6.18.2009

Twitter no meu nome é mentira, diz Wagner Moura


Enviado por William Helal Filho -

Na Megazine desta terça saiu uma entrevista ótima do nosso Conselho Jovem com o baianíssimo Wagner Moura, superator de 32 anos que, atualmente, estrela e produz o espetáculo "Hamlet" (a peça entra em cartaz na quinta-feira agora no Teatro da Uerj). Publicamos vários trechos da conversa na versão impressa da revista, mas muita coisa legal (muita mesmo) ficou de fora, por questões de espaço. Segue aqui, então, o bate-papo completo. Ah, quem não conseguiu ver o "Hamlet" do Wagner no Teatro Casa Grande porque o ingresso estava muito caro, aproveite agora. As entradas na Uerj custarão R$ 30 (inteira), mas não vai comer mosca... o espetáculo fica lá só de quinta a sábado desta semana.

MAYÃ FURTADO: Por que a preocupação em fazer algo poético, sem ser rebuscado?
WAGNER MOURA: Sempre se falou de Shakespeare como um autor para intelectuais. Muito por causa dos diálogos rebuscados. Mas ele foi um autor do povo, um gênio popular. E a nossa peça tem texto direto. Não traduzimos “go” por “ide”. “Go” é “vá”. Isso aproxima. É despojado sem abrir mão da poesia. Porra, “Hamlet” é novela. O fantasma chega para o garoto e diz: “Mermão, seu tio me matou. Vinga”.

LUCAS DE TOMMASO: Por que levar a peça à Uerj?
WAGNER: Serão só três dias, então não vai ser algo transformador. Mas no Teatro Casa Grande eu cobrava 80 pratas, e muitos não podem pagar. Teatro não é arte popular como show na praia. O Casa Grande cobra percentual altíssimo por peça, e, se não cobrasse aquele preço, eu teria prejuízo.

LUCAS: Você apoia a cotização da meia?
WAGNER: Sou a favor como medida de choque. Na minha peça, 75% das pessoas pagam meia. É outro motivo para o valor do ingresso. Chega o cara barbudão de carteirinha, e você vai falar o quê? Até rádio distribui carteira. Tem que moralizar. E tem mais: quando o governo diz que o estudante tem que pagar meia está onerando o setor cultural. Quem paga por isso? O artista. Ora, eu também acho que todo jovem deveria pagar meia no ônibus, por exemplo.

LUCAS: Como explicar o sucesso de figuras controversas como Olavo (“Paraíso Tropical”) e Capitão Nascimento?
WAGNER: Fiquei assustado com a reação das pessoas ao “Tropa de elite”. A falência da segurança pública fez a sociedade ver um torturador como herói. Tem algo errado com a gente, não com o filme. A mesma coisa com o Olavo. Ele era divertido, claro. Mas, se houve uma aceitação à conduta corrupta
dele, o erro foi das pessoas.

LUCAS: Você é a favor da legalização da maconha? O consumidor financia o tráfico?
WAGNER: Sou a favor, mas não é solução. Tem que discutir. Acho grave não debater um assunto social por uma questão moral. E, evidente, se não tivesse consumo, não teria venda de drogas. Mas o consumidor é o lado mais fraco, e a sociedade sempre consumiu drogas. É questão de saúde pública, não de segurança. Tem que dar opções. Se tivesse emprego, cultura, saúde e dignidade, a juventude não iria para o tráfico.
ROBERTA ABREU: No personagem de “Ó paí, ó” tem mais Wagner que no "Hamlet"?
WAGNER: Tudo sou eu. O ator é o cara que mais tira as máscaras. Se o personagem não estiver em você, você não faz. Todo personagem sou eu.

DANIEL: O Nascimento o deixou mais agressivo?
WAGNER: Não é algo psicótico, mas fica uma coisa no ar. O “Tropa” foi uma parada louca. A gente foi treinado pelo Bope. Não tinha essa de ator. É muita loucura... Na preparação, eu não queria saber de fil-
me. Só queria sobreviver àquilo tudo.

LUCAS: Como vai ser a continuação do “Tropa”?
WAGNER: O primeiro fala da corrupção da polícia e de como afeta a sociedade. O segundo filme vai por caminho muito mais assustador, que mostra a promiscuidade da polícia com a política. Como um deputado influencia na indicação do comandante de um batalhão, por exemplo. E o filme vai falar ainda sobre o surgimento das milícias, que são um crime organizado. Eles elegem vereadores e têm bancada. É punk.

LUCAS: Contra o que você luta na vida? O judô o ajuda?
WAGNER: Minha luta básica é contra o medo e a calvície (risos). Muita gente deixa de ir adiante por um medo inexplicável de correr atrás. E um meio de combater isso é olhar dentro de você. Pratico artes
marciais, e isso dá autoestima. O judô ensina a cair e levantar e a derrubar com respeito. Também medito. Qualquer exercício de autoconhecimento é válido.

ROBERTA: Como você concilia as necessidades do seu filho com o trabalho?
WAGNER: Quero ser presente na vida dele. Um dos grandes problemas de segurança pública é falta de pai. Eu quero que meu filho tenha um pai, e represento bem esse papel.

LUCAS: Você acha que a fama tem preço?
WAGNER: Parece que todo mundo que fica famoso tem que fazer parte de uma brincadeira. Não suporto essa coisa de “preço da fama”. Estou trabalhando e gosto de ser reconhecido. Mas nunca quis ser celebridade. Essa coisa armada para você ser diferente, posar na revista mostrando o seu labrador... Não venha me forçar a fazer parte desse mundo.
ROBERTA: A sua montagem da peça "Hamlet" ajuda a quebrar essa coisa de o público sempre ver Shakespeare como um autor só pra intelectuais?
WAGNER: Estamos contribuindo para isso. "Hamlet" não é peça pra iniciados em Shakespeare. Até porque, na época, ele fazia peças pra galera mesmo, pensando no grande público. Era um gênio, mas um gênio popular. O nome "merda" (que no teatro quer dizer "boa sorte") tem origem nesse tempo. Veio da quantidade de bosta de cavalo na frente do teatro. Quando alguém desejava "merda" para um autor ou ator era porque queria ver o teatro lotado, com muitos cavalos parados na porta.
LUCAS DE TOMMASO: Você teve muitas criticas poisitivas mas algumas negativas também...
WAGNER: As criticas para nossa peça foram maravilhosas, com exceção de algumas. Mas, de uma maneira geral, tenho a impressão de que qualquer pessoa escreve sobre teatro. Faltam profissionais qualificados e qualquer opiniao é aceita. Não posso dizer isso sobre a Bárbara Heliodora, claro, que é uma especialista em Shakespeare (a crítica do GLOBO "detonou" o espetáculo de Wagner). E também não esperava que ela fosse gostar da nossa peça, até porque não usamos a tradução da mãe dela. Respeito a opinião da Barbara, mas, de resto, 80% do que leio sobre teatro é bobagem.
LUCAS: Versatilidade é fundamental pro ator?
WAGNER: Não acho. Gosto de fazer coisas diferentes, porque me instiga. Mas um ator que amo e que não é exatamente versátil é o Pedro Cardoso. É um dos maiores do Brasil, um gênio. Mas não se preocupa em fazer coisas diferentes. Ele tem uma persona muito forte. Assim como tinham Grande Otelo e Oscarito.

DANIEL FRAIHA: O que você acha dessse culto à futilidade na mídia de hoje?
WAGNER: Nós vivemos tempos futeis. É muita informação, então a chance de metade disso ser bobagem é grande. Acho que está faltando a gente se olhar mais. Todo mundo perde tempo na TV ou na internet, e essas coisas mais leves oferecem um relaxamento. Não sou contra. Mas tem que dosar. É foda quando a oferta de bobagem é grande e você se afoga. Bobagem é ótimo, mas você vai, dá uma risada e volta para questões reais. O mundo virtual afastou as pessoas. Aliás, sei que tem gente no Twitter se fazendo passar por mim. Mas por favor diga que isso é mentira. Não faz sentido isso.

DANIEL - O Capitão Nascimento te influenciou? Você ficou mais agressivo?
WAGNER: Não é algo psicótico. Mas fica uma coisa no ar que influencia, sim. A preparação do "Tropa" foi uma parada muito louca. A gente era treinado pelo Bope o tempo todo. E como soldado, não tinha essa de ator. Então, pense numa coisa louca... Nenhum ator americano se submeteria àquilo. Não queria saber de filme, só queria sobreviver.
LUCAS - Você se inspirou no seu pai para interpretar o Capitão?
WAGNER: Não, meu pai era um doce (risos). Perto do Capitão meu pai era uma moça (risos).

DANIEL - Você tem vontade de voltar para a Bahia?
WAGNER: Eu quero comprar uma casa na Bahia, porque meu filho nasceu no Rio e não quero que ele perca o contato com a terra. Porque a Bahia é massa (risos)!

DANIEL - Eu soube que você voltou a tocar com a sua banda?
WAGNER: É uma banda que eu tinha com 15 anos. A gente sempre tocou em Salvador, entre a gente mesmo. Fizemos shows memoráveis (risos). Mas o Edgard do Multishow me chamou pra uma entrevista e pediu pra chamar a banda. Aí veio todo mundo. A partir desse lance a gente recebeu muitos convite para tocar. São três jornalistas, um contador e eu. Vamos gravar em outubro. Mas eu nunca vou deixar de ser ator. Sou ator que canta, ou que já cantou, sei lá.... Eu sou baiano (risos).

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