8.03.2009

Theatro Municipal do Rio de Janeiro: 100 anos


Enviado por Ricardo Prado -
14.7.2009

Hoje é dia de festa pelos 100 anos de história desse palco tão importante para os cariocas e para os brasileiros.
A primeira vez em que entrei no Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi para ouvir jazz. O pianista Bill Evans se apresentava com seu Trio e eu já adorava sua música que ouvia incontáveis vezes num único LP que eu tinha dele, do seu concerto no Montreux Jazz Festival. Não faço a menor idéia de como aquele disco me encontrou, mas sei que ele mudou a minha maneira de ouvir música. Naquela época eu tive algumas aulas de piano com a querida Lurdes Caribé, professora do José Lourenço, meu amigo inseparável daquele momento, hoje grande pianista, arranjador, produtor. Ela era mãe do baterista Cláudio Caribé, que voltava da Berklee School, nos EUA, e que nos apresentou a Evans depois do concerto.

Entrar nos bastidores, ver o palco por trás, os equipamentos, a altura interminável e escura, me emocionou mais até do que o enorme privilégio de apertar a mão do pianista que eu adorava. E até hoje me impressiona que eu não tenha registro de qualquer impressão que tenha me provocado o prédio, os mármores, os dourados, os tapetes vermelhos, até mesmo a linda abóbada pintada por Visconti, que depois, e até hoje, nunca mais deixou de me emocionar. Desde o primeiro momento, o Theatro Municipal me comoveu como um palco, como uma casa de música.
Pouco tempo depois o Theatro foi fechado para reformas. Estava maltratado pelo uso excessivo, especialmente pelos abusos dos bailes de carnaval que se realizavam ali. Não tenho certeza, mas acho que isso foi ali por 73, 74, com certeza durante o governo da fusão da Guanabara com o antigo Estado do Rio de Janeiro. Com o fechamento, toda a temporada foi transferida - exatamente como agora - para a Sala Cecília Meirelles, dirigida por Miriam Daulsberg. Passei a frequentar a Sala quase que diariamente, e lembro de muitas vezes ir direto para lá sem sequer consultar a programação: haveria sempre alguma coisa e, com certeza, seria bom. Foram os anos dos Ciclos Bach-Haendel com Karl Richter, de pianistas inesquecíveis, dos meus primeiros contatos com a música do meu tempo e do meu país, através da Bienal de Música Brasileira Contemporânea, organizadas por Edino Krieger. Quando o Thetro Municipal reabriu, eu já estudava na Pro Arte com Esther Scliar e Saloméa Gandelman, já sofria com as dúvidas de seguir ou não a carreira musical, e voltei até lá para ouvir uma programação intensa, que tinha até a ópera Peter Grimes, de Benjamin Britten - uma ousadia fazer ópera do século XX!
Se a casa da minha formação foi a Sala, o Theatro foi o palco do início da minha carreira, especialmente com a OSB. Foi o lugar da experimentação criativa - especialmente com a querida Regina Miranda. Até que, talvez com pouco mais de 10 anos depois, ele voltasse a ser fechado. Para obras. Menos de 10 anos depois ele passou por mais obras, dessa vez sem a necessidade de outro fechamento, para a construção de seu anexo, com salas de ensaios, administração, etc.
Hoje é o dia de seu centenário e ele está fechado. Para obras. Haverá festa, o povo poderá visitá-lo, uma exposição sobre a sua história foi montada. Promessas foram feitas de que essa obra será a definitiva, de que foram feitas mudanças estruturais - como nos banheiros; que equipamentos foram modernizados; que os douramentos foram refeitos, que a águia pousará outra vez lá no alto, renovada, e que as obras de arte estão sendo restauradas. Torcemos para que tudo se realize a contento, de que o novo prazo para a reabertura em novembro se cumpra. De que o Theatro Municipal volte a ser aquilo que o justifica, que o enobrece, que vale mais do que toda a linda coleção de mármores, de dourados, de couros, cetins e veludos. Que ele valha o esforço dos cidadãos do Rio de Janeiro pela excelência de seus corpos estáveis, pela intensidade, variedade, amplitude do que no seu palco se realize por aquilo a que ele se destina: uma casa de música, ópera, balé.
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Bill Evans - Waltz For Debby

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