2.18.2010

Os Cariocas voltam a cantar em disco com alma

Mauro Ferreira


Resenha de CD
Título: Nossa Alma
Canta
Artista: Os Cariocas
Gravadora: Guanabara
Records

Em texto escrito para encarte deste 18º álbum do quarteto Os Cariocas, Nossa Alma Canta, Ruy Castro afirma se tratar do melhor disco do conjunto desde os trabalhos dos anos 60 - período áureo da discografia iniciada em 1948, paralisada em 1966 e retomada em 1990. Castro não exagera. Já na primeira das 15 faixas - Rio que Corre (João Donato, Lysias Ênio e Beth Carvalho), ode ao agito interminável da cidade foliã que é de janeiro e de todos os meses - fica evidente que os Cariocas parecem ter recuperado sua alma fonográfica após série de discos corretos, mas quase burocráticos. A bossa continua lá - a exemplo do que pode ser ouvido em Samba do Carioca (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes), faixa que agrega a voz do ex-integrante Badeco ao canto harmonioso de Severino Filho (único remenescente da formação clássica do conjunto), Hernane Castro (voz e bateria), Neil Teixeira (voz e contrabaixo) e Eloi Vicente (voz e violão). Capitaneada por João Samuel, a produção de Nossa Alma Canta é luxuosa, agregando músicos como Eumir Deodato (que toca piano Rhodes no seu Baiãozinho, cuja letra foi turbinada com trecho novo), João Donato (piano na já citada Rio que Corre) e Marcos Valle (que pilota teclados no seu tema Jet Samba). Alias, a intro vocal criada pelos Cariocas para Jet Samba reafirma a habilidade rara do grupo de harmonizar vozes em acordes perfeitos. Não por acaso, a Intro Jet Samba virou com justiça uma faixa à parte no CD. Aliás, muito do brilho do disco vem também do acerto do fino repertório. Os Cariocas renovaram não somente a alma, mas também seu cancioneiro. Entre um ou outro clássico bossa-novista, como Você (faixa que agrega o canto de Hortênsia Silva, única voz feminina que integrou o grupo, de 1956 a 1959), o grupo encara a capella os acordes sinuosos de Delírio Carioca (Guinga e Aldir Blanc, 1991), dá sua harmoniosa visão para Futuros Amantes (um dos últimos reais clássicos do cancioneiro de Chico Buarque), percorre sem pressa a trilha melódica de Estrada do Sol (Tom Jobim e Dolores Duran) e recebe Milton Nascimento, com quem se entrosa no refinado jogo vocal que abre novas portas harmônicas no Clube da Esquina 2. Enfim, um grande disco, que ainda prima por tirar do baú pérola de Newton Mendonça (1927 - 1960), Quero Você, tão sedutora quanto qualquer standard da era bossa-novista. Com inspirados arranjos que valorizam o canto leve dos Cariocas, Nossa Alma Canta se impõe como título especial na discografia do grupo pela bossa e, sobretudo, pela alma que dá o tom (e o frescor) do álbum.

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