6.05.2009

Vira-lata' com orgulho, Zeca Baleiro se apresenta no Canecão


José Raphael Berrêdo

RIO - O maranhense Zeca Baleiro, que se apresenta no Canecão neste sábado (06.06) e no domingo (07.06), considera o brasileiro um povo "vira-lata, mestiço, sem pureza". Mas se engana quem pensa que os adjetivos são pejorativos na opinião dele. Pelo contrário, o próprio músico se define como um autêntico vira-lata e as críticas, exposta em letras como a de "Vai de Madureira", faixa do álbum que dá nome à turnê "O coração do homem-bomba", são para os que se envergonham de sua miscigenação.

- O povo ainda tem aquilo que o Nelson Rodrigues chamou de "complexo de vira-lata", a triste mania de valorizar somente o que vem de fora. O brasileiro é mesmo vira-lata, mas é possível ser um vira-lata com orgulho, amor próprio, altivez - explica o músico, que já criticara o emprego de termos estrangeiros no português em "Samba do Approach", que Zeca Pagodinho ajudou a popularizar. - Palavras (desnecessárias) em inglês são como um crachá de subdesenvolvimento, de "espírito de cucaracha" - completa.

Tocar no Rio é um desafio superado por Zeca. O público carioca, segundo o cantor, "é difícil de conquistar, mas depois se torna fiel e cativo". Não à toa, este é o terceiro show baseado em "Coração do homem-bomba" no Rio, mas o público pode apostar em novidades, como canções ainda não gravadas ("Coco do trava-língua", por exemplo, da dupla Geraldo Mousinho e Cachimbinho). Há também participações especiais, virtuais, de Chico César, André Abujamra e Siba.

Pequenas surpresas cênicas e sonoras também estão no roteiro do show, classificado como festivo e rítmico. Skas, sambas-funks, reggaetons, rocks e boleros, além de releituras de canções famosas, compõem o set list. Já o título do CD que dá nome à turnê, além de combinar com o nome da banda Os Bombásticos, que acompanha Zeca, lembra o lado crítico e observador do compositor:
- O homem-bomba é o homem contemporâneo, sempre à beira de uma explosão. Esse é o ponto de partida pra apresentar canções que falam de consumo, da incomunicabilidade dos nossos tempos, de saudade, do amor, difícil de ser vivido hoje.

Zeca adia há anos, por falta de tempo, o projeto de gravar músicas para crianças. Seu início como compositor para teatro infantil, ainda em São Luís (MA) na década de 80, não foi esquecido e depois do nascimento de um casal de filhos a ideia se fortaleceu.
- Tenho material para dois discos, que pretendo realizar em breve.

Para os fãs, ele dá uma dica de onde o encontrar fora dos palcos cariocas:
- O que mais gosto no Rio é andar naquele calçadão milagroso, tomar uma água de coco, pensar na vida... Quando dá tempo, ando no Centro, na Lapa, adoro aquela atmosfera. Um programa? Comer um cabrito no restaurante (Nova) Capela e depois saborear uma sobremesa na Confeitaria Colombo.

Zeca Baleiro @ Canecão. Show "O coração do homem-bomba". Venceslau Brás 215, Botafogo - 2105-2000. Sab (06.06), às 22h, e dom (07.06), às 20h30m. De R$ 30 (meia) a R$120.

Nenhum comentário: