10.01.2009

Alheia à pirataria, Maria Bethânia lança dois discos ao mesmo tempo e diz que tem 'fome de cantar'



Ricardo Calazans
RIO - Maria Bethânia assume sem problemas os fios brancos cada vez mais presentes em sua vasta cabeleira:
- Eu já estou ficando velhinha, meio Dona Canô... - disse a artista de 63 anos, citando a mãe de 102 anos, na coletiva de lançamento de dois álbuns simultâneos: 'Tua' e 'Encanteria' que concedeu nesta terça-feira.
Ela usou a idade para (não) responder à pergunta de uma jornalista sobre detalhes da turnê que ela inicia no dia 16 de outubro, no Canecão. "Não sei nada de turnê, minha filha, nem estou querendo saber direito no momento, estou aqui vendo meus disquinhos, nem tive tempo de vê-los direito ainda", brincou.
Bethânia usou também sua condição de diva da MPB para passar ao largo de assuntos espinhosos no meio musical, como pirataria e vendas de discos em queda livre. Bethânia exige para si um tempo próprio.
- Eu estou obsoleta, todos aqui estamos - disse, para os cerca de 40 jornalistas presentes à entrevista na Gafieira Estudantina, no Centro do Rio - O mundo já foi, já passou (estala os dedos). Mas para mim, não. Eu canto. Se eu for me ocupar de pirataria, de vendagem, eu não canto. E isso não é meu serviço - disse.Ela quer se ocupar, cada vez mais, apenas de cantar.- Minha fome de cantar é grande, eu nasci para isso. Adoro meu ofício. Sonho, tenho pesadelo, como, durmo, acordo, namoro, brigo, tudo para ele - declarou.
" Parece até que eu sou a Diana Krall. Aquela mulher canta tudo, toca tudo... Mas não nasceu em Santo Amaro! "
Os novos discos da cantora, que chegam às lojas no dia 5 de outubro, reúnem 22 canções inéditas, garimpadas em meio a "milhões" de músicas enviadas a ela por artistas de todo o país.
- É um modo de saber como anda a música brasileira, de ver quem ainda se interessa por MPB e quem ainda quer compor para uma cantora de MPB de 63 anos - disse.
Embora apresentados, no release enviado à imprensa pela gravadora Biscoito Fino, como discos que têm como tema o "amor no auge de sua maturidade" ("Tua") e os "diversos aspectos da fé" ("Encanteria"), Bethânia os enxerga de outro modo:
- Quem falou de amor maduro? Ah, é o release? Não sou eu não - avisou.
- Eu não separo um disco do outro. "Tua" tem ritmos e temas elaborados amorosamente e "Encanteria" festeja e louva tudo isso. O mundo está muito corrido e eu, que lido com música, preciso de pausas, do silêncio. Hoje, o amor representa o silêncio. Muito barulho contínuo me dá sono - disse a cantora, que se espantou ao descobrir, por um repórter, que existe uma banda de heavy metal do Espírito Santo que se dedica a fazer versões roqueiras de sua obra. E mais ainda ao saber que o grupo se chama Methânia.
- Methânia?!!! Rapaz, meu nome é um nome sagrado da Bíblia. Tem doido pra tudo nesse mundo... Eles, eu...
Para Bethânia, os discos remetem à sua juventude "entre o mar e a roça" ("eu acho chique demais a música rural") na Bahia.De "Encanteria", ela destacou a participação da arrojada Escola Portátil de Música, que a acompanha na faixa-título e em "Feita na Bahia". Já de "Tua", o que mais a agradou foram os arranjos elaborados.
- Sofisticado, né? Parece até que eu sou a Diana Krall. Aquela mulher canta tudo, toca tudo... Mas não nasceu em Santo Amaro!

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