12.14.2009
Pelo Sabor do Gesto, de Zélia Duncan
O melhor disco de Zélia Duncan foi Sortimento (2001), que gerou, não por acaso, Sortimento Vivo (2002). Na sequência, Eu me transformo em outras (2004) se revelou um álbum de gravações excessivo, sem muita coesão. Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band (2005) prometia uma revolução, um “movimento” – contudo, surpreendentemente, entregava um disco mais homogêneo, e menos pretensioso. A entrada de Zélia Duncan nos Mutantes (2006) foi mais uma “farra”, ou um “favor” à amiga Rita Lee (que concedia suas bênçãos, mas que ainda se lembrava do encontro, traumático, com Arnaldo Batista na época de Bossa’N Roll...). Os duos com Simone (2008) – que até Nelson Motta, o mais político de todos, considera que “se desencaminhou” – francamente, ninguém entendeu (ou escutou)... Agora, com Pelo Sabor do Gesto, Zélia Duncan talvez retome a trilha perdida desde Sortimento, passando pelo bom Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band, sem grandes invencionices, com algumas incursões pela música brasileira e ótimos rocks (que é o que ela faz melhor). O disco abre com “Boas Razões”, versão de Alex Beaupain, compositor francês de trilhas. A participação, OK, de Fernanda Takai parece sugerir as pazes de ZD com o rock’n’roll (a origem de ambas). A radiofônica “Todos os Verbos” merecia virar hit por versos como “Errar é útil”, “Sorrir é rápido”, “Não ver é fácil” e “Pensar é ser humano”... “Telhados de Paris” (reforçando o sotaque afrancesado do álbum), de Nei Lisboa, confirma que Zélia Duncan poderia ter sido, só, intérprete (se quisesse). “Tudo sobre Você” – a oficialmente radiofônica – é alegrinha como um jingle, mas falta, em algum ponto dela, energia. “Pelo Sabor do Gesto”, a própria, de Beaupain (de novo) é a mais introspectiva do disco e merece ser colocada mesmo no centro – pois trata de um tema delicado: traição. “Ambição”, da “mestra” Rita Lee Jones, soa beaucoup plus “ameilleurée”. Assim como soa bela a evocação, de Marcos e Paulo Sérgio Valle: “Os Dentes Brancos do Mundo”. “Aberto” remete aos bons momentos de Zélia Duncan (1994), Intimidade (1996) e Acesso (1998). E “Nem Tudo” ajuda a encerrar, claro, com Alice Ruiz e Itamar Assumpção. Zélia Duncan gravou sua obra-prima, se consagrou, se perdeu como todo mundo e, agora, parece que está se reencontrando...
Nenhum comentário:
Postar um comentário