6.10.2009

O Choro e o Viradão Cultural

No recente Viradão Cultural, promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, causou estranheza a forma com que o primeiro e mais autêntico gênero musical carioca, o Choro, foi tratado.

Nos cerca de 300 eventos culturais, chamou atenção a ausência de nomes tradicionais do gênero, dentre eles: Altamiro Carrilho, Hamilton de Holanda, Zé da Velha, Joel Nascimento, Déo Rian, Paulo Moura, Época de Ouro, Galo Preto, Maurício Carrilho, Henrique Cazes, Água de Moringa, Luciana Rabello, Luiz Otavio Braga, Eduardo Neves, Silvério Pontes, Paulo Sergio Santos, Nó em Pingo d’Água e paramos aqui, pois a lista é extensa. Em suma, as apresentações de choro corresponderam a cerca de 1% dos eventos musicais, isso em pleno Rio de Janeiro.

Estamos falando da cidade onde esse gênero centenário nasceu, e partir daqui se tornou internacional, e que teve como diletos construtores: Irineu de Almeida, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Jacob do Bandolim, Chiquinha Gonzaga e Waldir Azevedo, ilustres cariocas, que, certamente, não aprovariam esse tratamento.

Esse lastimável equívoco se dá, paradoxalmente, num momento de grande atividade, com a consolidação de experiências vitoriosas no campo do ensino musical como as desenvolvidas pela Escola Portátil de Música, a Escola de Música da Rocinha e a Associação de Compositores da Baixada Fluminense, que, somados, receberam nos dois últimos anos, mais de mil e quinhentos jovens alunos interessados no aprendizado desse gênero.

Regularmente, músicos de choro são convidados para se apresentar em palcos pelo país e no exterior, e os turistas que aqui chegam, vem com recomendação especial de conhecer o "... chorinho carioca..."

O choro representa hoje uma rede social organizada, que tem lutado para preservar seus acervos e divulgá-los, com resultados expressivos, como atestam os trabalhos realizados pelo Instituto Jacob do Bandolim, que numa parceria com o Museu da Imagem e do Som vem digitalizando o enorme acervo deixado por seu patrono, o que inclui 6.000 partituras e 400 horas de gravações, e pelo Instituto Casa do Choro, que promove o resgate de milhares de partituras dos pioneiros do Choro, no Séc. XIX, material disponibilizado à sociedade.

Enfim, se é louvável a iniciativa de se tentar dinamizar a cena musical por intermédio de um evento midiático, por outro lado, os gestores municipais devem ficar atentos para que, em função das pressões de mercado e patrocinadores, não se permita a redução do espaço que naturalmente pertence às manifestações culturais que contam com raízes sociais e que se mantêm em constante processo de crescimento e renovação, cujo principal exemplo é o Choro, que, por sinal, vai muito bem, sempre pujante e criativo.

Rio de Janeiro, 8 de junho de 2009
Instituto Casa do Choro e Instituto Jacob do Bandolim

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