A onda dos documentários musicais pode ser comparada a outra onda sonora ocorrida no Brasil, lá pelo fim dos anos 1960, quando o país praticamente parava para acompanhar os festivais de música. Num encontro entre os dois tempos, um documentário, claro, está em curso para contar os fatos do III Festival de MPB da TV Record (1967), considerado o mais importante da História. Dirigido por Ricardo Calil e Renato Terra, o filme tem o título provisório de "A noite que mudou a MPB".
- Historicamente, o cinema brasileiro sempre buscou energia e inspiração na música popular, desde as chanchadas até "2 filhos de Francisco". No caso dos documentários recentes, existe um desejo de investigar uma manifestação cultural que não apenas é muito bem-sucedida como também reflete a complexidade da sociedade brasileira como nenhuma outra, incluindo aí o cinema - explica Calil.
"A noite..." deve ser lançado até o fim do ano. O filme vai trazer entrevistas com artistas e jurados daquele festival, como Sérgio Ricardo, Chico Buarque, Caetano, Gil, Edu Lobo, Chico Anysio e Roberto Carlos.
- Nós acreditamos que o momento retratado, a final do III Festival da Record, ajuda a entender a ebulição cultural e política daquela época e, quem sabe?, do que aconteceu depois com nossa música, nosso país e com os fundamentais artistas que estiveram lá - diz Calil.
Mas não é só. A lista de documentários com temática musical programados para este ano ou em produção é imensa, sem preconceito com gênero, tendências ou origem. "Mamonas, o documentário", de Claudio Khans, resgata a história dos Mamonas Assassinas. "Favela on blast", de Leandro HBL e Diplo, é um retrato da cultura em torno do funk. "Contratempo", de Malu Mader e Mini Kerti, mostra a trajetória de
jovens do projeto Villa-Lobinhos. "Palavra (en)cantada", de Helena Solberg, cria uma ponte entre MPB e poesia. "Loki - Arnaldo Baptista", de Paulo Henrique Fontenelle, é uma cinebiografia do Mutante. "O homem iluminado", de Nelson Pereira dos Santos, mostra Tom Jobim a partir da visão das mulheres de sua vida. "O homem que engarrafava nuvens", de Lírio Ferreira, traz vida e obra do compositor Humberto Teixeira. "Raul, o início, o fim e o meio", de Adrian Cooper, relembra Raul Seixas. "O milagre de Santa Luzia", de Sergio Rozenblit, viaja pelo Brasil ao som da sanfona. E "L.A.P.A.", de Cavi Borges e Emilio Domingos, este em cartaz desde o ano passado, trata do hip-hop no Rio. Ufa!
Calma lá: ufa nada.
- A música é a principal vertente da nossa cultura e, portanto, acho natural o cinema focar o assunto. Fora isso, é uma forma de preservar nossa memória, já que personagens riquíssimos como Macalé, Arnaldo Baptista e Simonal, por exemplo, não são lembrados no rádio e na TV - diz João Pimentel, crítico de música do GLOBO, que, com Marco Abujamra, dirigiu "Jards Macalé: um morcego na porta principal", um dos lançamentos de 2009.
Mesmo depois de citar uma série de filmes, provavelmente ainda estamos esquecendo de algum. É que a música brasileira tem espaço para muitas outras cenas de cinema. Opa, "Cena de cinema" não é o título de uma música do Lobão? Olha aí mais um possível documentário musical.
Este vídeo foi montado com as duas apresentações do frevo GABRIELA, em 21/10/1967, noite final do histórico III Festival da Música Popular Brasileira, no Teatro Record Centro, São Paulo.
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