Enviado por Luiz Fernando Verissimo -
Crônica
Pode-se supor que o descobrimento do Brasil estava entre as notícias que inspiraram Thomas More a inventar sua “Utopia”, a ilha perfeita em algum lugar do Novo Mundo.
Jean-Jacques Rousseau também usou os nativos da América, incluindo os do Brasil, nas suas teorizações sobre nobres selvagens e suas sociedades puras.
De um jeito ou de outro — e culminando com Claude Lévi-Strauss — todos os que fantasiaram ou especularam na mesma linha sobre os incivilizados deste lado do mundo os estavam desagravando, tentando resgatá-los das ideias feitas das suas respectivas épocas a respeito do selvagem.
Até o começo do século vinte ainda se debatia a natureza dos seres primitivos que habitavam a África e as Américas colonizadas, se eram humanos ou não, mas para uma certa tradição intelectual europeia eles não apenas eram humanos, mas humanos superiores.
O próprio Lévi-Strauss, que estava longe de ser um romântico atrás da inocência do primitivo, atribuiu a tribos indígenas brasileiras uma sofisticação cultural que afrontou ideias convencionais que ainda persistiam na Europa sobre o selvagem.
Hoje, para o imaginário europeu, o Lula — só para pegar o selvagem mais à mão — é tudo que os românticos e os pensadores anticonvencionais diziam sobre aqueles estranhos habitantes do Novo Mundo e poucos acreditavam.
A ideia feita na Europa agora é que o Lula é o cara e o Brasil, se não é a Utopia sonhada, está mais perto dela do que qualquer outro país comparável.
Enfrentou a crise econômica melhor do que ninguém, tem mais riqueza a ser explorada do que qualquer outro, tem um líder simpático com apoio quase universal — e isso sem falar no carnaval!
Enfim, somos não apenas humanos, mas humanos superiores, certamente superiores aos chochos europeus. E você fica tentado a pedir calma e reflexão: também não é bem assim, gente.
Não somos mais antropofágicos, a não ser em casos especialíssimos, mas o que temos ainda não pode ser chamado de civilização.
Temos problemas, temos guerra nas ruas, temos... Mas não adianta. A atual ideia feita sobre a nossa excepcionalidade é tão arraigada quanto era a ideia feita sobre os tupinambás.
PÔ!
Me chamem de megalômano mas tive a nítida certeza de que o apagão era contra mim. Souberam que nós estávamos voltando e apagaram todas as luzes para que o avião não encontrasse o Brasil. Se não queriam que eu voltasse das férias era só dizer, pô.
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