8.12.2009

Auryston Franco no Bela Vista

O músico pianista Auryston Franco se apresenta neste sábado, dia 15 de Agosto,a partir das 12:00 no Hotel Bela Vista, em Volta Redonda. Auryston estará acompanhado dos músicos Adriano Pinheiro (guitarra) e Ailton Lino (percussão). O repertório vai de bossa nova aos clássicos internacionais do jazz com destaque para Tom Jobin, Chico Buarque, Bill Evans. No dia 20 de Agosto, Auryston Franco faz show solo na Vila Santa Cecília, em Volta Redonda. Sob a Biblioteca Municipal, numa promoção da Secretaria Municipal de Cultura de Volta Redonda.
SHOWS FIM DE SEMANA

DOCES CARIOCAS
Formado a partir dos saraus organizados pelo casal de cantores Pierre Aderne e Alexia Bomtempo, o conjunto conquistou o Prêmio 2009 de Música Brasileira na categoria melhor grupo de canção popular, pelas gravações de seu disco de estreia, e agora vai registrar o primeiro DVD, batizado Pouso de Folia. Na noite de gravação, Aderne e Alexia tentarão reproduzir o clima festivo dos encontros que reuniam nomes como Thais Gulin , Gabriel Moura, Dadi, Edu Krieger, Anna Luisa e Mú Carvalho. Os três últimos fazem participações especiais. No repertório, Quanto Tempo e O que Será que Te Excita?, além das inéditas Pedro e Pedra e Feira do Troca. Livre. Espaço Tom Jobim (500 lugares). Rua Jardim Botânico, 1008, Jardim Botânico, 2274-7012. Quinta (13), 20h30. Bilheteria: 14h/18h (seg. a qua.); a partir das 14h/20h30 (qui.). R$ 50,00. Estac. grátis a partir de 17h.

EMMERSON NOGUEIRA
Conhecido por suas releituras para sucessos do pop rock internacional, o músico retoma a fórmula que o consagrou e apresenta as faixas do quarto volume da série Versão Acústica. Foi esse o trabalho que transformou o mineiro em fenômeno de vendas, com seis discos de ouro e três de platina. Desta vez, Nogueira ataca de Supertramp (Hide in Your Shell), Black Sabbath (Changes), Elton John (Rocket Man), Pink Floyd (Shine on You Crazy Diamond) e Seal (Kiss from a Rose). 15 anos. Canecão (2?000 lugares). Avenida Venceslau Brás, 215, Botafogo, 2105-2000. Sexta (14), 22h. R$ 60,00 a R$ 120,00. Bilheteria: 12h/ 21h20 (seg. a qui.) e a partir de 12h (sex.). Cd.: todos. IC e TT. www.canecao.com.br.

FAFÁ DE BELÉM
A intérprete revisita os clássicos de Água (1977), disco que serviu como um Programa de Aceleração do Crescimento de sua carreira. Foram quase 100?000 cópias vendidas. Entre as pérolas previstas estão Foi Assim, Sedução, Raça, Ontem ao Luar e Pauapixuna. Integram a banda o violonista Chiquinho Braga, o baterista Ricardo Costa, o saxofonista e flautista Zé Canuto e o baixista Zeca Assumpção. Com participação da filha de Fafá, Mariana Belém. 15 anos. Canecão (2?000 lugares). Avenida Venceslau Brás, 215, Botafogo, 2105-2000. Sábado (15), 22h, e domingo (16), 20h30. R$ 60,00 a R$ 120,00. Bilheteria: 12h/21h20 (seg. a sex.); a partir das 12h (sáb. e dom.). Cd.: todos. IC e TT. www.canecao.com.br.

IVAN LINS E CLAUDIO LINS
Pai e filho fazem temporada de duas semanas do show 1+1 para mostrar o repertório de seus respectivos últimos discos: Ivan Lins e Metropole Orchestra e Cara. Os dois dividem o piano para cantar as músicas um do outro. No repertório, antigos sucessos de Ivan, como Lua Soberana e Lembra de Mim, misturam-se ao samba Sou Eu – parceria dele com Chico Buarque, gravada por Diogo Nogueira – e às novas composições de Claudio, a exemplo de Bala Meia-Volta e Dois Voando. 16 anos. Teatro Rival Petrobras (472 lugares). Rua Álvaro Alvim, 33, Cinelândia, 2240-4469, Metrô Cinelândia. Quinta (13) a sábado (15), 19h30. R$ 60,00 a R$ 70,00. Bilheteria: 13h30/19h30 (seg. a sáb.). TT. www.rivalbr.com.br.

JAN DUMÉE QUARTET
Ex-integrante da banda de rock progressivo Focus, o guitarrista sobe ao palco na companhia dos músicos brasileiros Kiko Continentino (piano e teclado), Paulo Russo (contrabaixo) e Márcio Bahia (bateria). A jam session inclui composições de Hermeto Pascoal, Miles Davis, Toninho Horta e Wes Montgomery. Não está garantido, mas pode aparecer uma ou outra música do Focus em roupagem jazzística. 18 anos. Santo Scenarium (120 lugares). Rua do Lavradio, 36, Centro, 3147-9007. Quinta (13), 20h. R$ 8,00. Cc.: todos. Cd.: todos. santoscenarium.blogspot.com.

JONAS SÁ
Dono de um timbre de voz que às vezes lembra o de Lulu Santos, mas bastante original em suas composições e interpretações pop, o cantor e compositor volta a exibir o repertório do ótimo disco Anormal. Além da faixa que dá nome ao álbum, Sá apresenta Melhor Assim, Sayonara, Tenha Um Bom Dia e Dr. Sabe Tudo. Entre as inéditas, estão previstas Safo e Lawful good. 18 anos. Estrela da Lapa (400 pessoas). Avenida Mem de Sá, 69, Lapa, 2507-6866. Quinta (13), 22h. R$ 25,00. www.estreladalapa.com.br.

MARIA GADÚ
Aposta da gravadora Som Livre, que lançou seu disco de estreia, a cantora e compositora paulistana de voz levemente rouca apresenta ao público o hit Shimbalaiê, sucesso nas rádios que ela criou quando tinha apenas 10 anos. Depois de mostrar as faixas do disco na Varanda do Vivo Rio, Maria faz curta temporada em Ipanema. Boa parte do programa é autoral, mas também estão previstas versões para Ne Me Quitte Pas, de Jacques Brel, e A História de Lily Braun, de Chico e Edu. Do disco, outra candidata a hit é a versão blues do pancadão Baba, Baby, de Kelly Key. 18 anos. Posto 8 (386 pessoas). Avenida Rainha Elizabeth, 769, Ipanema, 2523-1703. Quinta (13), 21h30. R$ 30,00. Bilheteria: 16h/22h (ter. e qua.); a partir das 16h (qui.).

MARIO ADNET E ORQUESTRA TOM JOBIM.
Depois de apresentar alguns afro-sambas inéditos no show de lançamento de Afrosambajazz, ao lado de Philippe Baden Powell, filho do compositor, o músico se debruça sobre a obra de Tom Jobim, em show com repertório exclusivo do maestro. A orquestra que inclui oito instrumentos de sopro apresenta, entre outras, Valsa de Porto das Caixas, Surfboard e Bate Boca. É um belo panorama do rico legado jobiniano. Livre. Auditório do BNDES (300 lugares). Avenida Chile, 100, Centro, 2172-7757, Metrô Carioca. Quinta (13), 19h. Grátis. Distribuição de senhas uma hora antes.

MAX SETTE
Um dos responsáveis pelos metais da Orquestra Imperial, o trompetista, cantor e compositor lança seu primeiro trabalho autoral em parceria com o baterista Wilson das Neves. A voz não é potente, mas dá conta do recado em boleros e sambas típicos de gafieira que recheiam o disco O que Se Passou. 18 anos. Rio Scenarium (1?000 pessoas). Rua do Lavradio, 20, Centro, 3147-9000. Quinta (13), 22h. R$ 15,00. Cc.: todos. Cd.: todos. www.rioscenarium.com.br.

PEDRO LUÍS E A PAREDE
De volta de turnê pela Europa, e vencedora do Prêmio de Música Brasileira na categoria melhor grupo de MPB, a banda mostra o disco Ponto Enredo. Uma das faixas, Luz da Nobreza, é sucesso nas rádios em versão com Roberta Sá, mulher do vocalista. Além das novas 4 Horizontes, Santo Samba e Tem Juízo Mas Não Usa, o grupo revisita antigos sucessos como Menina Bonita, Caio no Suingue e Seres Tupy. 16 anos. Varanda do Vivo Rio (1 000 lugares). Rua Infante Dom Henrique, 85, Aterro do Flamengo, 2272-2900. Quinta (13), 21h30. R$ 25,00. Bilheteria: 12h/21h (seg. a qua.); a partir das 12h (qui.). Cc.: M e V. Cd.: R e V. Estac. c/manobr. (R$ 12,00). IR. www.vivorio.com.br.

ÁUREA MARTINS
De voz segura e forte, Áurea Martins conquistou o Prêmio 2009 de Música Brasileira na categoria melhor cantora, pelo desempenho no disco Até Sangrar. No palco, a dama da noite, como é conhecida, faz jus ao título com interpretações emocionantes para Alvorada, de Cartola, e Embarcação, de Francis Hime e Chico Buarque. Ela se apresenta acompanhada pelo trio formado por Fernando Costa (piano), Cezão (contrabaixo acústico) e Ricardo Costa (bateria). 14 anos. Modern Sound (120 lugares). Rua Barata Ribeiro, 502, loja D, Copacabana, 2548-5005, Metrô Siqueira Campos. Sábado (15), 16h. Grátis. É necessário fazer reserva. Estac. c/manobr. (R$ 6,00 a primeira hora). www.modernsound.com.br.

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A UNE somos nós!

Enviado por Lucia Hippolito -

1937 -- Criada no Rio de Janeiro a União Nacional dos Estudantes, durante o I Congresso Nacional dos Estudantes. Tinha como objetivo organizar o movimento estudantil em diretórios acadêmicos e em federações estaduais.
Começou a funcionar na Casa do Estudante do Brasil, sob a direção de Ana Amélia Queirós Carneiro de Mendonça. Em 1938 foi reconhecida como órgão máximo de representação estudantil.
Em 1942 foi institucionalizada pelo Decreto-Lei nº 4.080 como entidade representativa dos universitários brasileiros.
Despejada da Casa do Estudante, passou a ocupar o prédio da praia do Flamengo, nº132, onde funcionava o Clube Germânia (fechado por sua orientação nazista).
A UNE teve marcante atuação política durante o Estado Novo, engajou-se na campanha em prol da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. Teve ainda papel importante na luta pela redemocratização do país.
A partir de 1945, a UNE liderou campanhas contra a alta do custo de vida e em prol da indústria siderúrgica nacional e do monopólio estatal do petróleo (campanha O petróleo é nosso).
De 1950 a 1956 foi comandada por um grupo ligado à União Democrática Nacional (UDN). Atuou em campanhas contra o aumento das passagens de bonde.
Com o fim da hegemonia da direita na direção, a entidade começou a realizar campanhas contra multinacionais, como a American Can – empresa americana que ameaçava a indústria brasileira de lataria – e contra a assinatura do Acordo de Roboré, preconizado por Roberto Campos, atendendo aos interesses da multinacional Gulf.
Na década de 1960, o movimento estudantil ganhou mais corpo, com a organização e fundação de diretórios centrais dos estudantes (DCE) e diretórios acadêmicos (DA).
Em 1961 apoiou a campanha da legalidade a favor da posse de João Goulart e reforçou sua ação no campo da cultura, com a criação do Centro Popular de Cultura (CPC) e da UNE Volante. Durante esse ano e no seguinte realizou seminários nacionais sobre a reforma universitária, cujas resoluções, a Carta da Bahia e a Carta do Paraná, tiveram grande repercussão no meio estudantil.
Após o golpe militar de 1964, sua sede foi incendiada, e a entidade foi oficialmente extinta pela lei conhecida como Suplicy de Lacerda (nome do ministro da Educação na época). Todas as instâncias da representação estudantil ficaram submetidas ao MEC.
Apesar da repressão, a UNE continuou a atuar na clandestinidade.
Participou de campanhas por mais vagas nas universidades. Organizou passeatas nas principais capitais, realizou congressos, convocou a Passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro em 1968. Com as prisões das principais lideranças estudantis no XXX Congresso, em Ibiúna (SP), e a decretação do AI-5, a entidade ficou profundamente abalada e passou por um período de inatividade.
A partir do Congresso de Salvador, realizado em 1979, teve início a reconstrução da UNE, que só seria legalizada em 1985. Desde então, sua direção é controlada pelo PCdoB.
Participou ativamente da Campanha das “Diretas Já” e apoiou a candidatura de Tancredo Neves à presidência da República em 1985.
Com a força recuperada, o movimento estudantil liderou a campanha “Fora Sarney” e foi o primeiro a levantar a bandeira pela ética na política em 1992, durante as manifestações pró-impeachment de Fernando Collor.
Milhares de estudantes “caras-pintadas” foram as ruas pela campanha “Fora Collor”, para pressionar o presidente à renúncia.

Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a UNE criticou as privatizações, os privilégios ao capital estrangeiro e o descaso com as políticas sociais e com a educação.
Em 2002, com a eleição de Lula, passou a apoiar o novo presidente, após um plebiscito promovido das universidades.
Atualmente recebe recursos do MEC e de estatais.
Funcionando como linha auxiliar do governo, promove atos públicos contra a CPI da Petrobras (a empresa patrocinou o último congresso da entidade).

Silenciosa durante o escândalo do mensalão, a UNE continua silenciosa diante do mar de lama em que se transformou o Senado Federal.
Procura-se a UNE que carregava a bandeira pela ética na política.

Jobim Jazz Quinta

Jobim Jazz no BNDES - dia 13/08/09 às 19hs - entrada franca (distribuição de senhas a partir das 17hs)

Com:
Mario Adnet - violão, arranjos, direção musical
Marcos Nimrichter - Piano
Jorge Hélder - Baixo
Ricardo Silveira - Guitarra
Rafael Barata - Bateria
Henrique Band - Sax Barítono
Eduardo Neves - Sax Tenor/Flauta
Levi Chaves - Sax alto/Clarinete
Andrea Ernest Dias - Flautas
Everson Moraes - Trombone
Vittor Santos- Trombone
Aquiles Moraes - Trompete
Eduardo Prado - Trompa

Participação especial - Maucha Adnet

A arte da ficção de David Lodge

Marcelo Spalding

Era uma vez a musa inspiradora, uma entidade abstrata capaz de produzir páginas e páginas de poemas, histórias, cartas. A musa é uma personificação da inspiração, um estado de espírito considerado fundamental para a criação artística no Romantismo, que sobreviveu ao movimento e atravessou séculos.
Edgar Allan Poe, em "Filosofia da Composição", talvez tenha sido o primeiro poeta a revelar sem pudor os bastidores da sua criação literária: "nunca tive a menor dificuldade de relembrar os passos progressivos de qualquer de minhas composições", afirma. Criador do primeiro detetive lógico da literatura, Auguste Dupin, Poe representa o surgimento de uma era racional e matemática que se opunha à estética romântica então em voga, o que nos faz compreender o belo ensaio e também suspeitar que muitas das suas afirmativas sobre a composição do poema "O Corvo" sejam, também, ficção.
Fato é que, a partir de Poe, a criação literária passou a ser tratada como construção capaz inclusive de ser ensinada e aprendida. No século XX, popularizaram-se oficinas de criação literária nos Estados Unidos, e, no Brasil, elas desembarcaram com força há pelo menos 25 anos, quando surgiu a primeira Oficina de Criação Literária da PUCRS, ministrada por Luiz Antonio de Assis Brasil. Não surpreende, portanto, que aos poucos se tenha acesso a tão profícua bibliografia sobre o tema, especialmente em língua inglesa, e é motivo de comemoração quando uma dessas obras é traduzida.
Este é o caso de A arte da ficção (L&PM, 2009, 246 págs.), de David Lodge, romancista e crítico inglês. Originalmente publicado como colunas semanais no jornal The Independent on Sunday, o livro traz cinquenta artigos sobre o romance, sempre partindo do trecho de uma ou mais obras e comentando sua construção. Lodge, segundo suas próprias palavras no prefácio, tinha a pretensão de fazer um livro para "pessoas que preferem ter contato com a crítica literária em doses homeopáticas, um livro que não tem a pretensão de ter a última palavra em nenhum dos tópicos que abrange, mas que vai, espero, aguçar o entendimento e o proveito que os leitores tiram da prosa de ficção e sugerir novas possibilidades de leitura ― quem sabe até de escrita ― dessa que é a mais variada e a mais proveitosa de todas as formas literárias". A preocupação de Lodge não é, portanto, ensinar a arte da ficção, e sim apresentá-la a leitores de romance.
Dessa forma, embora a divisão da obra dê a sensação de que teremos dicas de criação literária, pois abordam aspectos como "O autor intrometido", "Nomes", "Ambientação", "Clima", "Manipulação temporal", em muitos capítulos temos mesmo teoria em doses homeopáticas, como em "Intertextualidade", "Realismo mágico", "Polifonia", e, em outros, pequenas aulas sobre o romance, como em "Romance experimental", "Romance cômico", "Ideias".
Essa mescla de teoria com leitura e técnicas literárias, aliás, é que deve colocar o livro na lista básica de muitos cursos de Letras e na estante de muitos amantes de literatura, pois Lodge consegue ser claro nas suas definições e trazer temas complexos para o leigo sem abusar do academicismo nem se tornar superficial. Evidentemente, aquele aspirante a escritor que espera encontrar receitas de bolo para seu novo romance talvez terminará a leitura desapontado, porque Lodge evita fórmulas ― ele pretende mais apresentar a arte da ficção do que transmiti-la. Embora seja exatamente nessa exposição que podemos captar técnicas fundamentais para a criação literária:
"Uma das marcas mais comuns de um ficcionista inexperiente ou desleixado", dirá Lodge no capítulo sobre o "Ponto de Vista", "é o tratamento inconsciente dispensado ao ponto de vista. Uma história ― digamos, a história de John, que está saindo de casa para ir morar na universidade, contada sob a perspectiva de John: John faz as malas, dá uma última olhada no quarto, despede-se dos pais ― e, de repente, por duas ou três frases, podemos ler o que sua mãe estava achando daquilo tudo, só porque o autor julgou que seria interessante acrescentar a informação naquele ponto da história; e a partir daí a narrativa retoma o ponto de vista de John. Claro, não há regras nem leis determinando que um romance não possa mudar de ponto de vista quando o autor bem entender; mas se essa decisão não for tomada de acordo com algum plano ou princípio estético, o envolvimento do leitor, o processo em que o sentido do texto se produz, será perturbado".
Como já foi dito, cada capítulo, ou artigo, começa com o trecho de um ou mais romances, todos de língua inglesa, naturalmente, uma opção justificável num professor e crítico inglês. Não há, entretanto, como nós brasileiros não sentirmos falta de Machado de Assis ou Guimarães Rosa em capítulos como "O narrador não-confiável" ou "Ponto de Vista"; que pelo menos que fossem citados seus nomes como o são García Márquez em "Realismo Mágico", Baudelaire em "Simbolismo" ou Italo Calvino em "Surrealismo". Sem contar uma grande omissão que permeia o romance, Dom Quixote, por muitos considerados o primeiro romance da literatura mundial (o esquecimento chega a ponto de, no capítulo sobre "Metaficção", o autor dizer que "o avô de todos os romances metaficcionais é Tristram Shandy, cujos diálogos entre o narrador e os leitores imaginários são apenas um dos inúmeros recursos que Sterne usou para realçar a lacuna existente entre a vida e a arte, que o realismo tradicional tenta ocultar").
Nesse sentido, fiquei com vontade de ler uma versão brasileira de "A arte da ficção" escrita por alguém como Milton Hatoum, alguém que citasse obras brasileiras e explorasse mais alguns aspectos estéticos próprios da literatura brasileira como a oralidade, o regionalismo e a violência urbana. Porque o romance, embora seja um gênero notoriamente europeu, ganhou o mundo e se transformou em cada continente por onde passou, da América de García Márquez à África de Mia Couto, e esta talvez seja a principal explicação para seu sucesso.
Confesso, porém, que também não acredito que um livro desses, no Brasil, pudesse se restringir ao romance. Ocorre que essa procura crescente por oficinas de criação literária tem se dado muito em função da prosa curta, ou seja, conto e crônica. E nesse sentido também sentimos falta, no livro, de capítulos sobre "concisão", "intensidade" e "subtexto", por exemplo, três conceitos chaves do conto moderno.
Tais limitações da obra de Lodge, antes de diminuir o mérito de seu esforço de compilação e tentativa de popularização do fazer literário, apenas reforçam o quão complexa e universal é a literatura, uma arte milenar que não se permite apreender ou revelar por completo. E sem dúvida sua principal missão é cumprida: depois de ler um livro como A arte da ficção, você nunca mais será o mesmo leitor.

Para ir além
Por Angela Chaloub

DOM SALVADOR TRIO EM "NÃO TENHO LÁGRIMAS"

Rara apresentação de "Bossa Nova do Brasil" em "Não tenho lágrimas", de Max Bulhões e Milton de Oliveira. Ao piano, claro, DOM SALVADOR!
Na bateria Chico Batera e no sax J.T Meirelles