou é que pleiteia. Como a comissão não aprovou, sob o pretexto de que uma turnê minha se sustenta sem isso, o jornal achou que havia um caso aí.
Em entrevista à revista "Cult", eu tinha dito que nunca pensava em Lei Rouanet quando tratava de música popular e que só me pronunciei a respeito por causa do cinema: eu havia me manifestado contra o projeto da Ancinav. A música popular, eu dizia, não me parece precisar de incentivos além dos que já tem. Continuo pensando assim (embora pudesse perfeitamente ter mudado de ideia).
Pois bem, a moça não só não fez uma única pergunta como na terceira de umas cinco punha na minha boca frases que eu não disse. Ela tinha sido enviada por Mônica Bergamo, que mantém uma página de fofocas meio "sociais", meio políticas (ou meio de autoridades, meio de celebridades) e o fito era nitidamente me tratar como se eu fosse um misto de Sarney com Dado Dolabella.
Ao fim da quarta resposta, disse-lhe que fosse embora. Ela perguntou triunfante: "Você está me mandando embora?". Respondi que estava e insisti para que fosse logo. Depois a Bergamo foi para o rádio gritar meu nome com aquela voz de taquara rachada, competindo em demagogia e má-fé com [o jornalista Ricardo] Boechat.
Claro que não ouvi isso na hora: uma amiga me mandou por e-mail em MP3. Havia um desejo ridículo de criar um caso em que eu aparecesse como um cara que não merece respeito.
Li artigos de outros na Folha (e cartas de leitores) meio eufóricos com isso. Uma pobreza.
Mas um conhecido me escreveu o seguinte: "Não sei se você sabe, mas o papel de imprensa onde eles destilam o veneninho goza de 100% de isenção fiscal. Será que os próprios repórteres sabem disto? Estamos falando de dezenas e dezenas de milhões de reais em incentivos fiscais, não só federais (0% de PIS, Cofins, imposto de importação etc...) mas também estaduais, já que papel de imprensa também não paga um centavo de ICMS. E a isenção é dada a todo mundo, não só ao jornal do AfroReggae mas também a enormes corporações como a Folha, cujo faturamento está na casa do bilhão. A isenção de impostos do papel de imprensa é provavelmente a forma mais antiga de incentivo fiscal à cultura no Brasil. Acho que vem dos anos 50. Não sou contra ela. Ao contrário, sou muito a favor, tanto para os jornais quanto para os teus shows. Só sou contra a hipocrisiazinha vingativa -e boba- travestida de jornalismo investigativo."
É um aspecto a ser pensado por mim e por você, Silvana.
O ministro da cultura disse que achava desequilibrada a decisão da comissão (no meu caso como no de Bethânia e no de Fernanda Montenegro). Se não fosse assim, o produtor da minha turnê que se virasse para fazê-la seguir ou a suspendesse. Eu não ligo a mínima. O ministro quer mudar a lei. Seja como for, hoje todos a usam.
Mas eu não peço isso a ninguém. Conversei depois com Maurício Pessoa (o produtor contratante) e ele me disse que, sem isso, não teríamos espetáculos como o de Juazeiro do Norte, em que os ingressos custavam R$ 30. Mas eu não faço essas contas. Por mim, os ingressos todos dos meus shows deveriam ser menos caros porque o público que tem muito dinheiro é, em geral, muito careta -e eu não sou careta. Muitas pessoas que se identificam com o que faço não podem, em certas cidades, ir ver o meu show. Quem quer que me contrate deverá, contando ou não com isenção fiscal, tentar resolver essa questão, que me interessa. O resto -os casos jornalísticos de excitação por tentar destruir reputações- não me interessa.

FOLHA - Se a velhice traz a conclusão de que "o pior já passou", como diz no filme, o que foi o seu pior?
.
CAETANO - Não é bem uma conclusão. É a constatação de que não se pode pôr tudo na conta da velhice. Alguns podem viver o pior de suas vidas aos 17, ou aos 35, ou aos 42, e atravessar a velhice com alegria e paz.
No filme, não falava de mim. Sou um cara que tem saudades da juventude -não do tempo em que fui jovem, mas da juventude em si, do equilíbrio e da elasticidade do corpo, da força dos cabelos, o jato de urina forte, as ereções firmes, a alegria física da juventude.
Mas não sou burro e sei que não é impossível alguém ter, no cômputo geral, mais alegria na velhice. Reconheço que há vários aspectos da minha vida que melhoraram -e ainda desejo melhorar mais. Algumas coisas, no entanto, não podem deixar de decair com a idade.
.
FOLHA - Você fala no filme de seu enterro. Teme a morte ou morrer?
.
CAETANO - Tenho medo das duas coisas. Mas tinha mais quando era mais moço e mais narcisista.

FOLHA - Numa cena, você se preocupa com sua voz. Como lidou com a perda vocal de Gilberto Gil? O filme revela sua recusa à maquiagem para a TV, por receio de "ficar com cara de político babaca". Que impacto teve em sua relação com Gil a decisão dele de ser ministro da Cultura?
.
CAETANO - Gostaria de ter podido persuadir Gil a poupar mais a garganta. Embora a voz brilhante e extensa que ele tinha fosse linda, a força de Gil está na musicalidade, no modo como toca o violão, como intui a rítmica de uma frase, como revela a consciência imediata das relações entre as notas. Isso não depende de voz limpa.
Quanto ao ministério, é sabido que eu lhe disse: "Lula já é um símbolo: você será o Lula do Lula". No fim, achei que ele foi mesmo um Lula do Lula. Só que isso, dadas as revelações da personalidade pragmática do político Lula, não teve o caráter negativo que eu temia.
.
FOLHA - Em "Coração Vagabundo" você diz que "a pobreza termina resultando espiritualmente". Trata-se de um pensamento religioso de alguém que se diz antirreligioso?
.
CAETANO - Não. Essa nossa carne cuja existência percebemos é um fato espiritual o tempo todo. Já fui antirreligioso; depois, fui contra essa posição, que me parecia uma repressão da religiosidade. Passei a ser mais programaticamente antirreligioso, porque odeio hipocrisia e temo o fanatismo.

FOLHA - Em cena no Japão você fala da consciência de ser "racialmente suspeito'; em NY, diz-se distinto de quem nasceu acreditando estar no mundo. Hoje sente-se mais estrangeiro no lugar do que no momento?
.
CAETANO - Sempre estrangeiro. Sou um brasileiro brasileirista. Gosto de São Paulo porque é diferente do Brasil de Vargas e da Rádio Nacional. Mas odeio a cultura do desprezo a tudo o que ganhou ou ganha corpo no Brasil (inclusive Vargas e Rádio Nacional). Outro dia li um idiota desqualificando meu canto em "Zii e Zie" porque supostamente pareceria com Cauby Peixoto e Ângela Maria. Mas eu penso que os EUA só se salvarão quando entenderem Chico Buarque e Lulu Santos.

Folha - Você menciona sua "obra comportamental" em seu blog como parte do conjunto de sua carreira e de seu impacto na música popular brasileira. Você situa a cena de nudez de "Coração Vagabundo" como parte dessa "obra comportamental"? Se sim, ela não seria demasiadamente pudica? A propósito desse tema, você poderia dar sua opinião sobre a análise do ator Pedro Cardoso de que a nudez no cinema e na TV deixou de ser um ato de transgressão e se tornou uma expressão subliminar de pornografia para vender produtos ruins?
.
Caetano Veloso - Não decidi posar nu para o filme. Foi um acaso que o diretor achou engraçado mas pensou que a produtora fosse querer cortar. Ela não quis cortar. Eu nem opinei. Não ligo. Não acho nem pudico nem safado aquilo. Há uma foto em que apareço nu, feita pela Vânia Toledo, que pode se ver num número recente da revista TPM. É um nu muito mais nu do que esse do filme.

Quando vi "Hair", em 1969, em Londres, as pessoas ficarem nuas em cena era um acontecimento. Depois passou a ser mais comum. Mesmo assim, nunca deixou de provocar algum nervosismo. Liga-se a nudez ao sexo. E sexo não é uma coisa entre as outras. Um ginecologista não deixa de achar o corpo da mulher excitante só porque vê dezenas de mulheres nuas todos os dias.

As coisas que Pedro Cardoso disse têm fundamento. Lembro de Marcuse falando em dessublimação repressiva. Quando eu era garoto detestava a revista "Playboy". Aquilo não ajudou na construção da minha heterossexualidade. Mas há também algo com que não me identifico no papo de Pedro: parece que há um desejo de voltar atrás, uma reverência por um suposto passado mais moral, mais saudável e mais justo. Eu não acredito nisso.

Folha - Em sua passagem mais introspectiva no filme, você diz que a melancolia daquele momento tem a ver com coisas "da vida íntima, das quais não se fala". Pensei imediatamente em canções como "O Quereres", "Branquinha", "Não Enche", em que temos a impressão de ter acesso à sua intimidade afetiva. Pensei ainda até que ponto seria uma construção deliberada (e talvez distante da verdade mais íntima) a imagem pública que se construiu de sua relação com Paula Lavigne, a quem se atribui o papel de uma mulher dominadora e empresária sagaz e implacável. Você estabelece um limite de exposição da intimidade a que se permite em sua obra --tanto a artística quanto a comportamental? Qual é esse limite?
.
Caetano - "Branquinha" é uma canção conscientemente feita sobre e para Paulinha Lavigne. "O Quereres" foi conscientemente escrita sobre e para Cristina Mandarino. 'Não Enche" foi escrita contra as mulheres que prendem os homens. Paulinha era minha mulher na época, e, como respondi a um entrevistador na época, é claro que a música era, portanto, primeiramente para ela.

Mas a imagem pública que possa haver do que foi nosso casamento nunca pode ter nada a ver com o que se passava na intimidade. Paulinha é muito generosa, inteligente e engraçada. Nosso vínculo tinha aspectos que só eu e ela sabemos.

Não preciso traçar uma linha nítida entre o que se expõe e o que fica escondido. Muito do que é íntimo não dá para expor: a gente não tem nem como comunicar - e as pessoas não entenderiam. Mas lembro de que, quando escrevi "Verdade Tropical", tomei a decisão de revelar o máximo sobre mim sem entregar nada secreto ou delicado de pessoas com quem me relacionei a partir da infância.

Folha - Quando afirma que só viveria em Madri ou em Nova York, se tivesse que morar fora do Brasil, você acrescenta que essas são as cidades que os terroristas atacaram. Que relação exatamente você fez entre a sua escolha por essas cidades e o fato de terem sido alvo do terrorismo. Por que excluiu da lista Londres, em que você já viveu exilado e que também sofreu ataques terroristas recentes?
.
Caetano - Londres já estava fora da lista pois não era uma das cidades que eu escolheria para morar. O fato de as minhas duas escolhidas terem sido escolhidas também pelos terroristas para serem atacadas me veio à cabeça porque os fatos eram ainda recentes e porque comentando isso eu estava dando mostras de quanto me magoaram aqueles ataques.
Outro dia vi, sozinho no cinema, "Jean Charles". Chorei muito. Em primeiro lugar, Londres aparece linda como eu nunca achei: sente-se que o diretor (como seu personagem) experimenta deslumbramento diante de Londres. A roda gigante parece que é mais bonita do que a Torre Eiffel. Eu nunca senti isso em Londres.

Noto que a cidade hoje tem muito mais essas características parisienses de cidade central do mundo do que quando eu morei lá, mas não chega a me parecer um lugar uno e grandioso. Amo em Londres as virtudes algo melancólicas dos detalhes de civilidade relaxada: os bancos dos parques, os tipos dos letreiros, as marcas brancas no preto do asfalto. Quando eu morava lá não havia imigrantes brasileiros do tipo que há hoje. Tudo o que se passa entre a cidade e os personagens de Selton Mello, Vanessa Giacomo e Luiz Miranda me emocionou muito fortemente.