3.16.2009


5 Perguntas para...

Luiz André Alzer



Alzer na foto com Mariana Claudino

Carioca, 38 anos, ele é autor de "A vida até parece uma festa - Toda a história dos Titãs" (Editora Record, 2002), em parceira com Hérica Marmo; "Almanaque anos 80" (2004) "O jogo do Almanaque anos 80" (2005) e "Os 10 mais" (2008), todos pela Ediouro e em parceria com Mariana Claudino. Com uma intensa atividade profissional iniciada em 1989, no jornal "O Fluminense", Alzer já atuou nas revistas "Sétimo Céu" e "Ele Ela", da Editora Bloch, no Segundo Caderno de "O Globo" e no Caderno D, de "O Dia". Em 1998 foi um dos fundadores do "Extra". Convidado para inaugurar nossa seção de entrevistas, o jornalista e escritor, atualmente editor-chefe do "Diário de S. Paulo", fala de aspectos ligados à tarefa de escrever livros e dá dicas importantes para quem deseja mergulhar nesse interessante universo.


1. Escrever livros é resultado de talento ou de determinação?

É resultado principalmente de determinação. Escrever um livro não é como sentar no computador, bater um texto e fim de papo. É preciso concentração, dedicação de algumas horas por dia e paciência para ir fazendo um pouquinho a cada dia. Se o livro necessitar de entrevistas ou pesquisa, aí então a determinação é ainda mais fundamental, por envolver várias etapas e afinco para buscar uma informação que muitas vezes custa tempo para se conseguir. O talento, claro, é sempre importante, mas num livro baseado em pesquisas e entrevistas, talvez fique em segundo plano. Numa ficção, o talento é essencial para um bom livro.


2. Como e quando você decidiu que seria escritor?

Nunca achei que escreveria um livro, justamente por não ter paciência de ficar longos meses ou até anos em cima de um único texto. Sou um pouco imediatista, gosto de ver o resultado das minhas ideias logo em prática e um livro não permite isso. Por conta dessa minha "impaciência", todos os livros que fiz foram finalizados em no máximo dez meses (da ideia inicial à entrega dos originais para a editora). O alento é que eu sempre os dividi com outras autoras, no caso a Hérica e a Mariana, o que foi determinante para que fossem entregues no prazo - coisa rara no mercado editorial! Não sei dizer, portanto, quando resolvi ser escritor, até porque não me sinto exatamente um escritor e sim um jornalista que escreve livros. Meus quatro livros são, no fundo, reportagens, porém extensas e bem detalhistas. Para mim, escrever é uma espécie de hobby, quase uma terapia.


3. De que forma se inspira para cada novo trabalho?

Os livros em geral nascem de um "clique", uma idéia que surge repentinamente. Como o "Almanaque", que começou numa mesa de bar e evoluiu para a forma final nos dias seguintes. Na verdade, tenho ideias para pelo menos mais uns 20 livros, e acho que quase todos com potencial de venda. Penso que, se bem feitos, fariam sucesso, mas não tenho disposição de escrevê-los. Talvez minha verdadeira vocação seja a de editor, e não de autor!


4. O que destaca entre as alegrias e decepções na carreira autoral?

A principal alegria é o elogio de quem leu. Saber que alguém teve disposição de encarar tudo aquilo que você passou meses escrevendo e ainda por cima gostou, é a maior recompensa. Claro que a repercussão de um livro na imprensa, os pedidos de entrevista e entrar na lista dos mais vendidos também deixam qualquer autor nas nuvens. Mas o prazer de arrancar uma emoção, uma gargalhada, uma reação de espanto do leitor, isso já vale a trabalheira toda.


A grande decepção é o descaso da editora que produziu o livro. Poucos livros, e aí falo da grande maioria das editoras, merecem por parte delas uma atenção na pós-produção. A divulgação quase sempre é burocrática, a distribuição é pífia e há uma lentidão enorme nas tomadas de ações. As editoras costumam ir bem até o livro ficar pronto. A partir dali, com raríssimas exceções, não sabem trabalhar seus títulos. Há livros ótimos, tanto editorial quanto graficamente e com potencial de vendas, que acabam sendo lançados quase na clandestinidade. O que é uma estupidez, porque se a editora se propõe a lançar um livro, imagina-se que ela quer vendê-lo e na maior quantidade possível. Mas muitas vezes elas preferem lançar uma infinidade de títulos, em vez de apostar em um número menor e fazer um trabalho mais afiado, que garantiria, no total de vendas, um volume maior de exemplares.


5. Você tem alguma dica para aqueles que pretendem escrever livros?

Vamos por partes. Para editá-lo, depende da pretensão do livro. Se for um projeto pessoal - um livro para satisfazer um desejo próprio e sem a ambição de estar em todas as livrarias - sugiro procurar uma editora pequena, que tenha títulos próximos do tema em questão. Ou mesmo sugiro bancar a produção do livro do próprio bolso, já que o custo não é tão alto assim para uma tiragem pequena. Agora, se o livro tem "cheiro de venda", tem potencial comercial, a dica é procurar uma editora mais afiada, falar pessoalmente com o editor e apresentar o projeto. O ideal, inclusive, é já escrever um "aperitivo" do trabalho: algumas páginas, para terem uma noção de texto, do conceito do livro, do ritmo... Já para escrever, é preciso, antes de mais nada, fazer uma espécie de sinopse para ter um encadeamento de ideias, ainda que isso mude ao longo do processo do livro. E, acima de tudo, não adianta forçar a barra para escrever, caso o texto não esteja fluindo bem. Há dias em que ele sai com facilidade, em outros não. Se a coisa está difícil, desligue o computador, vá caminhar ou vá para um cinema. Deixe para continuar no dia seguinte. Forçar a barra para escrever pode comprometer o trabalho e contaminar todo um capítulo ou trecho.
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