9.29.2009

                   Entrevista
Diretor de '500 dias com ela', Marc Webb fala de música, internet e cinema



RIO - "Um cara conhece uma garota. Ele se apaixona. Ela não". Esta história de amor mal sucedida resumida no cartaz do filme é o mote da comédia romântica "500 dias com ela", bombom indie que integra a mostra Panorama do Festival do Rio 2009. O longa é a estreia no cinema do premiado diretor de videoclipes americano, Marc Webb, de 35 anos, que participa da sessão de gala no Cine Odeon, nesta terça-feira, às 19h15.

O filme foi uma das revelações do Festival de Sundance deste ano e vem colecionando críticas positivas por onde é exibido. Segundo o cineasta, a boa recepção do filme se deve à busca de romper com os clichês das comédias românticas tradicionais.
- Não acho que "500 dias com ela" seja revolucionário, mas ele é diferente. Há uma fórmula que está ficando esgotada. Eu gostaria de dizer que os estúdios estão buscando uma forma de quebrar isso, mas não sei se é bem o que está acontecendo. Acho que é o público que quer ver algo diferente. Há um mercado de pessoas jovens interessadas em formatos diferentes. E elas têm um gosto mais sofisticado do que se pensa - explica Webb.
"500 days of Summer" (no original) conta a história do romântico inveterado Tom (Joseph Gordon-Levitt, de "10 coisas que odeio em você"), que se apaixona pela descolada Summer (Zooey Deschanel, de "Sim, senhor"), que não acredita no amor. A história dos dois é contada de forma não linear - intercalando encantamento e desilusão - recheada de referências rock que vão de The Smiths e The Clash até "Sid e Nancy" - essa última com direito a um divertido vídeo publicado na internet em que Zooey e Gordon-Levitt reproduzem uma cena trajados, respectivamente, como o falecido Sex Pistol Sid Vicious e sua amada Nancy Spungen.
- Esse filme é baseado em uma história real. A cena no elevador aconteceu. Com aquela música do The Smiths ("There is a light that never goes out"). É sobre pessoas reais, em situações reais, com que a gente pode se identificar - revela.
Com canções que vão de Simon & Garfunkel a Wolfmother - passando pela primeira dama da França Carla Bruni e pelo projeto da atriz Zooey Deschanel, o disco "She & Him" - a trilha sonora é um dos pontos altos do filme. Mas a música não funciona apenas como pano de fundo, é um elemento importante da história.
- Há várias cenas em que a letra da música ajuda na narração. É o caso de uma música de Regina Spektor, "Hero", em que a letra diz explicitamente o que só pode ser visto implicitamente nos diálogos da cena - conta o diretor.
A combinação de referências músicais, narrativa diferenciada e boas críticas gerou um burburinho sobre o filme na internet. Para Webb, a rede quebra as barreiras entre o cineasta e o espectador e fica cada vez mais difícil para os estúdios conseguir vender filmes ruins.
- As notícas se espalham. E isso também dá vida a filmes que são bons e que não têm dinheiro suficiente para gastar com circuitos promocionais tradicionais. Mas ainda é uma influência limitada. Campanhas de marketing, trailers e propagandas de TV ainda têm um poder muito grande. Porém, quando uma coisa simples assim encontra uma conexão com seu público-alvo na internet, é muito importante para o filme - conclui.

(500) DIAS COM ELA (LP) - 14 anos. TER (29/9) 19:15 Odeon Petrobras. QUI (1/10) 14:00 Cinemark Downtown 1. QUI (1/10) 19:00 Cinemark Downtown 1. DOM (4/10) 16:30 Leblon 1. DOM (4/10) 21:30 Leblon 1. SEG (5/10) 16:30 Roxy 3. SEG (5/10) 21:30 Roxy 3.


Tenso e preocupado, Fábio Assunção passa no teste do tapete vermelho


RIO - Nesta segunda-feira, o tapete vermelho do Odeon foi estendido para a première do filme "Bellini e o demônio". Grande parte das atenções, no entanto, não estava voltada para a primeira exibição do longa no festival. O evento marcou a volta de Fábio Assunção, afastado por conta de um tratamento para dependência química. Era a prova de fogo do ator, que protagoniza a produção baseada no livro do titã Tony Bellotto. Visivelmente assustado, ele conseguiu se sair bem.
Fábio foi um dos últimos a aparecer no cinema do Centro do Rio. Enquanto não chegava, os convidados eram bombardeados com perguntas sobre o estado do ator.
- Não estive com ele desde o fim das gravações. - esquivou-se o diretor do filme Marcelo Galvão.
- Vim aqui para prestigiar meu grande amigo Fábio. Tenho certeza de que ele vai estar grandioso no filme. - despistou o ator Rodrigo Santoro.
Fábio chegou ao lado da namorada Karine Tavares faltando três minutos para o início da sessão, que estava marcada para as 21h45m, mas só começou às 22h20m. Posou para fotos e pouco falou sobre os problemas que o levaram a abandonar, no ano passado, as gravações da novela das seis "Negócio da China".
- Estou me sentindo bem e espero que o filme tenha uma carreira ótima. O primeiro ("Bellini e a esfinge", de 2000) foi lançado aqui e levou o prêmio principal. Fico muito feliz de estar lançando o segundo no festival também - afirmou.
Assim que entrou no cinema, ele recebeu cumprimentos de amigos como os atores Marcelo Serrado, Marcos Pasquim e Giulia Gam. Antes de assistir ao filme, fez questão de tirar fotos com Tony Bellotto e Malu Mader.

- Ele é um grande amigo. Estou muito feliz por ele. - disse Giulia.


Vestindo paletó listrado e calça jeans e usando uma boina na cabeça ("É para esconder as entradas", brincou), Fábio não parava de se queixar do calor. A mão inquieta e o discurso treinado denunciavam seu medo de ser confrontado com perguntas pessoais.

" Estou honrado por fazer esse filme. Quero rodar o terceiro "
Ao entrar na sala de projeção, pediu para ficar nos fundos. Mas foi convencido por uma assessora a sentar-se na frente, em um dos assentos reservados para a equipe da produção.
- Estou honrado por fazer esse filme. Quero rodar o terceiro ("Bellini e os espíritos", o terceiro livro da série). Obrigado por virem assistir ao trabalho da gente. - discursou o ator antes da exibição.
Ao final da sessão, veio o alívio. Toda a equipe saiu para comemorar a boa recepção do público carioca. Menos Fábio, que preferiu entrar no carro e ir embora junto com a namorada.

Piraí Fest homenageia 90 anos de Virgínia Lane


Entre os dias 8 e 12 de outubro será realizado na cidade de Piraí o 8° Piraí Fest. Além de shows com Bruno & Marrone, Jammil, Jeito Moleque, João Bosco, Dudu Lima e a cantora gospel Alda Célia, o 8° Piraí Fest, maior festival cultural e gastronômico do Sul Fluminense, terá uma homenagem especial à Virgínia Lane, que escolheu Piraí como residência. Virgínia, que já tem espaço fixo na galeria da Casa de Cultura de Piraí, será homenageada com a exposição especial, que contará os 90 Anos da Vedete do Brasil e estará aberta à visitação durante os cinco dias do evento. As apresentações dos shows ocorrerão em três palcos – Centro de Eventos, Praça da Preguiça e Praça da prefeitura.

Cinco anos após estourar, Céu volta à cena e defende 'o silêncio para enxergar as coisas'

Renato Lemos


Bubuia, segundo o idioma do povo do Norte do país, é a mesma coisa que borbulha, aquela espuminha que fica boiando por cima da água quando a onda passa. Céu gostou da palavra. Mais que isso, gostou da imagem que ela lhe proporcionou. Na quarta faixa de seu novo CD, "Vagarosa", ela - ao lado de Thalma de Freitas e Anelis Assumpção - canta as delícias da sua descoberta. A música ("Eu vou/ na bubuia eu vou", cantada num ritmo beeem lento) serve de senha para entender o que anda se passando na cabeça da cantora. Céu agora vai na bubuia.

- É uma espécie de "Deixa a vida me levar", é o jeito que ando vendo a vida.

Isso pode ser comprovado pelo tempo que demorou para lançar seu segundo disco: cinco anos. Entre um trabalho e outro, deu para a cantora fazer shows por todo o Brasil, ser indicada ao Grammy (perdeu para Angélique Kidjo, do Benin), ter a filha Rosa (homenageada no CD com uma versão de "Menina Rosa", de Benjor), cantar "Wave" na abertura do Pan 2007, emplacar três músicas em novelas, alcançar a melhor posição de um artista brasileiro no ranking da "Billboard" desde Astrud Gilberto com "Garota de Ipanema", em 1963, compor minuciosamente o novo repertório e, claro, descansar um bocado. O disco - como tudo em torno da cantora - pode ser visto assim: calmo, desacelerado, quase preguiçoso.

- Não sei se gosto muito do rótulo de preguiçosa, mas nos últimos tempos eu tenho valorizado cada vez mais o silêncio e a calma para enxergar as coisas. Acho que a gente tem que se virar sempre para as raízes, recuperar aquela história do menos é mais. Isso vale pra tudo - diz a cantora, que aproveitou o nascimento da filha, há um ano e três meses, para desacelerar de vez. - As pessoas estão sempre pensando no que pode acontecer e desvalorizam o momento em que vivem. Claro que é importante ganhar dinheiro, mas tem que saber pra quê, né? Não entro nessa. Olha só o trânsito. Isso é um inferno!

Videoinstalação de Neville D'Almeida abre centro cultural em Ipanema

Cláudia Amorim

RIO - O Oi Futuro chegou a Ipanema. Instalado num prédio art déco de 1.500 metros quadrados e dois andares, o centro cultural no início da Rua Visconde de Pirajá foi aberto na quinta-feira ao público, com galeria, café, a escola Oi Kabum! e uma sala com 130 lugares.
A videoinstalação "ipanemAldeia", de Neville D'Almeida e com curadoria de Alberto Saraiva, inaugura a programação da galeria de arte do prédio, que recebe também este fim de semana a mostra Pocket Films, do Festival do Rio.
- Esse trabalho, com imagens do inverno de Ipanema, é uma homenagem ao bairro. E segue a nossa linha de multiplicidade e convergência de linguagens, mostrando o lado videoartista de um cineasta - diz Maria Arlete Gonçalves, diretora de cultura do Oi Futuro.

'ipanemAldeia'
 Oi Futuro Ipanema.
A videoinstalação de Neville D'Almeida abre a galeria de arte contemporânea do novo centro cultural. Até 8 de novembro. Rua Visconde de Pirajá 54, Ipanema - 3201-3000. Ter a dom, das 13h às 21h.

Erasmo celebra vício jovial no show 'Rock'n'Roll'

MAURO FERREIRA


Foi com a voz e imagem intencionalmente distorcidas que Erasmo Carlos apareceu, através do telão, no palco da casa carioca Vivo Rio, onde estreou a turnê nacional de seu show Rock'n'Roll na noite de sexta-feira, 25 de setembro de 2009. Como se fosse um dependente químico, o Tremendão dá um depoimento hilário para no fim confessar que seu vício irrecuperável é o rock'n'roll, celebrado no álbum de inéditas lançado em maio. Por essa genial abertura, o espectador já intui que o show vai ser uma festa de arromba. E é mesmo. Jovial como o CD que o inspirou, o show Rock'n'Roll junta Erasmo a músicos da nova geração. Nada menos do que três integrantes da banda - Pedro Loppez (baixo), Luiz Loppez (guitarra) e Alan Fontenele (bateria) - são oriundos do grupo Filhos da Judith, atuante na cena indie carioca. Eles injetam sangue novo numa banda que destaca previsivelmente as guitarras, tocadas em alto e bom som por Luiz, Billy Brandão e pelo pré-histórico Dadi, momentaneamente fora do seu ofício de baixista. No bis, Erasmo ainda convocou Liminha, produtor do disco, para subir ao palco e encorpar a banda como guitarrista em Cover - número valorizado pela inusitada invasão do palco por sósias de ícones do rock e da cultura pop como Elvis Presley (1935 - 1977), Marylin Monroe (1926 - 1962) e Roberto Carlos - e em Festa de Arromba, que termina num duelo de guitarras que evoca o espírito do bom e velho rock'n'roll que ainda anima Erasmo. Dez!
Aos 68 anos, Erasmo Carlos poucas vezes soou tão jovem em cena. Há todo um cuidado no show - desde as projeções até as hilariantes tiradas cênicas da abertura e dos covers - que faz de Rock'n'Roll o melhor espetáculo apresentado pelo artista nos últimos 20 anos. É fato que algumas músicas do disco novo, caso de Jogo Sujo, não renderam tudo o que poderiam na estreia. Chuva Ácida - para citar mais um exemplo - também caiu sem impacto no roteiro. São números que certamente ficarão mais azeitados e ajustados quando o show for para a estrada com seu repertório que engloba (quase) todos os grandes sucessos da carreira do cantor. Na intenção de contentar o público, Erasmo tocou somente metade das 12 músicas do álbum Rock'n'Roll, ignorando petardos como Um Beijo É um Tiro, parceria sua com Nando Reis. Mas é justamente essa preocupação com a satisfação popular que faz com o que o show tenha um mágico clima de celebração. Tanto que, nos refrãos de Sentado à Beira do Caminho e É Preciso Saber Viver, o cantor direciona o microfone para a platéia para que o público cante com ele num coro forte e popular.
"Rock'n'Roll não é somente rebeldia e contestação. É amor também", ressalta Erasmo, quase se justificando por cantar Mulher e Minha Superstar, sucessos radiofônicos que deram novo impulso à sua carreira no início dos anos 80. Conceitos à parte, entre músicas novas e velhas, Erasmo fez a festa. Os efeitos dos teclados de José Lourenço deram outra pele ao Negro Gato em constraste com a placidez bossa-novista do número seguinte, Noturno Carioca, parceria de Erasmo com Nelson Motta. Mais tarde, o peso das guitarras encorpa o Panorama Ecológico - tema pioneiro na defesa das causas ambientais - e dá tom heavy a Quero que Vá Tudo para o Inferno, o avassalador sucesso de Roberto Carlos em 1965, atualmente renegado pelo Rei por manias e por convicções religiosas. Os ótimos arranjos valorizam e renovam as músicas. Rock'n'Roll reitera a certeza de que Uma Guitarra É uma Mulher é, aliás, uma das grandes faixas do CD homônimo do show. E de que os sucessos das velhas tardes de domingo - Lobo Mau, Minha Fama de Mau, Vem Quente que Eu Estou Fervendo - continuam jovens como esse tremendo roqueiro quase setentão que, sem pudores, continua devotado aos vícios de sua juventude.