4.16.2009

'Final de um tempo'


Músicos e teóricos discutem o fim da canção

Leonardo Lichote

RIo - A tese já corria aqui e ali, mas ganhou notoriedade para valer quando Chico Buarque declarou que a canção, como a conhecemos, pode ter se esgotado e estar encerrando seu ciclo na História. Desde então, a ideia atravessou discos ("Danç-êh-sá", de Tom Zé), filmes (o documentário "Palavra (en)cantada") e inúmeros debates filosóficos em mesas de bar. Batizada exatamente de "O fim da canção", a série de aulas-show que Arthur Nestrovski e José Miguel Wisnik apresentam desde o dia 7 de abril, no Instituto Moreira Salles, joga outra luz sobre a questão.
E você? Acha que a canção como a conhecemos vai acabar?
E, para o desapontamento dos apocalípticos, o tal fim, pelo menos aqui, não é algo tão objetivo assim:
- O "fim da canção" aqui ganha vários sentidos: propósito e ponto de chegada, final de um tempo e "finalidade sem fim" - explica Nestrovski, por e-mail. - Quem melhor definiu as coisas foi Lorenzo Mammì, no ensaio de apresentação ao "Cancioneiro Chico Buarque". Diz ele: "Os jovens compositores que se dedicam hoje ao gênero canção (...) não são candidatos ao estatuto que vigorava há 30 ou 40 anos. (....) A canção de autor já não é o motor principal da indústria fonográfica, mas apenas um nicho cultural. (...) Hoje se espera o lançamento de um disco de Chico Buarque como se espera a publicação de um livro de contos de um escritor importante. A canção já tem espessura, sutileza, história para tanto e já é abordada (...) como uma 'literatura'".
" A canção brasileira não está perto do fim em nenhum sentido objetivo. Ela não cessa de dar evidências contundentes de originalidade e maestria, nos gêneros mais diversos "
Na visão apresentada no curso, portanto, não se vislumbra a possibilidade de extinção da canção.
- A canção brasileira não está perto do fim em nenhum sentido objetivo. Ela não cessa de dar evidências contundentes de originalidade e maestria, nos gêneros mais diversos. Impossível dizermos que a canção brasileira perdeu força, confrontados com os discos recentes de Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Luiz Tatit, Zélia Duncan, Fernanda Takai etc. - lista Nestrovski, que este mês reedita pela Biscoito Fino seu disco "Jobim violão", de 2007.
Wisnik acrescenta:
- E Tom Zé, Lenine, Guinga, Marcelo Camelo, Moreno, Domenico, Kassin e novos que estão surgindo, como Kristoff Silva, Celso Sim, Marcelo Jeneci, Iara Rennó...
O curso é composto de quatro aulas-show. O objetivo da série, Wisnik ressalta, não é dar um panorama histórico da música brasileira. Em cada módulo, a dupla se detém sobre um aspecto dessa arte no país, destrinchando - com auxílio do piano e do violão - canções que o ilustrem.
- Não é uma história da canção na sequência linear temporal, mas um mergulho em certos temas históricos que se dá na profundidade das canções - diz Wisnik.
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