Enviado por Melina Dalboni, de Paraty -
Alex Ross, o crítico de música da revista "The New Yorker", lamentou não ter citado melhor os compositores clássicos brasileiros. Na mesa "O dissonante século XX", em que conversou com o cronista e jornalista Arthur Dapieve, ele contou que chegou a escrever parágrafos para seu livro "O resto é ruído", lançado este ano no Brasil, sobre o diálogo entre a música popular brasileira, por meio de compositores como Pixinguinha, Ernesto Nazareth e os do movimento da bossa nova, com a música clássica.
- Tenho certeza de que alguns leitores brasileiros ficaram chateados - disse Ross, um pouco sem jeito, quando perguntado sobre a rápida menção que faz a Villa-Lobos no livro. - Lamento, porque a música é maravilhosa. Mas tive que fazer escolhas... e estou sentado aqui agora, diante de vocês. O livro nada mais é que uma introdução, um portão para que as pessoas descubram outras músicas - justificou o autor, depois de citar também Camargo Guarnieri e Marlos Nobre.
Ao som de "A sagração da primavera", composta por Igor Stravinsky, que tocava no seu laptop Mac, o crítico leu um trecho de seu livro sobre a escandalosa estreia do balé coreografado por Nijinski em 1923, em Paris, e falou sobre os principais pontos e personagens da publicação, que traça um paralelo entre a música clássica e a História no século XX.
- O livro faz com que a gente queira ouvir música - comentou Dapieve.
Formado em literatura pela Harvard, Ross falou da falta que sente que sente do tempo em que os compositores, como Strauss e Puccini, eram grandes celebridades, no início do século passado. Para o crítico, a internet e as novas tecnologias tornam a música mais acessível, apesar de não haver uma comporvação disso. Ele também reclamou da apatia do público hoje diante de algum concerto ou show do qual não goste.
- Todo mundo está tão educado. Se não gostam, dão apenas uma tossidinha ou saem mais cedo. Uma pena, porque eu adoraria ver esse tipo de reação. Acho que o público é inseguro. Se pudesse fazer mais barulho, seria melhor - disse Ross.
Ross, que ganhou com seu livro o National Book Critics Circle Award e foi finalista do Pulitzer, falou também sobre rejeição dos compositores clássicos aos músicos afro-americanos no século passado.
- Foi uma tragédica cultural. É triste ver que os afro-americanos não tiveram acesso à música clássica, mas a tristeza dura pouco porque o jazz é maravilhoso.
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