3.09.2010

Baltar entre o terreiro e o sertão

Resenha de CD
Título: Mariana Baltar
Artista: Mariana Baltar
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2


Mauro Ferreira
Grata revelação de 2006 ao lançar seu primeiro álbum (Uma Dama Também Quer se Divertir, Zambo Discos), Mariana Baltar confirma qualidades - em especial, a leveza e a brejeirice - em seu segundo disco, editado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de março de 2010. Mariana Baltar - o álbum produzido por Josimar Carneiro - transita bem entre o terreiro e o sertão. O terreiro já é evocado em Tia Eulália na Xiba (Claudio Jorges e Nei Lopes), o jongo que abre o disco em registro exemplar, pontuado pela mesma vivacidade com que Baltar revive o samba Uva de Caminhão (Assis Valente) e o choro Teco-Teco (Pereira da Costa e Milton Villela), sucesso de Ademilde Fonseca (em 1950) e de Gal Costa (em 1975). Aliás, Tia Eulália na Xiba, Uva de Caminhão e Teco-Teco - todas com abordagens tão boas ou ainda melhores do que as gravações anteriores - são os grandes destaques do álbum justamente porque são veículos perfeitos para a cantora mostrar a brejeirice de sua voz leve e sempre afinada. Já a terra nordestina é repisada por Baltar - filha de pernambucano que residiu em Recife (PE) por alguns anos - em Sertão do Vale, bom baião em que os compositores Zé Paulo Becker e Mauro Aguiar saúdam a obra do compositor maranhense João do Vale (1934 - 1996). Há também cheiro de terra em Maldita Cancela, toada de Délcio Carvalho e Osório Peixoto, descoberta por Baltar em disco do cantor Lucio Sanfilipo. De tonalidade rural, o belo tema é o grande achado de repertório que nunca patina no óbvio (tendo sido bem arranjado).
Entre o terreiro e o sertão, há temas urdidos no tempo lírico da delicadeza, como Canções de Menina, parceria de Thiago Amud com Pedro Moraes. A propósito, se há um problema no disco, é a aposta excessiva no repertório dos compositores novatos Edu Kneip e Thiago Amud, autores (sozinhos, em dupla ou com outros parceiros) de quatro das doze faixas. A questão é que músicas como a valsa Tudo à Toa (Edu Kneip e Mauro Aguiar), Quando a Esquina Bifurca - tema que Thiago Amud louva a Urca, bairro carioca onde nasceu e vive o compositor (e no qual Baltar também morou) - e Sonâmbulo (parceria de Kneip com Amud) são calmas demais e, alocadas próximas uma da outra no repertório, jogam o CD para baixo. Contudo, Mariana Baltar, o disco, retoma seu pique no fim, com Tanto Samba (parceria de Paulo César Pinheiro com seu filho, Julião Pinheiro) e com Jongo do Irmão Café (Wilson Moreira e Nei Lopes). O jongo fecha o álbum em grande estilo, fazendo link com Tia Eulália na Xiba e mostrando que nada parece ser gratuito na obra desta cantora carioca cheia de ginga e personalidade. A caprichada arte visual de Luis Monteiro - que incrementa o encarte com belas fotos de Carol de Hollanda que remetem ao evento folclórico Nego Fugido, tradição de Acupe, cidade do Recôncavo Baiano - exemplifica o apuro deste seguro segundo disco de Mariana Baltar. A dama leva a diversão a sério...

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