10.09.2009

A itinerante Bebel Gilberto lança novo CD e pela primeira vez grava uma música do pai, João Gilberto


Ricardo Calazans
RIO - A identidade de Bebel Gilberto é itinerante. A filha do pai da bossa nova nasceu nos Estados Unidos, criou-se na lona do Circo Voador, radicou-se em Nova York no início dos anos 90 e tornou-se conhecida em todo mundo ao lançar o disco "Tanto tempo", em 2000, pelo selo belga Crammed. Sem as amarras da bossa eletrônica que tornou sua música cultuada em lugares como Israel, Holanda, França ou Portugal - por onde ela passará em turnê, entre outubro e novembro, sem previsão de parada no Brasil - Bebel deu forma a "All in one", seu novo e leve CD, gravado sobre a chancela do respeitadíssimo selo Verve (Universal). Leve a ponto de deixá-la à vontade para, pela primeira vez, incluir uma canção de João Gilberto, seu mitológico pai, no repertório.
Durante a produção do disco, a cantora de 43 anos carimbou o passaporte em três países distintos. Percorreu o circuito Jamaica, Brasil e Estados Unidos e voltou para casa com um disco tão itinerante quanto ela ou Carmen Miranda, a portuguesa que virou estrela de Hollywood e foi atacada por ter voltado "americanizada" ao Brasil nos anos 40. Do repertório da Pequena Notável, Bebel gravou "Chica chica boom chic", com poucas chances de causar alguma revolta nacionalista. Encheu a música de loops e programações eletrônicas e deu a ela uma interpretação bem humorada e alegre, no mesmo tom do restante do disco.
O grande marco de "All in one" na discografia de Bebel, porém, é mesmo a gravação de "Bim-bom", composta há meio século por João Gilberto, nas primeiras horas da bossa nova. Daniel Jobim, filho de Tom Jobim, toca piano, dá um colorido contemporâneo com um teclado Moog e divide vocais com ela na faixa. Que, por opção estética da cantora (ou respeito ao pai rigoroso?), não tem nenhuma interferência eletrônica. Mas, talvez por isso mesmo, renova a assinatura de Bebel como cantora e compositora.
Parte do frescor do álbum Bebel, foi buscar nas vibrações jamaicanas do estúdio Geejam, onde registrou algumas de suas 12 faixas. Entre elas, a delicada "Port Antonio" (nome da cidade onde fica o estúdio), uma parceria com o argentino Didi Gutman, um dos membros do time multicultural que toca com ela no CD. Gutman faz parte do Brazilian Girls, cultuada banda de Nova York que faz (outras) misturas eletrônicas, e é um dos músicos mais atuantes no disco.Com Thomas Bartlett, jovem e elogiado pianista nova-iorquino que colabora com David Byrne, Yoko Ono e a banda The National (entre outros artistas pouco ou nada comerciais), Bebel fez a sussurrada "Secret (segredo)", com letra e inglês e português. Já o guitarrista Masa Shimizu, egresso do grupo de funk-jazz Brooklyn Funk Essentials (de Nova York, obviamente), divide com a cantora a simples e direta "Canção de amor".
Na Bahia, Carlinhos Brown uniu-se a Bebel em "Ela (on my way)", além de espalhar suas percussões por todo o álbum. A recriação de "Sun is shining", de Bob Marley, tornou-se um poderoso não-reggae com produção de John King, um dos dois Dust Brothers (responsáveis por discos dos Beastie Boys e Beck). Mark Ronson, produtor de Amy Winehouse e Lily Allen, cuidou da versão classuda de "The real thing", de Stevie Wonder, e levou para a gravação músicos do grupo The Dap-kings, que acompanharam Winehouse na confecção e turnê do CD "Back to black", um dos grandes sucessos da década. O que, convenhamos, não é pouca coisa.

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