8.11.2009

1984, de George Orwell, com Fromm, Pimlott e Pynchon

Dentro da programação de relançamentos da obra de George Orwell, que a Companhia das Letras vem promovendo, acaba de sair 1984, com três posfácios que são um tesouro (além da obra em si). Este 1984, edição 2009, também inclui o apêndice dedicado à "novilíngua", que Alexandre Hubner e Heloisa Jahn traduziram por "novafala" (acreditando na proximidade maior com o original, "newspeak"). Se alguém hoje se pergunta se deve ler 1984, deveria começar pelos posfácios de Erich Fromm, Ben Pimlott e Thomas Pynchon, ainda na livraria. O primeiro, escrito em 1961, evoca a proximidade da Segunda Guerra Mundial, a ameaça nuclear premente e os horrores do stalinismo. O segundo, de 1989, respira o ar da queda do Muro de Berlim, o fim das utopias socialistas e a vitória controvertida do liberalismo. Já o terceiro, de 2003, na aurora do novo milênio é o menos suscetível aos eflúvios da política (apesar do 11 de Setembro) e o mais literário de todos, e o mais biográfico. Só pelas datas, simbólicas de momentos históricos bem diferentes, é possível inferir como 1984, publicado pouco antes da morte de Orwell (em 1949), continua fundamental, e um poço inesgotável de interpretações. Valem as inquietações de Fromm: "Será que o homem pode se esquecer, um dia, de que é humano?". Valem também as de Pimlott: "O heroísmo pode, de repente, se tornar vazio, porque não haverá mais ninguém para salvar". E, igualmente, as de Pynchon: "Esse medo de se acomodar, de se vender, deve ser uma preocupação própria dos escritores". A obsessão de Orwell com o poder - que, absoluto, corrompe absolutamente (Lord Acton) - produziu, quem diria, um livro poderoso. (Pena que os mandatários de hoje não leiam mais como os de ontem...)

Nenhum comentário: