6.10.2009

Noir com cheiro de samba e chope*

Enviado por Telio Navega -

O bairro do Rio de Janeiro conhecido como Princesinha do Mar pode ser a estrela da história em quadrinhos "Copacabana" (Desiderata), escrita por Lobo e ilustrada por Odyr, ambos gaúchos, mas quem brilha são princesas como Diana e Suelen, prostitutas que ganham a vida nas calçadas da Zona Sul carioca. Assim como outra personagem, a travesti Princesa. Em um estilo próximo do noir, graças ao poderoso preto e branco de Odyr e à trama noturna de Lobo, o livro narra a roubada em que duas delas se metem após dar um golpe num gringo.


- A Copacabana noturna é difusa, sem mar, cheia de árvores retorcidas e pessoas caminhando pelas sombras - explica Lobo, que teve a ideia para a HQ enquanto andava à noite, insone, pelas ruas do bairro, em marcha acelerada para se cansar e dormir. - Mas é um noir tupiniquim, com cheiro de samba e chope.

Assim como o roteirista, que diz ter conhecido muitas Dianas e Suelens ao longo de sua pesquisa para o livro, o ilustrador Odyr comenta o processo:

- Nem acho que eu tenha feito justiça ao bairro, que é ainda mais poluído visualmente e noir do que está no papel. Até porque a visão noturna de Copacabana é mais pintura do que desenho. Acho que fiz mais justiça às putas do que à cidade e estou feliz com minha Diana, ela está viva ali no papel. E fazer uma travesti como Princesa também teve seus desafios, acho que ela se saiu bem.

Há tempos que o bairro mais autêntico do Rio de Janeiro merecia um retrato em quadrinhos assim: seco e poético na medida certa. Quem pensaria que Copacabana é noir? Depois deste livro de estreia da dupla, que se conheceu na produção da extinta revista independente "Mosh", fica a vontade de conferir mais, principalmente algo da Barba Negra, editora fundada por Lobo e Odyr após sairem da Desiderata. O primeiro era o responsável pelos quadrinhos da editora Carioca, e o segundo, pelo design.
- Desistimos de montar a Barba Negra como uma editora convencional - adianta Lobo por email ao Gibizada. - Agora vamos focar em criar conteúdo e vendê-lo para editoras específicas. Em vez de criarmos os nossos catálogos passamos a ter o catálogo de todas as editoras à disposição. O que nos pareceu bem interessante.

Nenhum comentário: