6.22.2009
Afrossambas de Baden Powell ganham embalagem 'jazzy' e orquestral
Antônio Carlos Miguel
RIO - É uma equação simples, mas de sofisticada execução, e com resultado infalível. A influente série dos afrossambas, criada por Baden Powell (e Vinicius de Moraes), embalada por arranjos e instrumentação à la Moacir Santos, com predominância de sopros e forte apelo rítmico. O projeto, elaborado pelos arranjadores Mario Adnet e Philippe Baden Powell, pode ser ouvido no disco "Afro samba jazz", editado pela Biscoito Fino.
- Queria homenagear meu pai de uma forma diferente, mostrando o grande compositor que foi, e que, de certa forma, tem sido encoberto pelo grande violonista - explica o pianista Philippe, de 31 anos, filho mais velho de Baden, radicado em Paris, que encontrou em Adnet o parceiro para essa empreitada. - Eu me lembro de Baden falando: "Essa cara aqui é da pesada", após uma entrevista que fez com Adnet para o GLOBO. Uma das partituras de Baden trazia, manuscritos por ele, o nome e o número de Mario, que eu conhecia dos discos "Ouro Negro", "Jobim sinfônico" e "Pra Gershwin e Jobim".
Ouça 'Ritmo afro', com Mario Adnet e Philippe Baden Powell
Adnet confirma que conheceu Baden durante a reportagem que fez, em 2000, para o Segundo Caderno. Quatro anos depois, foi procurado por Philippe e sua mãe, Sílvia.
- O projeto realmente começou quando Philippe lançou essa expressão, "afro samba jazz". A gente nunca viu Baden interpretado por uma banda e a ponte com a formação que usei em "Ouro Negro" era natural, já que Baden estudava com Moacir Santos na época em que começou a criar com Vinicius os afrossambas - conta Adnet, ressaltando o papel que os dois exerceram para a valorização da música africana. - Eles fortaleceram o batuque, que, até então, não era explícito na música brasileira.
Há cerca de dois anos, a produtora Mariza Adnet, mulher de Mario, inscreveu o projeto "Afro samba jazz" no edital da Natura, após inscrevê-lo na Lei de Incentivo. E, em novembro do ano passado, com a aprovação, eles começaram a tocá-lo. A orquestra tinha a mesma formação da usada em "Ouro Negro", com muitos dos instrumentistas que tocaram no tributo a Moacir Santos: entre outros, Vittor Santos (trombone), Teco Cardoso (saxofone e flauta), Andrea Ernest Dias (flauta), Jessé Sadoc (trompete), Jorge Helder (baixo), Ricardo Silveira (guitarra), Marcos Nimrichter (piano e acordeom), Jurim Moreira (bateria), Armando Marçal (percussão). Também participaram das sessões Philippe, seu irmão, quatro anos mais moço, o violonista Marcel, Antonia Adnet (violão de 7 cordas), Mônica Salmaso (voz), Carlos Negreiros (voz) e Joana Adnet (clarinete).
No repertório estão cinco clássicos lançados no LP "Os afro-sambas", de 1966, da dupla Baden e Vinicius; sete temas inéditos (alguns compostos por Baden na mesma época, quando estudava orquestração com Moacir Santos); e três composições pouco conhecidas mas dentro do espírito dos afrossambas, "Olodé", "Sermão" e "Introdução ao canto de Yansan" (as duas últimas, da parceria com Paulo César Pinheiro).
- Um tempo após a morte de Baden (em 26 de setembro de 2000), comecei a pesquisar seus papéis e descobri muitos temas inéditos, partituras com arranjos. As composições traziam só a melodia, sem a harmonia, mas percebi que era um material muito rico. Alguns dos temas tinham a atmosfera dos afrossambas, já com títulos que faziam referência a isso. E muitos deles nasceram durante as aulas de Baden com Moacir - conta Philippe, que também divide uma parceria com o pai no disco. - "Ritmo afro" foi um exercício que ele me passou, um ritmo a partir da linha de baixo inicial. É uma música antiga, na qual fui mexendo aos poucos.
Adnet, que também teve acesso ao arquivo de Baden Powell, dá mais detalhes.
- Pelo aspecto antigo dos papéis, acredito que cubram as décadas de 1960 e 70. Eles não traziam datas, mas alguns descreviam o clima das músicas, com pequenos textos sobre os títulos, o que significavam - explica Adnet, contando que três temas foram reunidos numa única faixa. - A "Suíte Yansan" traz três composições, "Introdução ao canto de Yansan", "Canto de Yansan" e "Ladainha de Yansan".
Disco lançado, após os concertos no Rio e em São Paulo, eles estão fechando um em Belo Horizonte, em agosto, e sonham com a Europa, no ano que vem. A grande e influente música de Baden Powell, que rodou o mundo, merece essa nova e generosa dose.
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