4.04.2010

Ralf renova a bossa de Paula com arranjos leves

Resenha de CD
Título: BossaRenova
Artista: Paula Morelenbaum
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *
MAURO FERREIRA
Poucas vezes, ou talvez mesmo nunca, uma big-band pulsou com tanta leveza como neste álbum gravado em estúdio por Paula Morelenbaum entre Stuttgart (na Alemanha) e Rio de Janeiro (RJ) de dezembro de 2008 a abril de 2009. O mérito é do arranjador alemão Ralf Schmid, que conduz a SWR Big Band pelas trilhas suaves da bossa com um olhar diferenciado, verdadeiramente original, sem prejuízo da leveza essencial do gênero. "Bossa nova é mais um olhar do que um beijo... É mais um recado do que uma mensagem", conceitua Paula na abertura de Águas de Março, se valendo de um texto em prosa de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) intitulado O Que É Bossa Nova?. A propósito, o Poetinha se faz presente no repertório através de belas releituras de Tempo de Amor (uma de suas parcerias com Baden Powell) e Tarde em Itapoã. A leveza com que este clássico da obra de Vinicius & Toquinho é reembalado exemplifica a maestria de Ralf Schmid na criação dos arranjos de BossaRenova, CD que descarta qualquer conceito ortodoxo de Bossa Nova ao agregar no repertório temas de universos tão díspares quanto Blackbird (John Lennon e Paul McCartney), Setembro (Ivan Lins e Gilson Peranzzetta) e Mas que Nada (standard da obra inicial de Jorge Ben Jor, objeto de abordagem mais convencional). Paula - solista segura, de voz incrivelmente afinada e sedutora - canta até versão de lindíssima balada alemã, Ich Grolle Nicht (de Robert Schumann e Heirich Heine). Intitulada Pra que Chorar? na versão em português assinada por Arthur Nestrovski, a faixa beira o sublime pela beleza da melodia, pela apropriada citação de Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha) e pelo solo do trombone de Ernst Hutter. A SWR Big Band, a propósito, é orquestra que prioriza os sopros na sua formação (sopros que interagem bem com a percussão em O Morro Não Tem Vez, o samba de Tom & Vinicius). Músicos como o trompetista alemão Joe Kraus (conceituado no mundo do jazz) e o violoncelista Jaques Morelenbaum valorizam o disco com suas participações. Kraus toca em Tempo de Amor e em Setembro. Morelenbaum é convidado de Modinha (Seresta nº 6), tema de Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959). Lançado no exterior em 2009 e editado no Brasil pela gravadora Biscoito Fino neste mês de março de 2010, BossaRenova é disco leve, moderno (mas nunca modernoso, como ressalta Roberto Menescal num dos elogios reproduzidos no encarte) e arejado que põe Paula Morelenbaum em lugar de destaque na música brasileira. A discografia da cantora - que vem de outro excelente álbum, Telecoteco - Um Sambinha Cheio de Bossa... (2008) - tem valor e já ganha progressiva importância dentro e fora do universo bossa-novista.

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