10.21.2009

Aos 70, Hime continua no tempo da inspiração

MAURO FERREIRA
Resenha de CD
Título: O Tempo das
Palavras... Imagem
Artista: Francis Hime
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

O tempo da inspiração parece não passar para Francis Hime. Aos 70 anos, festejados em 31 de agosto de 2009, o compositor retorna ao mercado fonográfico com lindo álbum duplo, O Tempo das Palavras... Imagem. Na realidade, trata-se de dois discos distintos, mas acoplados em edição dupla. O primeiro, O Tempo das Palavras, é grandioso disco de inéditas, em que sobressai aos ouvidos a fartura melódica que norteia a obra de Francis. Ouça uma bela canção de clima camerístico como O Amor Perdido - criada por Francis a partir de poema de Geraldo Carneiro - e comprove que, aos 70 anos, o compositor continua inspirado como nos tempos de juventude. O segundo CD, Imagem, mira o passado, mas tem valor especial na discografia de Francis por seu primeiro trabalho instrumental de piano solo. E o pianista de mão cheia se volta para os temas que compôs para trilhas sonoras de filmes, em outra amostra de que a música de Francis Hime é mesmo coisa de cinema. Mas o que impressiona no confronto de um álbum com o outro é que a produção do presente não fica aquém da produção do passado - como se percebe, por exemplo, no cancioneiro de Chico Buarque, parceiro importante e já ausente da obra de Francis. Encerrado pela valsa-rancho que lhe dá nome, O Tempo das Palavras ostenta a citada fartura melódica - e também uma exuberância instrumental - já na primeira faixa, Adrenalina, esfuziante samba assinado por Francis com Joyce Moreno, parceira também da ligeiramente menos inspirada Rádio Cabeça. Em Maré, bela valsa letrada por Olivia Hime, a exuberância vem também do canto sublime de Mônica Salmaso, convidada da faixa adornada pela harpa de Cristina Braga (luxo bisado em Eterno Retorno, outra parceria de Francis com Geraldo Carneiro). De volta ao samba, Pra Baden e Vinicius honra o gênero e a dupla evocada já no título. Trata-se de parceria de Francis com Paulo César Pinheiro. E por falar em amigos novos e antigos, Francis Hime abre o leque de parceiros para agregar Moska, letrista de Há Controvérsias, faixa que leva o disco a transitar por uma poética menos lírica e mais contemporânea, embora esta não seja necessariamente superior àquela. Por fim, vale ressaltar que Francis Hime assina a direção musical e os arranjos que sempre valorizam as músicas. Com perfeito entendimento do que pede sua obra, o compositor se dá ao luxo de regravar dois temas em Tempo das Palavras. Um, Existe um Céu, é de lavra bem recente e já ganhou registro mais sedutor na voz aveludada de Simone. O outro, O Sim pelo Não, parceria bissexta do compositor com Edu Lobo, é (boa) coisa da antiga, embora o tempo seja conceito relativo neste excelente álbum de Francis Hime, compositor para o qual - vale repetir - os anos de inspiração áurea parecem não passar. Um dos CDs do ano.

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