7.04.2009

A Tragédia de Michael Jackson, Rei do Pop

THEÓFILO SILVA

Parece o título de uma das peças de Shakespeare. Não é, mas os elementos que compõem essa trágica história bem que poderiam ter sido escritos pelo Bardo.
Ralph Waldo Emerson disse que: “entre os homens, o gênio é o ser mais desprotegido”. A ninguém uma frase pode se aplicar tão bem como a Michael Joseph Jackson, o geniozinho negro, duma família de nove irmãos artistas. Só estou citando sua cor porque ela teve um peso enorme em sua triste vida.
Dizem que Michael Jackson “coisificou-se”, já que perdeu sua identidade: não era homem nem mulher, nem criança nem adulto, nem negro nem branco, nem pai nem marido... e por aí vai! Sua mulher não era sua nem seus filhos eram seus! Essa realidade não é difícil de identificar. Complexo é entender como isso aconteceu! Por que o menino que conquistou multidões com seu talento não mais cresceu e não conseguiu enfrentar o mundo dos adultos? Tornou-se um infeliz Peter Pan, personagem de J.M.Barrie, denominando sua própria casa de Terra do Nunca.
Michael não é o primeiro gênio - sua genialidade repousa na dança - atormentado, a galeria é grande, não precisamos voltar a um passado distante, podemos ficar na segunda metade do século XX mesmo, com jovens pertencentes a sua atividade, seu país e sua época. Janis Joplin, Jimmi Hendrix,Jim Morrison, Kurt Cobain, Heath Ledger todos vitimados por drogas, lícitas e ilícitas, e mortos antes dos trinta anos. Todos esses, viveram pouco mais da metade da vida de Michael. Mas, Michael morreu por aí também. Pois, depois dos trinta anos, sua vida se tornou um tormento. Já que ele desumanizou-se e desmoralizou-se com essa idade. Virou uma tragédia viva.
Quando Michael iniciou sua caminhada de autodestruição, encontrou um forte aliado na ciência pervertida: a medicina estética e os psicotrópicos. Ou seja, aqueles que deveriam reverter seu processo destrutivo, trabalharam para matá-lo. Foram várias dezenas de caríssimas cirurgias plásticas para branqueá-lo e modificá-lo!
Essa nova turnê arranjada para seu retorno triunfal, após um longo ocaso, foi o que bastou para matá-lo. A rotina exaustiva de alguém doente que se punha de pé a custa de doses cavalares de medicamentos parou seu coração.
Sua derrota é de origem paterna. Michael foi amado e idolatrado pelo mundo todo, menos por aquele que tinha a obrigação de amá-lo, o pai! O homem que odiava o nariz do filho! O carrasco que criou um deus matando o homem. A criança sensível e genial necessitava do amor do pai. Não precisamos de Freud pra saber disso. Se seus irmãos escaparam da tragédia, eu não sei; ele, o gênio, não conseguiu. Sua vida se parece com a história e as estórias de Franz Kafka, outra figura arrasada pelo pai.
Hamlet, outro gênio marcado pela paternidade, pensava na excelência do ser humano: “Que obra prima é o homem, como é nobre pela razão! Como é infinito em faculdades! Em forma e movimentos, como é expressivo e admirável!” Eis aí o Michael! “Nas ações, como se parece com um anjo! Na inteligência, como se parece com um Deus! A maravilha do mundo! Protótipo dos animais”!
Michael Jackson quebrou as outras regras de Hamlet - suas ações não foram racionais nem inteligentes - e os que agem assim não sobrevivem, estão fadados à destruição! Shakespeare achava isso, e nós também!

Theófilo Silva é presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e colaborador da Rádio do Moreno.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembra o nome da obra máxima do teatro do mundo: A Tragédia de Hamlet, Píncipe da Dinamarca do imortal Will Shakespeare. Brilhante texto. Michael podia ter ido embora aos trinta anos! Foi o The Who paraodiando os românticos do fim do século XIX que disse: Quero morrer antes de completar 30 anos!