3.09.2010

Voz de mulher: Volta disco controvertido de Gal

Resenha de CD - Reedição
Título: Lua de Mel Como o Diabo Gosta
Artista: Gal Costa
Ano do lançamento: 1987
Ano da reedição: 2010
Gravadora da edição original: BMG-Ariola
Gravadora da reedição: Sony Music
Cotação: * * *

Mauro Ferreira
Ao trocar a gravadora Philips pela RCA, em 1984, Gal Costa logo adocicou seu repertório em busca de números mais expressivos de vendas de seus discos, que, na época, giravam em torno de 100 mil cópias - com rara exceção de um ou outro título mais bem-sucedido, como Fantasia (1981). A popularização do repertório da cantora se deu através de baladas estrategicamente escolhidas para puxar os LPs. Lua de Mel Como o Diabo Gosta - álbum de 1987 ora reeditado pela Sony Music na irregular série Caçadores de Música - foi o ápice do mergulho de Gal no som tecnopop que deu o tom (às vezes, pasteurizado) da MPB nos anos 80. Trata-se de um dos títulos mais controvertidos da discografia da cantora. Já pela capa e pelo título (infeliz) percebia-se a tentativa de apelar para manter o sucesso obtido por Gal com seus dois primeiros álbuns na RCA, Profana (1984) e Bem Bom (1985) - ambos, aliás, também reeditados na coleção. Contudo, o álbum não surtiu o efeito esperado nas paradas. De acento havaiano, a regravação de Lua de Mel - a canção sensual de Lulu Santos, autor de três das dez faixas - não pegou tanto nas rádios quanto baladas anteriores como Chuva de Prata (1984) e a bela Um Dia de Domingo (1985).
Passados 23 anos do lançamento, uma análise menos tendenciosa de Lua de Mel Como o Diabo Gosta mostra que o álbum tem lá seus encantos. Inclusive porque, neste disco, a voz cristalina de Gal estava no auge - como atestam os agudos onomatopaicos de Arara, tema de Lulu que abre o álbum, e a forma como a cantora deita e rola na intepretação do blues jazzy Todos os Instrumentos, música de Joyce que fecha o disco. Em contrapartida, o produtor Guto Graça Mello se lambuzou no molho tecnopop ao formatar arranjos como o de Tenda, música de Caetano Veloso que já não se encontrava entre as mais inspiradas do compositor (apesar da letra bela). Já O Vento era (e é) uma das canções mais bonitas de Djavan, tendo sido adequadamente formatada em limpo arranjo assinado pelo próprio Djavan. Ainda à espera de regravação que lhe dê mais visibilidade, O Vento passou despercebida em meio a um repertório que roçava o brega na versão de Here, There and Everythere (a balada dos Beatles que virou Viver e Reviver na letra em português escrita por Fausto Nilo). Também esperam chance de serem ouvidas com mais atenção uma balada filosófica do farto Lulu Santos (Creio) e a parceria mais despudoradamente romântica de Milton Nascimento com Fernando Brant (Me Faz Bem). Já o plastificado funk Sou Mais Eu - composto pela dupla de hitmakers Michael Sullivan & Paulo Massadas, então dando as cartas no departamento artístico da gravadora BMG-Ariola - é bobagem que teve a obviedade da letra evidenciada pelo arranjo tecnopop de Lincoln Olivetti. Contudo, com o cristal tinindo, Gal dá show vocal na faixa - numa fina sintonia com os versos-clichês.
Quanto à reedição em si, Lua de Mel Como o Diabo Gosta já tinha sido relançado em CD - de forma criteriosa - em 1999. Contudo, o encarte da reedição atual é ligeiramente superior, por conta da reprodução mais exata da ficha técnica. Assim como o som parece ligeiramente mais solto, embora a ficha técnica da reedição omita qualquer informação referente à remasterização. De qualquer forma, fãs de Gal Costa já têm novamente à disposição este álbum de tons altos, sensualidade às vezes artificial e acento tecnopop. Enfim, Lua de Mel Como o Diabo Gosta foi disco como Gal e a BMG-Ariola gostavam nos anos 80. Curiosamente, foi ele o disco que encerrou a lua de mel da cantora com a gravadora.

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