10.20.2009



Chega às lojas biografia de Erasmo Carlos

São quase cinco décadas de carreira em 68 anos de idade. Muitas histórias dessa jornada estão transcritas no livro “Minha Fama de Mau”, do cantor e compositor Erasmo Carlos. A biografia do artista chega às lojas com lançamento da Editora Objetiva.
No livro Erasmo fala sobre a infância humilde no Rio de Janeiro, conta sobre o relacionamento com amigos como Tim Maia e, claro, Roberto Carlos, e traça seu percurso até a consagração no cenário musical brasileiro. “Minha Fama de Mau” tem 368 páginas em formato 23 x 16 cm.
 
Franz Ferdinand no Brasil: confirmadas 4 datas
 
 
O Franz Ferdinand já tem quatro datas agendadas para trazer sua turnê para o Brasil. Mas os fãs ainda terão de esperar um pouco: os shows só acontecem em março de 2010.
A banda escocesa, que veio ao Brasil em setembro para se apresentar na cerimônia de entrega dos prêmios da MTV, está em turnê divulgando o mais recente álbum, "Tonight: Franz Ferdinand", lançado no início do ano.
Na ocasião, o grupo fez uma apresentação para mil pessoas no clube paulistano The Week. Apenas 500 ingressos foram postos à venda e eles se esgotaram em 15 minutos, de acordo com a produtora.

Confira o serviço dos shows que a banda faz no Brasil no próximo ano:

18/03/2010 - Porto Alegre/RS
Pepsi Onstage - Av. Severo Dullius, 1995
Horário: 22h00
Ingressos: R$ 80,00 (pista, 1º lote), R$ 100,00 (pista, 2º lote), R$ 120,00 (pista, 3º lote), R$ 150,00 (mezanino)
Vendas online: www.opiniaoingressos.com.br
Informações: 51 8401-0104 / www.pepsionstage.com.br
19/03/2010 - Rio de Janeiro/RJ
Fundição Progresso - Rua dos Arcos, 24
Ingressos: R$ 140,00 (inteira)
Informações: www.fundicaoprogresso.com.br
21/03/2010 - Brasília/DF
Informações: em breve
23/03/2010 - São Paulo/SP
Via Funchal - Rua Funchal, 65
Ingressos: de R$ 90,00 a R$ 300,00
Informações: www.viafunchal.com.br

Guerra no Rio de Janeiro

Enviado por Lucia Hippolito -

De novo a barbárie?

O Rio de Janeiro é, mesmo, uma cidade muito peculiar.
Aqui não existe, propriamente, o que conhecemos como “periferia”.
Acontecimentos mais, ou menos, intensos que se passam nas periferias das grandes cidades têm uma repercussão mais restrita, no máximo uma notinha na página 15, como costumavam dizer os velhos jornalistas.
No Rio não. Como os morros e as comunidades proliferam por toda a cidade, há um convívio muito próximo entre todas as classes sociais dentro do mesmo espaço urbano.
Assim, a Rocinha convive muito de perto com o IPTU mais caro da cidade, que é o de São Conrado. Convive também com mansões de classe alta na Gávea.
O mesmo acontece com o morro dos Macacos, em Vila Isabel, com o morro Dona Marta, em Botafogo (bem atrás da sede da Prefeitura), com os morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho em Ipanema. Para ficar apenas nesses exemplos.
Esta topografia muito peculiar confere alto grau de democratização ao Rio. Pobres e ricos desfrutam da mesma vista do mar, do Pão de Açúcar e do Corcovado.
Muitas comunidades do Rio são dominadas por traficantes de drogas que, vez por outra, entram em guerra pelo controle de pontos de venda.
Há também constantes confrontos com a polícia.
Tudo isto acontece também em outras cidades brasileiras. Ou mesmo em outros países.
Mas no Rio de Janeiro a repercussão é infinitamente maior. Um conflito numa favela de São Paulo, com todo o respeito, não repercute na imprensa brasileira e mundial, porque não afeta os Jardins nem a avenida Paulista.
Mas um confronto numa favela de Copacabana, por exemplo, é manchete em todo o mundo, porque Copacabana é conhecida no mundo inteiro.
Nada do que foi dito acima justifica a situação a que chegou o Rio de Janeiro em matéria de poder dos traficantes e do crime organizado.
Mas explica a repercussão mundial. É triste e muito ruim para a imagem do Rio, com ou sem Copa do Mundo ou Olimpíadas.
O fato é que há mais de 20 anos o país inteiro perdeu tempo numa desconversa a respeito do enfrentamento do crime organizado.
Enquanto a direita considerava que “bandido bom é bandido morto”, a esquerda se perdia em devaneios tentando atribuir raízes sociais à criminalidade – o que é uma tremenda injusta com os milhões de pobres deste país que não roubam nem matam.
Só muito recentemente é que se chegou à convergência. É preciso, sim, enfrentar com coragem o poder do tráfico e do crime organizado – claro, respeitando os direitos humanos e sem brutalidade policial – e, ao mesmo tempo, realizar ações sociais para afastar os jovens da tentação do dinheiro fácil do crime e do tráfico.
O que precisa ser recuperado no Rio de Janeiro é o poder do Estado: territorialidade, monopólio do uso legal da força e justiça. Em suma, os elementos constitutivos do que se costuma chamar de Estado moderno.
No Rio de Janeiro – e em outras cidades brasileiras também, vamos ser justos – há territórios onde o poder público não entra.
E não se trata apenas da polícia, mas da ambulância, do carro de bombeiros, do carteiro, do agente de saúde, do recenseador do IBGE. A perda da territorialidade pelo Estado é terrível.
Além disso, o poder público precisa recuperar o monopólio do uso legal da força. Não é mais possível que comunidades inteiras sejam reféns dos traficantes ou das milícias.
Não se pode admitir que um helicóptero da polícia seja abatido por artilharia antiaérea.
Como essas armas entram nos morros? Por que não se fiscalizam as fronteiras terrestres e marítimas? O que fazem o Exército, a Marinha e a Polícia Federal para coibir a entrada de drogas e armas nos morros do Rio?
E finalmente, a questão da justiça. Como sabemos, a Justiça brasileira é lenta, não protege os menos favorecidos.
A Lei de Execuções Penais é obsoleta e romântica. Recentemente, um preso de altíssima periculosidade teve direito a progressão de pena para regime semiaberto. O que fez ele? Fugiu e não apareceu mais.
Justificativa do juiz que concedeu a progressão de pena: as informações do sistema penitenciário eram de que o comportamento do preso tinha sido “exemplar”. Em seguida ficamos sabendo que o tal “cidadão” era suspeito de quatro mortes dentro do presídio!
Em suma, há muito para ser discutido, além da corrupção na polícia, além dos baixos salários dos policiais.
São temas importantes, mas não esgotam o assunto.
Não dá mais para o governo federal alegar que, constitucionalmente, o problema é do governo do estado.
Não dá mais para os prefeitos assistirem, impotentes, às suas cidades se transformarem em praças de guerra.
Está mais do que na hora de se pensar em entregar o controle da polícia nas capitais aos seus prefeitos – como acontece em todas as grandes cidades do mundo.
Assim como a cidade de São Paulo não pode ser tratada como Votuporanga – como todo o respeito àquela simpática cidade –, a cidade do Rio de Janeiro não pode ser tratada como Varre-Sai, o menor município fluminense – com todo o respeito etc., etc.
Está aí um bom tema para a campanha eleitoral de 2010

"Os jogos olímpicos vão reprecificar o Rio"

Léo Lince
O governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, e o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes, acompanhados das respectivas esposas, viajaram juntos para Copenhagen, onde foram abrilhantar a festa que escolheu a sede das olimpíadas de 2016. A viagem transatlântica, embora longa, foi tranqüila e confortável. O empresário Eike Batista, sem custos imediatos para o erário, cedeu aos governantes o mais luxuoso dos aviões de sua frota pessoal. Não houve registro de turbulência durante o vôo e muito menos depois dele. O clima segue festivo em nossa sereníssima República.
Em outras eras, quando uma aura de sacralidade envolvia o poder público, tal tipo de intimidade invocava falcatruas e poderia até ser capitulada como crime. Agora não. Os governantes se intitulam mascates. Governar é definido como intermediar grandes negócios e agenciar espetáculos. O desaparecimento momentâneo da linha que antes separava com nitidez o público do privado produz uma nova gramática. O que era promiscuidade agora é sinergia. O que chamam de parceria entre o público e o privado, por conta da primazia incontrastável dos pontos fortes do poder econômico, resultou na completa privatização das principais alavancas do poder político. Os governantes trabalham para os poderosos com alegria e método.
O avião cedido e a condição de maior financiador individual da campanha publicitária Rio-2016 (R$ 23 milhões) colocam Eike Batista em lugar de destaque no contexto descrito acima. Contexto, aliás, que explica o extraordinário entusiasmo do empresário com o espírito olímpico. Está com a corda toda. Ele, que já comprara o charmoso Hotel Glória, adquiriu também a empresa concessionária da Marina da Glória, onde estaciona o seu gigantesco iate, Pink Fleet, usado para festas que os governantes freqüentam e, nas horas vagas, alugado para passeios nas águas da Guanabara. Agora, como informa matéria de "O Globo" (13/10), o empresário teria levado para seus amigos do governo a idéia de construir, passando pelo território tombado dos jardins de Burle Marx, um trem suspenso ligando o Aeroporto Santos Dumont (que ele ainda não comprou) ao Hotel de sua propriedade, o Glória. Tremendo cara de pau.
A proposta é absurda, ainda mais quando se faz acompanhar de um argumento ameaçador: "não adianta ter parques no Rio se ninguém os usa". O Parque do Flamengo, uma preciosa obra de arte que desenha o perfil da metrópole carioca, está mais uma vez sob ameaça. Aliás, por ocasião da efeméride esportiva anterior, os jogos pan-americanos, esta mesma empresa que explora a Marina da Gloria, agora adquirida pelo miliardário, já praticara outro atentado contra o Parque. Avançou seus muros sobre o espaço tombado e transformou o viveiro de reprodução de mudas em estacionamento de automóveis. Caso típico de apropriação indébita que, apesar da grita geral, até hoje se mantém inabalável.
Em matéria de dupla página, o caderno Dinheiro da "Folha de S.Paulo" (13/10) nos fornece um detalhado perfil de Eike Batista. Um espanto. É o "homem mais rico do Brasil", diz a matéria, que também o define, talvez por conta da intimidade explícita com os governantes locais, como o novo "Rei do Rio". Franciscano ao revés, seu santo padroeiro é Francisco Pizarro, admirado por ter saqueado o ouro dos incas. Olimpíada para ele é uma corrida ao ouro, metal do qual ele declara gostar muito. Não há lugar para os valores imateriais em seus projetos e sonhos, tudo lá, coisa ou gente, aparece na forma sumária do código de barras. Comprou, está comprando, vai comprar. Uma frase do novo Midas explica tudo, inclusive a euforia febril da máquina mercante: "os jogos olímpicos vão reprecificar o Rio".
Rio, outubro de 2009.
Léo Lince é sociólogo e mestre em ciência política

As três informações essenciais de Cuba

A blogueira cubana diz que as chamadas “conquistas da revolução”são um mito e que só quem nunca morou na ilha pode ter admiração por

A cubana Yoani Sánchez, 34 anos, foi convidada a falar no Senado brasileiro e a comparecer ao lançamento de seu livro De Cuba, com Carinho (Contexto), em São Paulo. A obra, que chega às livrarias neste fim de semana, é uma coletânea de textos publicados por ela no blog Generación Y, o primeiro a ser criado em Cuba. Na internet, Yoani discorre livremente sobre o cotidiano do povo cubano, a ausência de liberdade e a escassez de gêneros de primeira necessidade - mas, bloqueado pelo governo, seu blog desdecuba.com/generaciony,só pode ser acessado fora da ilha. Sua vinda ao Brasil, na segunda quinzena de outubro, depende de improvável permissão do governo cubano. Nos últimos doze meses, ela solicitou visto de saída em dez ocasiões para atender a convites no exterior. O visto foi negado em três delas. Nas demais, os trâmites burocráticos demoraram tanto que ela desistiu. Com 1,64 metro e 49 quilos, Yoani é formada em letras e vive em Havana com o filho e o marido. Ela conversou com VEJA pelo celular.
Em discurso a respeito do seu pedido de visto, o senador Eduardo Suplicy citou o que considera três conquistas da revolução cubana: a alfabetização, o aumento da expectativa de vida e a medicina de qualidade. Se pudesse, o que você diria sobre isso em Brasília?

Eu diria que os laços entre países não devem ocorrer apenas entre governantes ou diplomatas. Quando se trata de Cuba, as estatísticas oficiais divulgadas pelas nossas embaixadas não podem ser levadas a sério. Sou defensora da diplomacia popular, aquela que se inteira da realidade diretamente com o cidadão. Não sou uma analista política. Não sou especialista em nenhum tema. Não sou diplomata. Simplesmente vivo e conheço a realidade do meu país. Aqueles que roubam o estado, que recebem dinheiro enviado por parentes do exterior ou fazem trabalhos ilegais vivem melhor que os demais. Uma pessoa que escreve em um blog pode ser condenada sob a acusação de fazer propaganda inimiga. Os outros países não podem repercutir o clichê de que Cuba é uma ilha de música e rum. É preciso olhar para o cidadão. Aqui, nós vivemos e morremos todos os dias.

Mas é verdade que 99,8% da população cubana é alfabetizada?

Antes da revolução, nosso país já ostentava um dos menores índices de analfabetismo da América Latina. Uma das primeiras ações do governo autoritário de Fidel Castro foi ensinar o restante da população a ler e escrever. A questão principal hoje não é a taxa de alfabetização, e sim o que vamos ler depois que aprendemos. A censura controla totalmente o que passa diante de nossos olhos. E isso começa muito cedo. As cartilhas usadas na alfabetização só falam da guerrilha em Sierra Maestra ou do assalto ao quartel de Moncada pelos guerrilheiros barbudos. Meu filho tem 14 anos. Na sala de aula dele há seis fotos de Fidel Castro. Tudo o que se ensina nas escolas é o marxismo, o leninismo, essas coisas. Não se sabe o que acontece no resto do mundo. A primeira vez que vi imagens da queda do Muro de Berlim foi em 1999, dez anos depois de ela ter ocorrido. Foi num videocassete que um amigo trouxe clandestinamente. Para assistir às imagens do homem pisando na Lua, foi necessário esperar vinte anos.

A expectativa de vida realmente aumentou?

É uma estatística oficial, sem comprovação, que não resistiria a um questionamento mínimo feito por uma imprensa livre. Pelo que vejo nas ruas, é difícil acreditar que os cubanos possam sobreviver tantos anos. Os idosos estão em estado deplorável. Há uma avalanche de dados que poderiam ilustrar o que digo, mas estes nunca são divulgados. Jamais fomos informados sobre o número de pessoas que fogem da ilha a cada ano. Ninguém sabe qual é o índice de abortos, talvez o mais alto da América Latina. Os divórcios são inúmeros, motivados pelas carências habitacionais. Como há cinquenta anos quase não se constroem casas, é normal que três gerações de cubanos dividam uma mesma residência, o que acaba com a privacidade de qualquer casal. Também nunca se falou do número de suicídios, um dos mais altos do mundo.

Cuba tem mesmo uma medicina avançada?

O país construiu hospitais e formou médicos de boa qualidade na época em que recebia petróleo e subsídios soviéticos. Com o fim da União Soviética, tudo isso acabou. O salário mensal de um cirurgião não passa de 60 reais. A profissão de médico é hoje a que menos pode garantir uma vida decente e cômoda. A carência nos hospitais é trágica. Quando um doente é internado, todos os seus familiares migram para o hospital. Precisam levar tudo: roupa de cama, ventilador, balde para dar banho no paciente e descarregar a privada, travesseiro, toalha, desinfetante para limpar o banheiro e inseticida para as baratas. Eles não devem esquecer também os remédios, a gaze, o algodão e, dependendo do caso, a agulha e o fio de sutura.

A dança das décadas

Pilar Fazito

Em mil-novecentos-e-refrigerante-com-rolha, a chegada aos trinta anos vinha com uma chacoalhada existencial, uma pausa para uma angustiada reflexão, já que a expectativa de vida não passava muito dos sessenta. Nesse tempo, os trinta marcavam um conjunto de metas que deveriam ter sido cumpridas até o dia do aniversário do sujeito: emprego sólido e bacana, marido ou mulher minimamente apresentáveis à sociedade, filhos pródigos, uma casa com uma cerca branca e um beagle correndo pelo jardim. Daí em diante, haveria mais trinta anos para ver os filhos crescerem e os netos nascerem. Já a aposentadoria era considerada a antessala da morte.
Hoje, a expectativa de vida beira os oitenta e quem chega aos trinta sente que mal saiu da adolescência. Ainda há uma pá de coisas a fazer e um monte de gente e lugar para conhecer antes de se dedicar à procriação e à perpetuação da espécie.
O fato é que a velhice é a última coisa que passa pela cabeça de um jovem de vinte anos e a penúltima que passa por quem está na casa dos trinta. Quando a gente começa a contabilizar o tempo das amizades em décadas, ou quando aquele primo que vimos nascer vem nos entregar o convite de formatura, parece que a nossa estrutura espaço-temporal sofre uma espécie de tilt. Mas a gente não dá muita bola para isso e continua a viver como se a imortalidade fizesse parte dos nossos super poderes.
Então, todo mundo começa a se casar e a gente começa a também contabilizar em décadas o tempo de exercício profissional e de fim de namoro. Na primavera, crianças nascem por todo lado, na proporção de um pimpolho para cada flor que brota na cidade; a gente se dá conta de que faz quase trinta anos que E.T. estreou no cinema e que, não, Belinas e Caravans não são mais carros seminovos.
Por mais que a gente tente ignorar que as moiras já fiaram mais de um terço do nosso novelo do tempo, estão todos lá: as moiras, as moscas e os relógios derretidos de Salvador Dalí; todo mundo celebrando a morte diária das nossas células.
Quem luta contra o tempo acaba caindo na patética resistência às mudanças. Não tem coisa mais fofa e engraçadinha do que um adolescente cabeludo, seja à moda riporonga, punk ou metaleira. Não tem coisa mais decadente do que manter esse "papel" depois dos trinta.
Mas a gente começa a sentir que o tempo está passando mesmo quando a força da gravidade faz sentir seus efeitos, jogando tudo no chão: cabelo, pele, músculos. Haja abdominal para manter tudo no lugar. Haja ginástica facial, Botox, colágeno... A preocupação com a celulite cede lugar às rugas, muitas delas causadas pelas juvenis preocupações com a celulite. Como se não bastassem as questões estéticas e fúteis, o corpo começa a dar sinais de disfunções estruturais: dá-lhe diabetes, hérnia de disco, hipertensão e toda a letra titânica do "Pulso ainda pulsa".
Há quatro anos carrego um disco lombar rompido, o qual carinhosamente chamo de Clotilde. Achei que essa hérnia merecia um nome, já que ela tem vontade própria. Ela não pode ser operada e, por isso, tivemos - ela e eu - que aprender a conviver de forma mais ou menos pacífica. Por duas vezes, entretanto, tivemos sérias desavenças e, em ambas, Clotilde ficou emburrada por um mês, negando-se a trabalhar, como sempre fez. Nesses casos, sou obrigada a ficar deitada no chão, rodeada de bolsas de água quente, travesseiros sob as pernas e à base de antiinflamatórios que irritam o estômago, fazem o cabelo cair, mas ao menos acalmam a raiva de Clotilde.
Na primeira vez em que isso me ocorreu, passou-me pela cabeça, por um certo momento, a estúpida ideia de que nunca mais andaria novamente. É que a gente só dá valor ao que tem depois que perde, mesmo que momentaneamente. E naquele instante foi duro perceber que eu não estava cuidando da minha coluna como deveria. Só depois de arrebentar meu disco lombar é que passei a dar mais valor à minha capacidade de locomoção e à liberdade de ir e vir. Para piorar, do chão eu observava meus sobrinhos entrarem correndo pela casa e me perguntava onde eu havia deixado a minha elasticidade infantil, as estrelas, cambalhotas e as bananeiras que eu plantava encostada na parede.
Não é só um corpo que cai. Não sei bem o que acontece entre os 27 e os 33, mais especificamente, mas parece que no meio desses números inteiros aí a gente se parte. Em dois pedaços ou mais.
Aos 27, a gente não titubeia em aceitar um programa tosco de viagem "zero-oitocentos" pro carnaval de Salvador, dividindo com vinte e cinco amigos uma quitinete e um único banheiro com chuveiro frio. Quando tem água.
Aos 33, a gente pensa no que tem para fazer no dia seguinte, antes de cogitar qualquer saída para uma "balada". Aliás, a cama e o lar, de repente, ganham contornos muito mais convidativos do que a ideia de sair de casa, aturar um monte de gente bêbada, chegar em casa cansado e ainda ter que pagar por tudo isso. Uma boa noite de sono e a certeza de não ter olheiras pela manhã passam a ter um valor bem maior.
Os gostos mudam, as preocupações mudam, as conversas, idem. O papo, agora, é filho, marido/mulher, uma promoção, a troca do carro, a compra de um apartamento, a poupança, o plano de saúde, o plano odontológico, a viagem de férias, o tratamento estético e, se sobrar dinheiro..., "será que esse negócio de previdência privada vale mesmo a pena?"
Mas os 30 ainda não são os 40. E os 40 não são os 50. E os 50, definitivamente, não são os 60. A geração de hoje que tem mais de 60 parece rejuvenescer a cada dia. Do mesmo modo que um portal para outra dimensão etária se abre entre os 27 e os 33, parece que depois dos 60 a classe média encontra o caminho de volta. A lógica é outra: finalmente, os filhos estão crescidos, a casa já tá paga, a aposentadoria saiu e o sujeito não tem mais a necessidade de "engolir sapos" ou de ouvir calado a disparates de quem quer que seja.
É bem verdade que os remédios e tratamentos são mais caros e a saúde já não permite fazer tantas estripulias - embora eu conheça e inveje uma senhora de 90 que até os 87 andava sozinha de jetski. Mas o fato é que os pós-sessentanos andam muito saidinhos e os programas da terceira idade de clubes, associações e instituições chegam a ser mais animados do que muita noitada teen.
Enfim, ainda não sei como são os 40, 50 e 60 em diante, mas já deu pra saber que o tempo passa para todos. E embora essa assertiva faça parte do senso comum e, portanto, não traz nada de novo para o desenvolvimento da humanidade, rende algumas crônicas, além de despertar reflexões periódicas sobre os nossos projetos de vida. Nessas ocasiões, a gente tem a oportunidade de reconhecer o valor das escolhas que fizemos. E depois que a melancolia do saudosismo passa, a gente acaba empolgando e perguntando "tem mais?"
Pilar Fazito
Belo Horizonte, 5/10/2009