Bundas - 19/06/2000
Um dia ouvi alguém dizer sobre um artista de grande talento da minha geração: "falta-lhe sofrimento e um pouco de ódio no coração para ser um grande artista". Não estou assim tão certo se estes componentes são necessários para a construção de um grande artista.
Chico Buarque, um dos maiores artistas brasileiros do século XX, construiu uma obra densa - ainda que curta na literatura mas vastíssima na música popular - e não há qualquer sombra de ódio nos seus olhos azuis nem presença de sofrimento no seu vasto sorriso.
Durante as três horas que passamos juntos no seu apartamento - de vista deslumbrante - no Leblon, Chico me pareceu o ser mais pacificado que conheci. Lembro-me de Bruna Lombardi entrevistando Harrison Ford e Marília Gabriela entrevistando Madonna. Que desagradáveis figuras, desumanas, incapazes de descerem de seus pedestais de mito. Chico, para nós, é muito maior do que os dois juntos e, sentado conosco, um marciano jamais descobriria ali a que líder deveria ser levado. Éramos todos mortais da mesma praia.
Além do clima de total descontração, foi uma alegria imensa para nós descobrirmos - Zezé Sacks era a única que sabia - que tanto nossa revista como Chico Buarque faziam aniversário no mesmo dia. Se seu signo for tão dadivoso para Bundas como foi para ele, que grande futuro aguarda esta revista.
Outra coisa: a entrevista foi profundamente alegre, gêmeos nos protegia, o astral era altíssimo e, por um longo tempo, conversamos abobrinhas com Chico. Se você estiver atrás de uma revelação bombástica, não leia esta entrevista pois nenhum de nós - os entrevistadores - estávamos atrás disso. Agora, se você quer conhecer um pouco da alma boa de Chico Buarque, venha conosco, com a Maria Lucia Rangel, com a Zezé Sacks, o Caco, o Miguel Paiva, o Aroeira, o Fred Fotógrafo, o Luís Pimentel, o Poerner, o Ricardo Leite e o locutor que vos fala, os privilegiados. (Ziraldo)
Ziraldo - Chico, a gente tá há um ano aqui tentando uma entrevista com você, e de repente eu pego a revista Sexy e tá lá: "entrevista exclusiva com Chico Buarque de Hollanda"...
Miguel Paiva - O que aconteceu ali, Chico? Você disse aquilo tudo que saiu em seu nome?
Chico Buarque - Disse nada! Eu também levei um susto. Na verdade, não era uma entrevista minha. Inventaram uma história, tiraram várias coisas de outros lugares, outras entrevistas. E a mulher colocou na minha boca, com palavras dela. Não que as informações estejam erradas, mas eu fiquei parecendo um débil mental falando. E olha que coisa de maluco, eu canto no meio da entrevista, respondo perguntas com trechinhos de canções...
Luís Pimentel - Mas o que deu nessa moça?
Chico - Eu vi no expediente, ela é editora-executiva da revista. Mas melhor do que isso foram as explicações que vieram depois, quando eu protestei. O editor dela mandou dizer que sim, que ela fez a entrevista comigo no Aeroporto de Guarulhos, quando estava indo visitar meus netos, em Salvador. Eles tinham tudo isso: a história de como foi feita a entrevista, dia 27 de abril, Aeroporto de Guarulhos, das onze da manhã ao meio-dia... Tudo com uma precisão que eu mesmo comecei a achar que talvez pudesse ter dado a entrevista. Só vi que eu não tinha dado quando a li. Eu não poderia ter falado aquelas coisas, eu nunca falei coisas assim.
Ziraldo - Você chegou a ficar em dúvida?
Chico - Os editores sustentavam a versão da moça e diziam: "Por que ela iria fazer uma coisa dessa? Só se ela fosse louca, porque a gente ia publicar, você ia reclamar e a gente ia ficar nessa situação..." Eles realmente não tinham por que duvidar dela, era uma coisa de maluco. E pra provar que havia feito a entrevista, ela tinha várias coisas: a data, o horário, o local e até uma letra inédita, que eu teria feito e que felizmente não foi publicada.
Pimentel - Ela estava guardando para a suíte.
Caco Xavier - E a letra é boa?
Chico - A letra é um horror! O pior é que o editor me mostrou e disse: "Tá vendo? Essa letra é a sua cara!" Foi aí que eu resolvi processar! Depois dessa eu tive que ligar pro advogado.
Ziraldo - A BUNDAS sai com sua entrevista exatamente no dia do seu aniversário, que é também o aniversário da revista, 19 de junho, quando completa um ano. Que signo é?
Chico - Gêmeos. [Rindo e apalpando uma "bunda" imaginária] E bundas também são "Gêmeas".
Ziraldo - Eu queria falar sobre os teus livros, o Estorvo e o Benjamin. Essa coisa de escrever é uma necessidade? Por que você resolveu virar escritor, depois de já estar consagrado como músico?
Chico - "Por que cismou de escrever depois de velho", você quer dizer, né? Antes mesmo de começar a fazer música eu queria ser escritor, achava que ia ser escritor. Eu tinha uns 17, 18 anos, e tive um conto publicado no suplemento do Estado de S. Paulo. Eu escrevia várias coisas, pra jornalzinho de colégio e tal. Aí veio a coisa da música e...
Ziraldo [citando trecho de Roda Viva] - "...carrega a vida da gente pra lá..." Como é que é a letra, mesmo?
Chico [rindo] -É, vou responder cantando música, boa idéia!
Maria Lucia Rangel - O que seu pai [Sérgio Buarque de Hollanda] indicava pra você ler, já que você queria ser escritor?.
Chico - Não é que ele indicasse, realmente... ele dizia: "Leia mais, leia mais, leia mais". Às vezes ele comentava autores como Guimarães Rosa. Lembro de ter visto o segundo livro do Rubem Fonseca, Coleira do cão, em cima do piano. O livro estava lá, dando sopa. Meu pai ainda não tinha lido, mas falou: "O Antônio Cândido disse que é muito bom". Aí, claro, eu peguei pra ler.
Miguel - O Estorvo é um livro difícil, e me parece que o filme feito a partir dele também é um filme difícil. Você escreveu intencionalmente um livro difícil, pra contrapor à obra popular, da música popular?
Chico - Eu não quis escrever um livro difícil, e nem acredito que seja um livro obscuro. Mas é, evidentemente, uma linguagem inteiramente diferente da linguagem da música popular. É um livro 'literário', se a gente pode chamar assim. Não teria sentido, pra mim, deixar de fazer música pra fazer algo parecido em literatura. É outra linguagem, mesmo, outra forma.
Ziraldo - Em geral, o sujeito quando faz uma obra qualquer, cria uma medida de satisfação, de reconhecimento. E mesmo quando ele atinge essa medida, no nível que você atingiu, normalmente o sujeito quer fazer sempre mais.
Chico - Mas eu não quero fazer "mais": quero fazer diferente. Até pra preencher um vácuo, porque chega um momento em que a música popular não te ocupa tanto tempo quanto te ocupava na juventude. Não é por falta de inspiração nem nada disso, mas porque você não tem mais aquele entusiasmo pela música que você tinha quando estava com 20 anos.
Miguel - Você está compondo menos?
Chico - Componho menos. Todo mundo compõe menos, depois de um certo tempo. Quando você grava o primeiro disco, deixa de fora o dobro das músicas, porque no disco não cabe tudo aquilo que você tem na cabeça. Você acha tudo maravilhoso. Depois você começa a ficar cada vez mais seletivo, demora mais tempo pra fazer uma música. Isso não significa crise de criação, pelo contrário. Você leva mais tempo porque exige mais de você mesmo. E tem uma hora, também, que você se sente um pouco enfastiado...
Quando eu comecei a escrever o Estorvo, estava há seis meses sem compor, sem escrever música.
Ziraldo - Dizem que o Estorvo tem muita identificação com o noveau roman. Você reconhece alguma influência?
Chico - De tudo, menos do noveau roman. Isso foi dito por aquele crítico, o Wilson Martins, do qual eu disse e repito: um sujeito intelectualmente corrupto. Quando saiu o Estorvo, ele disse na revista Veja que o livro era plagiado do Zero, do Inácio de Loyola Brandão. Isso é facilmente desmentível. Quando saiu o Benjamin, ele foi e deu outra entrevista nas páginas amarelas, dizendo que era um plágio do noveau roman. Eu nunca li noveau roman. É claro que meu livro deve ter alguma coisa a ver com o cinema dos anos 60, da nouvelle vague. Os roteiristas da nouvelle vague eram autores do noveau roman, e por isso acho que posso ter muita influência, sim, mas do cinema. O livro é totalmente cinematográfico.
Ziraldo - Fale dessa sua facilidade de criar, que te faz brincar com tua filha e fazer o livro Chapeuzinho Amarelo... Essa coisa de criar já era reconhecida desde a infância?
Chico - Desde garoto eu fazia essas coisas. Eu fazia 'filmes', histórias em quadrinhos onde cada quadro era do tamanho da 'tela' de uma caixa de sapatos. Em pegava dois lápis, ia enrolando e o filme ia passando. Eu fazia os créditos, no começo. Tinha atores que apareciam em vários filmes. Tinha um tal de John Rivers que era um grande caubói, a grande estrela da minha 'produtora'.
Ziraldo - Isso é ótimo, isso é ótimo! Todo menino fez isso, com caixa de sapatos...
Chico - Pôxa, pensei que estava sendo original. E eu fazia cidades enormes, plantas complicadas, grandes. Fazia tudo desenhando (até hoje eu faço), criava estradas, linhas de ônibus, cinemas. A gente pensa que é original. Um dia encontrei Antonio Pedro, e ele disse que tinha um amigo que também fazia assim, igualzinho. E ainda mais: tinha a língua da cidade e dicionário completo dessa língua. Aí eu perguntei pra ele: "E por onde anda esse cara, agora?" "Tá no Pinel!", ele disse.
Ziraldo - Histórias de meninos criativos são muito parecidas, Chico! Ou você vira um gênio ou fica louco.
Miguel - Quando eu morava em Milão, no final dos anos 70, a gente esperava ansiosamente por suas músicas, porque elas simbolizam um oásis na aridez que eram aqueles anos. O que aconteceu daqueles anos pra cá, quando suas músicas continuam significando coisas mas são usadas de maneira imprópria, como nesse episódio da Feira de Hannover? As pessoas estão tendo a mesma intenção em relação às suas músicas? A realidade é outra?
Chico - Aconteceu uma coisa parecida nos anos 60, quando fizeram uma publicidade de televisão usando A Banda. Era uma propaganda militar. Naquela época, falaram exatamente a mesma coisa que falaram agora, com relação a esse episódio da Feira: que eu tinha 'censurado' a minha música, que era antipatriótico.
Maria Lucia - Mas ninguém te pediu autorização pra usar a música em Hannover?
Chico - Eu não queria fazer escarcéu com essa história. Simplesmente chegou um pedido de autorização e eu falei "não, não quero autorizar, não quero ligar meu nome a governo". Na verdade não quero ligar meu nome a governo algum. Eu tenho direito de não gostar e de não permitir que minha música seja usada para um monte de coisas. Comerciais, por exemplo. Esse raciocínio é torto, não é? "Censor das próprias músicas". O que é isso? Agora mesmo eu tô perdendo um processo onde o juiz está dando ganho de causa a uma editora que usou uma versão minha, Sonho Impossível. A editora diz que meu direito é um direito de "autor agregado" (eu nunca tinha ouvido essa expressão), já que nem a música nem a letra são minhas, apenas fiz uma versão. Sendo assim, eu não poderia impedir a veiculação. O estranho é que a versão que vai ao ar, num comercial da Vésper, é a minha versão, minha e do Ruy Guerra. Estamos recorrendo. É bom até que se esclareça isso, que se crie uma jurisprudência. O versionista não tem direito algum?
Pimentel - A companhia telefônica pagou direitos pra quem? Para a editora?
Chico - Pagaram à editora e depositaram uma quantia na minha conta e na do Ruy. O Ruy me ligou, dizendo "ô, que bom, chegou uma grana aqui", e eu disse "espera um pouquinho, Ruy, não vamos mexer nesse dinheiro que eles estipularam". O problema, então, não é que eles não tenham pago. Eles pagaram o que eles estipularam, lá entre eles, o que achavam que valia. O problema é que usaram sem autorização.
Ziraldo - Você nunca autoriza o uso de tuas músicas pra nada?
Chico - Às vezes autorizo pra campanhas eleitorais, partidos. Eles pedem, eu simpatizo e autorizo. Até fizeram uma paródia do Vai Passar pra campanha do Fernando Henrique à Prefeitura de São Paulo, em 1985. Época de eleição é uma loucura. Começam a usar tuas músicas e você começa a receber telefonema de tudo quanto é lugar: "Tão usando uma música sua, lá no Acre, lá em Sergipe..." Mas eu nunca autorizei que usassem música minha em comerciais.
Ziraldo - Por princípio, você jamais vai doar uma canção sua para um produto comercial, definitivamente?
Chico - É, acabou virando uma questão de princípios. Mais de uma vez já fui interpelado pelo pessoal ligado à publicidade: "por que é que você não autoriza?" Parece que é uma ofensa a eles, ao capital, porque você recusa às vezes quantias muito altas Aí fica aquela coisa, quase uma questão de honra. Parece que você tá querendo chegar ao teu preço. E aí você não pode ter preço. Talvez, se eu precisasse desse dinheiro, eu cedesse. Porque estaria passando fome, ou sei lá o quê. Mas sei que, se eu precisasse, ninguém ofereceria tanto dinheiro assim.
Ziraldo - Mas teu grande parceiro Tom Jobim negociou um.
Chico - Ele fazia, ele adorava fazer comercial, gostava inclusive de ser ator. Ele fazia até precinhos baratos, não era nem uma questão de preço. Mas eu não tenho nada com aquilo. Não era uma questão de princípios minha, não estabeleci isso antes. Mas acabou virando, depois de eu dizer várias vezes "não vendo, não vendo, não vendo". Aí ficou sendo assim: "Chico é o sujeito que não vende as músicas". E se eu sou o sujeito que não vende as músicas, não posso mais vender as músicas.
Caco - Embora você tenha sempre pensado em escrever, só com Estorvo é que você deu o passo pra entrar no mercado nacional como romancista. Você sentiu essa sensação de estar realmente começando algo novo? Chegou a pensar no que tudo aquilo que você alcançou no campo da música popular poderia contar para o sucesso do Chico Buarque escritor?
Chico - Não conta nada. "A partir de agora, não conta nada", foi o que eu pensei. E eu fiz questão que não contasse mesmo. Foi uma experiência totalmente à parte, de iniciante. Foi o primeiro romance. Eu não poderia nem mesmo comparar com o Fazenda Modelo, que era uma novela, tinha outra motivação (já que eu a escrevi não por uma necessidade literária, mas política).
Caco - O filme é um produto totalmente novo a partir do livro? É assim que você vê?
Chico - O filme é do Ruy. Gostei muito do filme. Ele me pediu autorização pra filmar Estorvo e me mostrou o primeiro tratamento do roteiro adaptado. Isso já faz muitos anos. Nessa época eu conversei com ele, dei um ou outro palpite, mas depois disso só fui ver o filme em fase de montagem.
Ziraldo - Como é o teu processo de criação? Você fica inquieto, fica escrevendo no elevador, como é que é?
Chico - Quando começa não pára mais, fico escrevendo o tempo todo. Tô conversando com vocês aqui e fico pensando no que tenho que escrever. Com a música é a mesma coisa.
Maria Lucia - Você sofria muito pra compor, antigamente... Eu vi você compondo, você ficava angustiado, tinha uma certa excitação...
Chico - Ah, excitação, sim; sofrimento, não. Às vezes tem aquela coisa, parece que tá tudo na mão mas falta uma coisinha...Mas não tem sofrimento não. Pelo contrário, compor sempre foi um grande prazer.
Pimentel - Ainda é um grande prazer?
Chico - Ainda é, ainda é.
Ziraldo - Você costuma trabalhar junto com o parceiro?
Chico - Não, trabalho separado. Criação é uma coisa muito íntima, você tem que estar sozinho, com suas caretas e esgares, como diz um poema do João Cabral.
Ziraldo - Quer dizer que, mesmo quando você compunha com o Tom, você levava pra casa e ia fazendo a letra em cima do tempo musical dele?
Chico - Em cima de cada nota. A cada nota corresponde uma sílaba. Isso é questão de honra, tem que fazer exatamente em cima da música. Muito raramente você pode pedir uma liberdade, mas eu evito isso. Geralmente os parceiros dizem assim: "Você pode adaptar aí, mudar alguma coisinha", mas eu prefiro fazer exatamente como está.
Ziraldo - É impressionante, porque a música e a letra, nos teus trabalhos em parceria, ficam tão bem encaixadas...
Maria Lucia - E quando a música também é sua, como fica?
Chico - Aí pode nascer junto. Parte da letra pode ir nascendo junto com a música. Geralmente a música tá pronta e a letra ainda não, e tem aquele trabalho de completar. A letra nunca vem antes.
Ricardo Leite - Tem muita música sua que você tenha gravado e nunca lançado? Existem muitos autores que vão lá, gravam quinze músicas e lançam dez... Você tem essas sobras?
Chico - Sabe, eu ia dizer que não, mas lembrei agora de uma história do meu último disco. Eu estava com ele quase pronto e fiquei cismado com uma música, achando que alguma coisa estava errada, que eu não iria conseguir cantar. O disco já estava com o prazo estourado e no limite do número de músicas. Mesmo assim eu tirei essa e compus outra. Aquela ficou guardada, pra ser retomada um dia, aquela coisa. A letra repetia um pouquinho uma letra de uma música minha antiga, chamada Ela Desatinou. Era um 'Ela Desatinou 2'. Aí, olha que engraçado: eu estava em Londres fazendo um show e encontrei Elza Soares. Quando ela me encontrava, cantava [imita] "Elzaaaa desatinooou..." Ela fazia essa graça, e tal... Algum tempo depois, chega aqui uma produtora que queria fazer um musical sobre a vida da Elza Soares. Sentou aqui mesmo, onde a gente está, e me pediu uma música pro show. Eu disse pra ela que eu não tinha música, que eu tinha terminado um show, que não ia dar tempo de compor... aí de repente eu lembrei: "Peraí, eu já fiz essa música pra Elza, sem saber!" Eu tirei ela do meu disco porque não era pra eu cantar, era pra Elza cantar. E ela gravou. O engraçado é que o titulo da música era Dura na Queda, e a Elza tinha acabado de despencar do palco... Parecia realmente feita pra ela, e foi.
Ricardo -O Jealous Guy, por exemplo, que é uma música brilhante do John Lennon, já tinha sido gravada anteriormente com os Beatles, com uma letra diferente. Aí ele desistiu de colocar no Álbum Branco, e quatro ou cinco anos depois gravou solo e foi aquela coisa maravilhosa.
Chico - Aí pode acontecer, isso já aconteceu comigo. Uma música que eu fiz pra peça Calabar, por exemplo. A peça foi proibida, a música também e ficou aquela melodia guardada. Anos depois eu peguei a melodia e fiz outra letra pra Bibi Ferreira cantar, em Gota dÁgua: Basta um Dia. Essa música tinha outra letra, completamente diferente.
Ricardo - De que você gosta de fazer que não seja o seu trabalho? Você gosta de ouvir música...?
Chico - Não. eu não gosto de ouvir música. Eu detesto ouvir música. Ouço muito pouco. Às vezes paro pra ouvir um disco que eu recebo, coisa assim. Mas aquela música que fica lá no fundo, acho isso odioso. Se você está conversando aqui e tem uma música tocando, fica aquele barulho... é desagradável.
Ziraldo - Na mitologia grega, o hermafrodita foi mulher e foi homem. Então quando perguntaram quem gozava mais, se o homem ou a mulher, ele respondeu: "A mulher goza muito mais, eu experimentei os dois e sei". Você faz canção e literatura de muito boa qualidade, é um hermafrodita nesse sentido. O que te dá mais prazer e alegria: acabar um livro ou terminar uma música?
Chico - O livro são vários orgasmos, não é um orgasmo só no final do ano, "aaaahhhhh". Quando você termina o livro, acontece uma coisa interessante: você não quer mais largar dele, quer continuar escrevendo... [Chico interrompe-se e aponta para a mureta de seu terraço. Há um enorme urubu placidamente pousado nela, a uns três metros da mesa onde estamos]
Chico - Olha, olha! [Opiniões diversas entre a 'platéia': "Isso é a Operação Condor, ele tá com uma microcâmera no peito!" "Nada, é o Flamengo que vai ser campeão carioca!"...]
Ziraldo -Que forma de arte mais te exaure, mais te exige?
Chico - Não, nada me exaure. O que me exaure é dar entrevistas. Quando você está fazendo um livro, ou uma música, você não fica exausto. Pelo contrário, você não quer dormir, quer continuar fazendo, aquilo não te cansa. Eu falei que você tem que botar um ponto final no livro porque não quer largar dele. Na música também tem isso, na última hora você quer botar mais uma coisinha, quer retocar. Cês conhecem a história do Bonnard, quando já era um pintor famoso, com quadros expostos? Essa história é do cacete: ele entrava escondido nos museus, com pincéis e tintas, e quando os guardas não estavam olhando, ia lá e retocava os próprios quadros!
Ziraldo - É mesmo, dá sempre vontade de ficar mexendo.
Chico - Eu acompanhei as edições todas do Estorvo, e teve coisas que eu mudei na tradução. Eu lia e dizia: "Ah, acho melhor colocar assim e assim". E o tradutor: "Mas você escreveu dessa maneira aqui". E eu dizia: "Eu sei mas acho que fica melhor assim!"
Pimentel - Você falou que se cansa de dar entrevistas. Tem uma época em que você se fecha, mesmo, né? Tem um período em que você dá entrevista e tens outros em que você não dá? Como é isso?
Chico - Eu tenho que dar entrevistas porque eu sou escalado pra isso, quando tem lançamento de um disco, de uma peça de teatro, principalmente quando envolve outras pessoas. Aí você não pode ficar se fazendo de 'doce'. Agora, tem épocas em que eu não tenho nada pra falar. Hoje, por exemplo: não tenho nada pra Falar. É bom porque estamos aqui batendo um papo e quando um bate-papo é gostoso, e tal. Mas só em saber que vai ser publicado, que o que você disse vai ter conseqüências e que você precisa ficar se policiando, isso é um pouco cansativo.
Zezé Sack - Você não gosta de ficar muito exposto, aparecendo muito... Não é isso, não?
Chico - Não há necessidade de ficar se expondo quando não se tem nada pra falar. Agora está meio excessivo, porque a mídia está em toda parte e precisa preencher os espaços das colunas, da televisão, e às vezes isso é indesejável. Você vai assistir um futebol e vira um artista assistindo futebol: vão lá te entrevistar pra saber o que você tá achando do jogo. Eu parei de ir ao Maracanã porque você precisa ir armado pra dizer coisas. E não é só a mídia. Na época da Copa do Mundo de 98 eu estava na França como correspondente, escrevendo pro Globo, pro Estado de S. Paulo e pro Zero Hora. Tava assim de brasileiro na rua. Você saía e o pessoal te parava em Paris, com câmeras: "Agora fala uma coisinha lá pro pessoal de Botucatu". Nos nossos tempos de Antonio's, a gente ficava lá no bar dizendo besteira a noite toda e não saía em jornal nenhum, ninguém se incomodava...
Miguel - Mas o que aconteceu? Vocês ficaram mais famosos ou a foi a mídia que mudou?
Chico - Eu era até mais famoso estava nos festivais, aparecia em todas os revistas, "o rapaz de alhos verdes... "
Ziraldo - O Chico, teu olho é azul, pó!
Chico - É, azul. Então, não havia tantas revistas, tantos canais de televisão. Há um excesso de espaço pra poucos artistas.
Aroeira - Mas às vezes você tem que vir a público porque é citado. Por exemplo, quando o Fernando Henrique diz que você é repetitivo, necessariamente os jornalistas vão atrás de você pra saber o que você tem a dizer.
Pimentel - É, ele disse que gostava de você antes, mas que agora você está "muito repetitivo".
Ziraldo - Ah, e tem outra frase que ele disse: "Eu preferia o teu pai". Lembra dessa?
Chico [rindo] - Eu ouvi ele falar isso do Luiz Fernando Veríssimo. Ele tá sendo repetitivo! Mas aí tudo bem, ele pode gostar de quem ele quiser, isso realmente não me chateia.
Ziraldo - E o que você acha dele?
Chico - Eu também gostava mais dele antes. O [bispo] Mauro Morelli diz que gostava mais dele quando ele era ateu. Eu perdi o contato com ele. Não acho um bom negócio ter amigo no poder. É incômodo.
Pimentel - Ainda tá meio longe, mas se o Lula sair candidato de novo você reafirma o seu apoio?
Chico - É possível, não sei dizer. Já nas últimas eleições eu achava que o Lula não deveria ter saído candidato. Eu falei de brincadeira: "meu candidato é Sepúlveda Pertence!" porque andaram cogitando o nome dele. O Lula já não ia se eleger, em 98. O Brasil não vai eleger o Lula. O rico não vota no Lula e o pobre não vota no Lula, vai ficar sempre nesses 25% e não vai passar disso. Eu fico muito incomodado com isso, mas é um questão cultural. Ainda mais quando eu leio um negócio como o que saiu uma vez na Folha de S. Paulo, um filósofo amigo do Fernando Henrique, dizendo: "Até os adversários mais ferrenhos sentem no íntimo um grande orgulho por termos um presidente tão refinado Fiquei pensando nisso. Eu nem sou um adversário tão ferrenho assim mas não tenho nenhum orgulho de ter um 'presidente refinado'. Eu teria mais orgulho se fosse o Lula o nosso presidente.
Ziraldo - Você tem noção da importância do papel de um artista como você? Você sabe que tem um compromisso e não foge a esse compromisso. Você poderia ficar na sua, como o Borges, na Argentina...
Chico - Mas eu não sei se o Borges é menos importante por ter ficado, como você diz, numa torre de marfim e ter se dedicado à literatura mais do que a qualquer outra coisa, do que se tivesse feito oposição progressista. O que a Argentina deve a Jorge Luis Borges não tem tamanho. Mesmo se ele jamais tivesse falado nada de política (como falou pouco, aliás) e tivesse feito apenas aquilo que ele fazia, e bem, a importância dele não seria alterada.
Ziraldo - Mas por que, mesmo fazendo bem aquilo que você faz, você sempre se comprometeu?
Chico - Eu me comprometi porque nós vivíamos numa ditadura. Nessa época o artista, quisesse ou não quisesse, estava comprometido, até pela omissão. Aí sim, você querendo ou não querendo corria o risco de ver sua música usada num comercial de um governo militar. Aí você consentia ou não consentia. Não consentindo, passava a ser um opositor do regime. Participando de uma passeata de cem mil, era um opositor do regime. Por um mínimo que você fizesse, tomava posição política. A partir daí, o seu trabalho vivia debaixo do tacão da censura. Você não pode exercer sua profissão porque um governo não permite que você a exerça. Fora toda a indignação de ter amigos presos, amigos exilados, gente que morre, que você conhece... E o artista, num quadro desses onde a imprensa é censurada, os sindicatos estão proibidos, também a organização estudantil, os partidos políticos... Numa hora dessas o artista acaba assumindo um papel acima até do que seria desejável.
Ziraldo - Mas você acha que o momento em que estamos vivendo agora permite que o artista possa ficar completamente alienado, sem se preocupar com o país como naquela época?
Chico - Pode. Pode. Eu não estou me alienando de nada, embora minha ênfase seja muito menor do que era na ditadura. Há uma série de nuances aí: você pode pegar um ovo e jogar na cabeça do ministro, você pode tomar uma outra atitude, você pode escolher não se manifestar. Agora, eu não acredito que o artista seja obrigado a ter um papel político no país. Eu sou contra isso, sou contra essa exigência. Sempre fui. Mesmo quando eu tive a mais marcada atuação política, não exigi isso de ninguém, não cobrei isso de nenhum colega meu. Não acho isso justo, acho até uma violência com um sujeito que tá em casa, pintando seu quadro e por um motivo ou outro, ou porque tem medo, ou porque não se sente à altura, ou porque não se acha afetado por aquilo, ou porque se acha insignificante como ator político, não acredito que esse cara tenha obrigação de sair à rua e assinar um manifesto. Não gosto dessa imposição. E existe também um julgamento político, a favor e contra o artista. Muitas vezes o artista é elogiado, é apreciado porque tem boas posições políticas. Isso não é correto.
Caco - Passam a julgar a obra do artista em função de sua posição política.
Chico - É, a favor e contra. Provavelmente um crítico ultraconservador vai ter um ódio ideológico à minha pessoa. Na minha lista de admiração, na literatura, existem vários autores de direita. O Ezra Pound, um poeta ultraconservador, que grande poeta! Acho que a questão política contamina o julgamento estético e acho isso próprio de quem não gosta de literatura, de que não gosta de música, É próprio de fanáticos e eu não gosto de fanatismo.
Caco - Esse é um pensamento muito temporal, do que acontece aqui e agora. A contribuição que Ezra Pound e Borges deram à poesia americana e mundial, e à cultura argentina, é muito maior do que qualquer...
Miguel - ... do que o suposto mal que eles possam ter causado.
Chico - Muito maior do que o mal real que o Ezra Pound causou fazendo o papel que ele fez lá na Segunda Guerra, na Itália. Uma pena, uma pena que esse grande escritor estivesse `acompanhado' de um sujeito que fosse nazista ou outro caso qualquer, que fosse um mau caráter... Foda-se! Não quero conhecê-lo pessoalmente, não tenho interesse nenhum em saber da vida pessoal de fulano ou sicrano. É um grande escritor? Viva! Eu quero ler os livros dele.
Zezé - Você foi a Cuba pela primeira vez no início dos anos 70, e fez sólidas amizades que duram até hoje. Como andam seus contatos?
Ziraldo - E por que você se encantou com Cuba?
Chico - Eu já não vou a Cuba há uns oito anos, talvez. Em primeiro lugar, todo mundo sabe: Cuba parece muito com o Brasil. Tem aquele povo parecido com o nosso, alegre, e tem (pelo menos tinha) seus problemas básicos resolvidos. Se isso é possível de se fazer em Cuba, que é um país paupérrimo não é possível que não possa ser feito no Brasil. Não é possível que não se possa dar escola, sapato no pé, comida, hospital, atendimento básico, não é possível que não se possa fazer no Brasil alguma coisa parecida. Basicamente, é isso.
Aroeira - O Ziraldo quer que eu faça uma pergunta. Há algumas semanas atrás, nós botamos na revista o Gilberto Gil de 'Bundão da Semana'...
Ziraldo - ...porque ele elogiou o FHC, aquele negócio do salário mínimo. O que você acha dessa atitude do Aroeira, de ter colocado o Gil como Bundão?
Aroeira - Eu? Não fui eu que botei: nós botamos. Eu fiz a ressalva que como artista ele é genial...
Chico - Eu discordo de chamar ele de bundão. Discordo da posição do Gil, mas tenho vários amigos que gostam (ou gostavam) do Fernando Henrique na época da eleição. Eu não vou perder amigo por causa de política. Saio com eles e não falo de política. Eu protesto, acho que Gil não tem nada de bundão, que história é essa?
Ziraldo - Mas, Chico, um artista não pode ficar elogiando o Fernando Henrique, não. Nessa altura, fica calado, não se manifesta. O povo tá sofrendo tanto, é tão nítido...
Chico - Mas, escuta: se eu posso falar mal, por que o Gil não pode falar bem? O artista tem que ser sempre de oposição? Eu não acho isso. Ô Ziraldo, ele deve acreditar nisso. Ele não está sendo desonesto.
Aroeira -Você conheceu algum daqueles artistas do Buena Vista?
Chico - Não, não conheci. O filme é uma delícia. Mas falam que esses músicos estavam sumidos, esquecidos por causa de problemas com Fidel, o que não é verdade. O que acontece é que essa velha geração da música cubana estava fora de moda. Como aqui no Brasil, tem um monte de gente que desaparece. Cartola virou lavador de carro, durante muito tempo sumiu de circulação. Ele, Nelson Cavaquinho... E um dia foram descobertos pela Nara, pelo Vianinha, pelo Grupo Opinião. Eles buscaram esses compositores do morro e os trouxeram para a mídia, novamente. Foi uma coisa parecida.
Zezé - E verdade. E só Ibrahim Ferrer estava realmente afastado da música. Todos os outros continuavam tocando, com sua bandas. Daqueles artistas, você nunca encontrou ninguém, então...
Chico - Uma vez eu estava no festival de Varadero e depois da apresentação fomos assistir a um show da velha guarda cubana. Pablo Milanés é que nos levou. Numa mesa estavam o Harry Belafonte, Gilberto Gil, eu, Pablo e mais algumas pessoas. Era uma espécie de Canecão, um pouco menor. Fazendo o show estavam o Cesar Portillo de La Luz, um grande compositor de oitenta e poucos anos, e uma cantora que pode ser até a Omara Portuondo (eu não sei, eu não conhecia). As pessoas bebiam, e gritavam, e falavam... Os velhinhos cantando lá e ninguém prestava a menor atenção. Uma hora o Pablo se levantou enfurecido, subiu ao palco e pagou pra todo mundo: "Se vocês não querem respeitar esses artistas que estão aqui, respeitem ao menos os meus convidados". E apresentou o Harry Belafonte, todo mundo aplaudiu. Ele voltou pra mesa, silêncio total. Aí começou o show de novo e em cinco minutos tava aquele espooorro, igual como estava antes! Quer dizer, ninguém estava muito interessado em ouvir a velha guarda.
Zezé - Eu queria te perguntar sobre teu lado de ator. Todo mundo diz assim, que "o Chico é uma pessoa supertímida..." Até aqui não pareceu. Você gosta de atuar?
Chico - Tem sempre esse negócio do tímido. Aí no dia seguinte eu leio: "nesse dia, excepcionalmente, não estava tímido..." Sempre assim. Acho que os jornalistas já têm aquele negócio no computador; com o nome de cada um. E deve estar lá: "Chico Buarque, carioca, músico, tímido... " Ficou assim, não sei como começou. E não me considero um bom ator, não. Eu me empenho, eu faço a sério, mas não gosto muito não.
Arthur Poerner - Quando eu voltei pro Brasil, você se tratava com o 'Nero'. Lembra do 'Nero'?
Chico - Lourival. Morreu. Morreu louco.
Ziraldo - E aquilo era misterioso mesmo, Chico?
Chico - Tinha mistérios ali, sim.
Poerner - Eu vi ele operar uma catarata em Londres, com uma colher dessas de cozinha.
Miguel - Era um médium, então?
Chico - Era. Mas era um médium esculhambado, porque ele recebia o Nero, o imperador romano. Então, antes de fazer a operação, começava a dizer um monte de barbaridades, esculhambava todo mundo. Aí de repente o Nero recebia o médico que operava. Sempre passava antes pelo Nero. Às vezes passava pela Messalina, também. Nós éramos 'anestesistas', eu e o Tom. Enquanto a gente tocava, se a gente não desafinasse, não doía. Ele só operava com música. Não tendo música ao vivo, ele usava fita.
Ziraldo - E dava certo?
Chico - Dava certo. Eu desconfio que quando não dava certo ele embromava. Quando não 'baixava' direito, acho que ele fingia, fazia uma embromação lá. Mas eu vi casos de pessoas que não podiam andar e saíam dançando. Sabe o que eu acho? Que tinha também um problema de manutenção. Ele não resolvia, ele fazia um 'gatilho' ali e a coisa funcionava. Daí a quatro, cinco anos, o problema aparecia de novo e a pessoa tinha que voltar lá nele.
Ziraldo - Falando em médium, você tem essa coisa de 'especialidade', um dom. Atualmente, acho que você é um dos artistas mais gratificados, você é o cantor do seu povo. Quando você fica sozinho, reflete sobre isso? Você pensa assim: "Puxa, por que pintou isso pra mim?" Isso te ocorre? Ou você não pensa nisso?
Caco - Rapaz, essa é uma maneira original de fazer aquela velha pergunta: "Como você se sente sendo o Chico Buarque?"
Chico [rindo] - Eu não penso nisso, né Ziraldo! Tenho mais o que pensar!
Ziraldo - Pó, Chico, não há hipótese de não pensar! Não tem uma hora em que você, sozinho em casa, pensa assim: "Puta que pariu, eu sou o Chico Buarque"? Eu lá em Caratinga já pensava nisso...
Chico [se divertindo] - Ah, é? E como é isso, Ziraldo? Eu quero saber. Em casa, sozinho, você chega e fala: "Puta que pariu, eu sou o Ziraldo!" Como é que é isso?
Ricardo - Você é religioso?
Chico - Não sou religioso não, mas sei que tem uns mistérios por aí... Eu tô querendo escapar um pouquinho dessa armadilha em que vocês estão me enfiando. Eu não me considero nenhum iluminado, nem nada parecido com isso. E quando eu falo em mistérios, estou falando da vida, mesmo...
Zezé - Faltou só perguntar o que você acha da revista BUNDAS.
Chico - Eu estava gravando um especial pro Multishow, com José Henrique Fonseca, e ele falou assim: "Saia andando, passe em frente à farmácia, entre numa banca de revistas e compre alguma coisa". Aí eu comprei a revista BUNDAS, dei uma folheada e continuei andando. Depois da gravação, quando cheguei em casa, fui ler a revista que eu tinha comprado. Aí eu abro e leio assim: "Parem de pedir entrevistas com o Chico Buarque! Ele não gosta da gente!" Porra, eu tinha acabado de comprar a revista, mostrei ela na frente das câmeras!
Pimentel - Viu como a nossa provocação funcionou? A entrevista foi boa, Chico?
Chico - Pra mim, foi. Foi bom pra vocês, também?
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