5.25.2009

Festival Multiplicidade completa cinco anos e volta à cena com sua fórmula de reunir músicos, cineastas, DJs e artistas


Fátima Sá

RIO - Batman Zavareze tinha mil ideias na cabeça e um Fiat Uno na garagem quando foi convidado a ocupar o palco do Oi Futuro (na época Centro Cultural Telemar). Designer, videomaker, egresso da MTV e da Fabrica - o laboratório de criação da Benetton na Itália -, Batman deveria bolar um espetáculo misturando arte e tecnologia. Fez mais. Vendeu o carro, tirou as ideias da cabeça e criou o festival Multiplicidade, um espaço para encontros únicos e experimentais entre músicos e artistas. O que era uma aventura cresceu, ganhou moral, teve até o cineasta inglês Peter Greenaway como atração, e volta agora à cena com mais uma rodada de experiências. Na próxima quinta-feira, o Multiplicidade inaugura sua quinta edição com um encontro de mineiros: o cineasta e artista plástico Cao Guimarães, que já foi visto na Tate Modern, no MoMA e em Cannes, e o grupo instrumental O Grivo, que expôs suas instalações sonoras na Bienal de São Paulo. Juntos, eles farão um espetáculo multisensorial de 40 minutos no Oi Futuro, misturando filmes de Cao com a trilha sonora do Grivo, executada ao vivo em copos de cristal, latas velhas e outros "instrumentos".
Assista a trechos das apresentações com Chelpa Ferro & Jaques Morelenbaum, Peter Greenaway, entre outros
- Normalmente, quando nos reunimos com os artistas e os músicos, eles vêm com uma pergunta viciada: "O que você me oferece?" E eu inverto a pergunta: "O que você quer?". A ideia não é a atração se adaptar ao festival, mas o contrário. A gente espera dar os meios para que eles inventem, façam coisas que nunca fizeram, arrisquem - explica Batman, que além de idealizador é o curador do Multiplicidade.

Agora, é bem verdade, ficou mais fácil. Com o sucesso da experiência, no ano passado mil projetos bateram à porta do curador. Mas no primeiro ano do festival, foi preciso correr atrás das atrações, explicar muito bem do que se tratava. Quando falaram de música, arte e tecnologia com Tom Zé, por exemplo, o compositor baiano devolveu:
- Enceradeira é tecnologia?
No Multiplicidade é. E Tom Zé fez um show antológico em 2006. Tanto quanto Peter Greenaway e sua interface de alta definição touch screen, que ele usou para finalizar seu filme na hora, fazendo o que chama de "cinema vivo", ano passado.
Assista a trechos das apresentações de Duplexx, Arnaldo Antunes, Tato Taborda, entre outros
- Talvez nosso grande diferencial seja a capacidade de produzir uma coisa única para cada artista - lembra Batman. - É esse espírito de laboratório que a gente procura manter.
De agora até o fim do ano estão previstas dez atrações - sete no Oi Futuro e três no Oi Casa Grande (duas delas ainda não confirmadas). No Oi Futuro, além de Cao e O Grivo, tem o designer Muti Randolph se apresentando com a mãe, a pianista Clara Sverner, no dia 25 de junho. Um mês depois, no dia 23 de julho, tem Cine Macalé, uma parceria entre Jards Macalé e o videoartista Samir Abujamra.
- Ainda estamos pensando no que fazer, mas a ideia é ter o Macalé tocando e várias projeções de Super 8, misturadas a suportes modernos - conta Samir. - O Macalé tem um arquivo sensacional de filmes que ele fez em Londres, um clima de nostalgia legal.

Em setembro, haverá duas apresentações do Multiplicidade. No dia 3, a equipe por trás da festa Moo vai inventar uma experiência sensorial especialmente para o festival. E, no dia 24, será a vez da dupla Nina & Nuno, com a cantora-estilista Nina Becker e o artista-compositor Nuno Ramos.
- Foi o Raul Mourão (atração do Multiplicidade em 2006) quem sugeriu o encontro. Adorei. Sempre me interessei pelo trabalho dele - lembra Nina, que já gravou músicas de Nuno.
As duas últimas noites no Oi Futuro terão o percussionista pernambucano Jam da Silva e o coletivo carioca de designers OEstudio, juntos, no dia 29 de outubro, e o guitarrista Arto Lindsay, em 26 de novembro. Já o Oi Casa Grande recebe, no dia 13 de outubro, o Blind Date, dupla formada pelo percussionista Naná Vasconcelos e pelo DJ Dolores, que nunca tocaram juntos no Rio. O resto é suspense.

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