3.29.2010

Uma história simples ao som de uma grande voz

Barbara Heliodora
 No meio da onda de musicais, a primeira coisa a ser dita a respeito de “Vicente Celestino, a voz orgulho do Brasil” é o fato de não se tratar dessa forma, mas sim de uma peça em episódios, separados por canções que não “contam a história”, mas apenas ilustram (e com grande sucesso) a vida e a carreira do filho de imigrantes italianos que alcançou extraordinária popularidade em todo o Brasil desde os velhos tempos em que não havia televisão, enquanto rádio e discos davam seus primeiros passos por estas bandas. De corpo presente, com vozeirão que resistia a toda espécie de ambiente, Vicente Celestino teve uma carreira de mais de cinco décadas, com um repertório mais emocional do que romântico, que volta e meia atingia os píncaros da cafonália.

Espetáculo funciona graças aos números musicais

A partir de uma ideia de Lafayette Galvão, Wagner Campos elaborou uma biografia superficial, mas que marca momentos significativos da carreira do cantor, deixando que o todo funcionasse, acima de tudo, graças ao quase recital, que embala o público. Poucos são os que ainda têm lembranças vivas de Vicente Celestino, mas são muitos os que, de um modo ou outro, o conhecem por discos ou por fama. O espetáculo em cartaz no Sesc Ginástico trilhou o melhor caminho ao optar por simplicidade também na cenografia (de José Dias), que coloca em cena o conjunto musical de cinco elementos, o certo para a época da notável carreira. Os figurinos de Ney Madeira, sem exageros, sugerem outros tempos, principalmente quando o quadro é de aparição em teatro ou salão, criando o clima certo. A luz de Rogério Wiltgen enriquece o ambiente usando cores que também sugerem as encenações de outrora.


Wagner Campos é responsável pelo texto, pela direção musical e pelos arranjos, oferecendo um som suave e bonito, que procura apoiar e não rivalizar com o cantor. Seu texto é frágil, mas dá informações precisas sobre o homem, sua vida e sua arte, com ênfase no canto, que é a essência das mesmas. A direção é de Jacqueline Laurence, que conduz tudo com simplicidade, deixando os personagens no mesmo tom de apoio que tem a música, e dando o destaque devido ao protagonista.
Pedro Garcia Netto é o narrador das amigas lembranças, enquanto Camilla Caputti (com destaque para sua voz), Edmundo Lippi, Jacqueline Brandão, Bruno Ganem a André Rebustini desempenham vários papéis, com Stella Maria Rodrigues tendo parte importante da narrativa como Gilda de Abreu, mulher do cantor. Tudo isso cerca Alexandre Schumacher, que usa magistralmente sua grande voz para evocar o tom e a emoção que caracterizam Vicente Celestino, tornando notáveis todos os momentos em que interpreta o clássico repertório e criando uma figura simpática para os vários episódios.

Vicente Celestino foi uma figura muito importante para o desenvolvimento da música brasileira, e é um prazer ver um espetáculo em que tudo é feito para homenageá-lo e fazer o público lembrar (ou conhecer) seu repertório, principalmente quando uma voz de alta qualidade efetivamente evoca esse talento tão consagrado.

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