9.24.2009

Ang Lee fala de 'Aconteceu em Woodstock', filme que abre o Festival do Rio



André Miranda

RIO - É agosto de 1969, a Lua está na sétima casa, Júpiter se alinha com Marte, a paz guia os planetas, e o amor pilota as estrelas. Mas, em Taiwan, um rapaz de 14 anos está mais preocupado em não tomar bomba nas provas do ginásio, menos em saber do que se tratava a tal revolução anunciada pelo movimento hippie e que encontrava um marco num evento ocorrido do outro lado do mundo.

- Eu vi o Festival de Woodstock numa TV em preto e branco, no noticiário noturno. Nem dei muita bola. A chegada do homem à Lua, semanas antes, foi muito mais impactante. Aquilo, sim, era uma celebração. O problema é que Taiwan era bastante conservadora. Para a gente, Woodstock era uma coisa de hippies, umas pessoas cabeludas tocando guitarras - contou o tal jovem taiwanês, numa conversa por telefone com O GLOBO, 40 anos depois de agosto de 1969.
Sim, Ang Lee não apenas cresceu e deixou o conservadorismo juvenil de lado como se tornou um dos mais celebrados e premiados cineastas do mundo. Seus filmes são esperados com ansiedade em sua Taiwan natal, na Hollywood que o acolheu e, como poderia ser diferente?, também no Brasil. Caberá, portanto, à mais recente produção de Lee, "Aconteceu em Woodstock", a responsabilidade de abrir a maratona de 15 dias e mais de 300 produções do Festival do Rio, numa cerimônia marcada para esta quinta-feira, no Cine Odeon. O filme, como o título já entrega, narra uma história passada no evento que Lee não presenciou ao vivo, mas cuja simbologia tem tudo a ver com o seu cinema.
Com um tom bem-humorado, "Aconteceu em Woodstock" é baseado no livro de memórias do artista plástico e escritor americano Elliot Tiber. Hoje homossexual assumido, Tiber era, em 1969, um sujeito reprimido e careta, que passava os fins de semana ajudando seus pais a cuidar de um pequeno hotel em Bethel, cidade nova-iorquina que abrigou o Festival de Woodstock. Sua dedicação para que o evento seja realizado, sua relação com a família e seu encontro com uma série de personagens estranhos (e fascinantes) é que guiam o filme.

Lee, por sua vez, só ficou sabendo da história de Tiber em 2007. Os dois se conheceram nos bastidores de um programa de TV, em São Francisco. O artista plástico daria uma entrevista sobre seu livro de memórias, enquanto o cineasta falaria de "Desejo e perigo", filme pelo qual ele acabara de receber o Leão de Ouro no Festival de Veneza - Lee também já ganhou um Leão de Ouro por "O segredo de Brokeback Mountain" (2005), além de dois Ursos de Ouro, por "Banquete de casamento" (1993) e "Razão e sensibilidade" (1995), um Oscar de melhor direção, por "O segredo...", e um Oscar de melhor filme estrangeiro, por "O Tigre e o Dragão" (2000).
- Nós conversamos por apenas dois minutos. Mas aquilo me despertou dois pensamentos. O primeiro é que eu havia dirigido sete tragédias em sequência, sendo que "Desejo e perigo" era um filme bem pesado. Talvez fosse hora de voltar a fazer uma comédia. E o segundo pensamento é que, quando fiz "Tempestade de gelo" (1997), encarei o filme como uma espécie de ressaca de Woodstock. O festival já exercia um efeito sobre mim desde então - conta Lee.
Em "Tempestade de gelo", a tal ressaca se refere às consequências de uma liberação sexual que veio na esteira de Woodstock e de outros acontecimentos da época, considerada pelo movimento hippie como o início da Era de Aquário (a mesma da canção "Aquarius", do musical "Hair", de 1967, cuja letra trazia os versos "A Lua está na sétima casa, e Júpiter se alinha..."). A mudança gerada por Woodstock para toda uma geração, incluindo aí Elliot Tiber, pode ser comparada com a mudança pela qual o próprio Ang Lee passou, ao deixar Taiwan e ir estudar cinema nos Estados Unidos, em 1979.
- Ir para os EUA representou muita coisa para mim. Ir morar sozinho me deu confiança, eu me sentia mais livre e respeitado. Foi essa liberdade que me encantou no ideal americano - diz. - Além disso, minha vida tem um paralelo com Woodstock na ilusão da utopia. Todas as pessoas têm uma oportunidade na América. Mas também podem encontrar a desilusão de não se adaptar. É um lado negro da história, com o qual eu também me identifico.
A sessão de abertura do Festival do Rio, nesta quinta, é fechada para convidados. Mas já estão programadas outras exibições de "Aconteceu em Woodstock" durante os 15 dias da mostra. Na sexta-feira, por exemplo, o filme vai ocupar o Espaço de Cinema, às 16h30m e às 23h30m. Já a sua estreia está marcada para o dia 13 de novembro.

ACONTECEU EM WOODSTOCK:
SEX (25/9) 16h30 Espaço de Cinema 1.
SEX (25/9) 23h30 Espaço de Cinema 1.
SAB (26/9) 16h30 Cinemark Downtown 1.
SAB (26/9) 21h30 Cinemark Downtown 1.
DOM (27/9) 14h Roxy 3.
DOM (27/9) 19h Roxy 3.
QUI (1/10) 13h Est Vivo Gávea 5.
QUI (1/10) 19h50 Est Vivo Gávea 5.
QUA (7/10) 16h30 Leblon 1.
QUA (7/10) 21h30 Leblon 1

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