7.06.2009

Zélia faz show leve com sons e gestos saborosos



Resenha de Show
Título: Pelo Sabor do Gesto
Artista: Zélia Duncan
(em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Municipal de Niterói (RJ)
Data: 4 de julho de 2009



Zélia Duncan reedita no show Pelo Sabor do Gesto a delicadeza elegante do álbum que o inspirou. O show - que estreou na noite de sábado, 4 de julho de 2009, no principal teatro de Niterói, cidade natal da artista - confirma o excelente momento de Zélia. Talvez pelo fato de ser dirigida em cena por uma atriz, Ana Beatriz Nogueira, a cantora nunca esteve tão leve, linda e solta no palco. Escorada na direção musical do baixista Ézio Filho, quase sempre hábil na intenção de tranpor para o show a sonoridade suave do disco (urdida pelos produtores Beto Villares e John Ulhoa), Zélia seduz o espectador com espetáculo moldado com sons e gestos saborosos. É emocionante, por exemplo, a iniciativa de traduzir a letra de Todos os Verbos (parceria de Zélia com Marcelo Jeneci) para a linguagem dos deficientes auditivos em singela homenagem a uma fã portuguesa, Marta Morgado, que driblou problemas de audição ao tomar contato com a música de Zélia. Tocou o público.

Iluminada com sensibilidade por Aurélio de Simoni, Zélia Duncan apresenta no show todas as 14 músicas do CD Pelo Sabor do Gesto. É ato de coragem que expressa a confiança da artista neste trabalho tão renovador. A faixa-título, que Zélia canta sentada enquanto toca violão, é o número que traduz com perfeição o espírito leve e poético do disco. Mas as demais canções também chegam envolventes ao palco. Boas Razões, Ambição (a obscura canção de Rita Lee que soa ainda mais sedutora em cena), Telhados de Paris, Se Um Dia me Quiseres... As novas músicas vão sendo apresentadas em roteiro redondo - veja post abaixo - e nem parece que elas são novas para o público da artista. Intimidade, parceria de Zélia com Christiaan Oyens que em 1996 deu título ao terceiro álbum da cantora, é a primeira música fora do disco a ser apresentada. E, nela, fica especialmente perceptível a graciosa movimentação de Zélia em cena. E o que dizer de Tudo Sobre Você? Seu acabamento pop é tão perfeito que a platéia interage imediata e espontaneamente com a cantora no número (repetido no bis após Benditas), acompanhando a letra e marcando com palmas o ritmo dessa primeira parceria de Zélia com John Ulhoa.

Zélia enfatiza no roteiro as músicas de Pelo Sabor do Gesto, mas extrapola o repertório do disco com boas sacadas que ratificam sua capacidade de incursionar por repertório alheio sem nunca cair no óbvio. Quem se lembraria de I Love You?, fox maroto e irônico, perdido entre tantos clássicos lançados por Roberto Carlos em seu álbum de 1971? Pois Zélia lembrou e presta seu tributo aos 50 anos de carreira do Rei com abordagem lúdica do tema, ao fim do qual simula um instrumento de sopro com a boca. Permeia I Love You a mesma fina ironia que pontua Felicidade, outro número off-disco. Envolta em barulhinhos bons feitos pela banda, Zélia quase recita os versos de Luiz Tatit. Esse tom meio confessional seria bisado em Duas Namoradas, a inédita de Itamar Assumpção (1949 - 2003) - feita em parceria com Alice Ruiz - que Zélia desvenda em seu oitavo álbum solo. Ainda dentro do universo indie, Defeito 10: Cedotardar expõe a verve de Tom Zé, parceiro de Moacyr Albuquerque neste tema já lapidado por Thaís Gullin, cantora emergente, em seu primeiro álbum, de 2006.

Enfim, um show lindo e redondo. Coesão perceptível nos vocais harmoniosos de Os Dentes Brancos do Mundo (a jóia que Zélia encontrou no baú dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle), na economia quase silenciosa de Sinto Encanto (pérola atual de Zélia com Moska) e no suingue bailante que desabrocha em Flores. No fim, há sensível homenagem a Michael Jackson (1958 - 2009) - "Uma pessoa tão revolucionária quanto solitária" - com Nem Tudo, uma das duas parcerias de Zélia com Edu Tedeschi (a outra, Aberto, cresce no show). E é com o último apropriado verso dessa música, "Nem tudo que acaba aqui deixa de ser infinito", que Zélia encerra o show, então já certa de que sua saída de cena não tira do espectador a sensação de leveza deixada por esse espetáculo de sons e gestos saborosos que, a partir de julho, percorrerá o Brasil.

VEJA O VÍDEO DO SHOW DE ZÉLIA DUNCAN NO TEATRO MUNICIPAL DE NITERÓI

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