André Miranda
Da paz do início à guerra do fim, os cariocas se preparam para viver 15 dias intensos de cinema. Cerca de 310 filmes, 25 salas de projeção, milhares de espectadores e uma boa leva de cineastas ilustres estarão em consonância, de 24 de setembro a 8 de outubro, para o Festival do Rio. Na programação internacional, obras de diretores que se tornaram queridinhos dos cinéfilos, como Pedro Almodóvar, Ang Lee, Alain Resnais e François Ozon, terão sua primeira exibição brasileira.
Alguns deles, até, não só estarão com filmes na tela como aceitaram o convite de visitar a cidade. Isso significa que, se algum amigo contar que viu um sujeito queixudo como o Quentin Tarantino tirando foto no Cristo Redentor ou uma senhora cuja beleza lembra Jeanne Moreau comprando sorvete em Copacabana, acredite: o diretor americano e a atriz francesa virão mesmo para o Rio. Além deles, a cineasta belga Agnès Varda e o diretor argentino Juan José Campanella também vão prestigiar o evento, cuja venda de ingressos começa esta semana.
A presença dos cineastas ajuda ainda mais a despertar o interesse do público pelos filmes. Com a França como país homenageado do festival - como não poderia ser diferente, considerando o Ano da França no Brasil -, a atriz Jeanne Moreau, de 81 anos, estrela de "Jules e Jim" (1962), de François Truffaut, "A noite" (1961), de Michelangelo Antonioni, "Joana Francesa" (1973), de Cacá Diegues, e mais algumas dezenas de clássicos, será a convidada de honra. Também com 81 anos, Agnès Varda, cineasta nascida na Bélgica e radicada na França, uma das últimas representantes da Nouvelle Vague, virá à cidade para apresentar seu último filme, o documentário autobiográfico "As praias de Agnès".
Do Velho para o Novo Mundo, um dos grandes nomes do festival pode ser o argentino Juan José Campanella. Desde que foi indicado ao Oscar, por "O filho da noiva", em 2002, ele se tornou símbolo de um cinema que procurava humanizar a crise financeira e política passada na Argentina. Sem dirigir um longa-metragem desde 2004, Campanella virá ao Rio para exibir seu novo filme, "O segredo dos seus olhos". Nele, um homem, vivido por Ricardo Darín, tenta desvendar um crime ocorrido 30 anos no passado.
Desta vez, caberá a "Aconteceu em Woodstock" , de Ang Lee, fazer as honras da casa, com uma história de paz e amor passada em Woodstock, em 1969. O pacifismo hippie, porém, não vai durar até o fim. Em seu encerramento, o festival vai trocar a Era de Aquário pela Era de Tarantino. Isso quer dizer muitos tiros, muito sangue, muita violência estetizada e uma fila imensa que provavelmente vai se formar para assistir a "Bastardos inglórios" , com a presença do próprio Tarantino, um sonho antigo do festival que enfim vai se realizar. O filme, estrelado por Brad Pitt, acompanha as aventuras de um grupo de assassinos de nazistas na França, durante a Segunda Guerra Mundial.
Tanto o longa de Tarantino quanto o de Lee chegam ao Rio com o selo do Festival de Cannes. Mas o único que pode tirar a onda de ter recebido a Palma de Ouro em 2009 é "A white ribbon", de Michael Haneke. O diretor de "Caché" (2005) conquistou o júri da mostra francesa abordando a origem da ideologia nazista numa escola alemã nos anos 1910. Onde assistir? No Festival do Rio, lógico. Da mesma forma, "Os abraços partidos" , do espanhol Pedro Almodóvar, outro com passagem por Cannes, chegará ao Brasil primeiro pelo Rio. O filme traz Penélope Cruz, com aquele olhar hipnótico da foto lá no alto, dividindo seu amor entre um magnata e um cineasta cego.
Também têm exibição garantida os filmes "A doutrina de choque" de Michael Winterbottom e Matt Whitecross; "Distante nós vamos", de Sam Mendes; "Coco antes de Chanel", de Anne Fontaine; "Les herbes folles", de Alain Resnais; "Brilho de uma paixão", de Jane Campion; "Ricky", de François Ozon; "Bad lieutenant: Port of call New Orleans", de Werner Herzog; "Doze jurados e uma sentença", de Nikita Mikhalkov; e "The September issue" , de R.J. Cutler; entre outros.
Nesta edição, uma mostra chamada O Brasil do Outro foi criada para contemplar filmes estrangeiros que focam algum aspecto brasileiro. Entre eles estão "Dançando com o diabo", o documentário de Jon Blair sobre o conflito nas favelas cariocas, e "Sergio", biografia de Greg Barker sobre o diplomata Sergio Vieira de Mello, morto em 2003, em Bagdá.
A venda dos passaportes para o festival começa esta segunda-feira, em www.festivaldorio.com.br . Já os ingressos avulsos poderão ser comprados a partir de sábado no site www.ingresso.com.br . A mostra também criou um Twitter oficial, a fim de informar seus seguidores sobre novidades na programação: twitter.com/festivaldorio09 .
Seguidor, aliás, é o que o Festival do Rio mais tem, desde antes da criação do Twitter. E as milhares de pessoas que pulam, anualmente, de sala em sala durante 15 dias são a maior prova do apreço carioca pelo bom cinema.
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