Projeto 'Beatles'69' contou com a participação de 63 artistas.
Milton Nascimento fez dueto póstumo com Elis Regina.
Henrique Porto
Em 2008, ele reuniu um time de mais de 90 artistas da música brasileira para comemorar os 40 anos de lançamento de "The Beatles", clássico da banda conhecido como “Álbum branco”. Agora, menos de um ano depois, o produtor e pesquisador musical Marcelo Fróes volta a escarafunchar o baú dos Fab Four para resgatar todas as canções de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr nascidas em 1969 e produzir uma nova homenagem a outro quarentão, o disco “Abbey road”, o último e mais vendido do quarteto.
“Muita gente se queixou comigo por não ter participado da homenagem ao ‘Álbum branco’. Me perguntavam se iria fazer algo semelhante de novo. Isso acabou me motivando. Então, surgiu o projeto 'Beatles'69'", explica Fróes, jornalista e produtor musical, fazendo questão de ressaltar que não se trata de um tributo, mas, sim, de um “estudo de repertório”.
Ao todo, 63 artistas participaram da empreitada, que foi transformada em três CDs de 21 faixas cada um - todas gravadas em inglês. O elenco inclui Ivan Lins, João Donato, Paula Morelenbaum, Frejat, Detonautas, Capital Inicial, Jota Quest, Ultraje a Rigor e Wanderléa, entre outros.
Fróes conta ainda que cada artista licenciou por conta própria a sua música, o que acabou baixando sensivelmente os custos do projeto, que deve ser lançado até o final deste mês de maneira independente.
“Praticamente todo mundo que foi contatado topou participar, com exceção de alguns casos raros de desistência por problemas de agenda”, diz o produtor. Para ele, uma ausência foi mais sentida.
“Teríamos Sá, Rodrix & Guarabyra, mas, infelizmente, isso não pôde ser possível”, lamenta Fróes, referindo-se à morte do cantor e compositor Zé Rodrix, em 22 de abril deste ano, aos 61 anos. “Mas, numa próxima oportunidade, Sá & Guarabyra vão participar”, afirma.
O projeto ainda traz algumas curiosidades, como o encontro virtual entre Milton Nascimento e Elis Regina na faixa "Golden Slumbers/Carry that weight" e a gravação da música "How d' you do”, de Paul McCartney, na voz de Mallu Magalhães. A canção foi engavetada pelo ex-Beatle, em 1969, e permancia inédita até agora.
Sotaque nordestino
A paixão pelo conjunto inglês também fez com que dois dos mais conhecidos cantores brasileiros participassem do projeto: o paraibano Zé Ramalho, que regravou “Another day” (esta já da fase solo de McCartney, porém composta em 1969 quando o músico ainda era um integrante da banda); e o cearense Fagner, com uma releitura de “The long and winding road”.
“É a realização de um sonho. É uma música que eu sempre cantei a vida toda. Cheguei a fazê-la ao vivo algumas vezes, sozinho, ao piano. Finalmente tive a oportunidade de gravá-la. Fiquei muito feliz em participar”, comemora Fagner.
Zé Ramalho, que recentemente dedicou discos inteiros a Raul Seixas, Luiz Gonzaga e Bob Dylan, explica que sente “um prazer muito grande” ao regravar canções. E revela seus métodos. “Procuro sempre colocar elementos de MPB e de música do Nordeste, como sanfonas, além da minha interpretação pessoal”. E por que “Anoter day”?
“Assim como ‘Eleanor Rigby’, essa canção fala sobre pessoas solitárias, que têm uma história triste, esperando que algo aconteça e lhes tire desta solidão. São coisas com as quais me identifico muito”, explicou o cantor, que não descarta a possibilidade de um projeto “Zé Ramalho canta Beatles”. “É uma idéia que estou amadurecendo”, diz, fazendo mistério.
Novos ângulos
O capricho com a produção também pode ser percebido na arte do projeto. Todas as fotos que ilustram as capas dos CDs foram concebidas pelo designer Ricardo Leite, seguindo um conceito que deve agradar aos fãs da banda.
"Quem nunca visitou Abbey Road, não sabe como é a rua londrina [onde fica o estúdio homônimo que está na capa do disco original] por outro ângulo. Por isso, resolvemos retratar o lugar de maneiras diferentes: a versão clássica da capa original, com pequenas atualizações sobre a fotografia de Iain MacMillan; a visão oposta à da foto dele; e o que os Beatles estariam vendo quando atravessavam a rua na hora da foto", explica Leite.
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