11.19.2009

CAETANO, LULA E O AMBIENTE DE FESTIVAL


É perigoso atacar Lula, especialmente quando se trata de sua escolaridade – a falta dela, no caso. Embora seja atualmente rico e tenha tido, já na fase adulta, todas as oportunidades do mundo, o Presidente da República optou por não estudar. Ao mesmo tempo, qualquer crítica a essa escolha é vista como "preconceito". Questão encerrada.
Em entrevista recente, Caetano Veloso falou o óbvio sobre isso, complementando que Marina Silva, ao contrário, é culta e informada. Ninguém viu aí uma apologia ao estudo, tendo em vista que Marina teve uma infância tão miserável quanto a de Lula. Todos preferiram ver o "preconceito".
Isso é de uma miséria intelectual acachapante.
Em primeiro lugar, não há "preconceito". Brasileiro é tão idiota que usa essa palavra para tudo, dá até preguiça explicar o equívoco, mas vamos lá. Preconceito é quando se emite um juízo sem ter noção do objeto da análise. Definitivamente, não é o caso. Chamar alguém de analfabeto, para ser preconceito, seria preciso desconhecer o significado de analfabetismo.
No máximo, portanto, haveria discriminação. Sigamos.
E, se querem saber, não houve – não nesse sentido tacanho usado para resumir o debate a algo nocivo. Porque, voltemos, foi feito antes de tudo um ELOGIO ao empenho de Marina Silva, cuja infância miserável não foi impedimento para o estudo, às leituras etc. Por que raios haveria preconceito ou discriminação na comparação de esforços intelectuais de duas pessoas – em condições financeiras de passado paritárias, e sem levar em consideração que Lula, já adulto, teve vida muito mais abastada.
Há outros pontos.
Caetano não tem diploma, é nordestino do Recôncavo Baiano e de família pobre. Nada disso o impediu de buscar uma formação intelectual. Ele está, portanto, em total condição de falar o que bem entender do Presidente da República. E é risível que um jornalista (depois reclamam da queda do diploma) como Kennedy Alencar o trate como "elite".
De qual "elite" Caetano faz parte? Intelectual? Se for essa, e vendo sua trajetória em retrospecto, isso diz muito sobre a opção de Lula em não pegar um livro durante toda sua vida adulta, nem por curiosidade, mesmo tendo todas as condições materiais para isso. Ao "elitizar" um baiano do recôncavo de infância modesta, o jornalista da Folha comprova o fiasco da escolha lulista.
Esse problema com Caetano Veloso vem de 1967, quando cometeu o pecado de ter em sua companhia músicos com guitarras elétricas. Foi vaiado por socialistas que lutavam pela manutenção da música tradicional ou algo do gênero. No ano seguinte, com Os Mutantes, foi chamado de "bicha" pelos mesmos socialistas – naquela época, os países sob tal bandeira mantinham gays em campos de concentração (dez mangos que esse texto vai para algum hate-blog por causa desse adendo).
A parte curiosa é que Caetano foi preso e exilado e não ganha pensão pelos anos de exílio ou meses de cadeia. Lula, ao contrário, recebe uma bolada mensal por ter ficado dois ou três dias detido.
Mas vale tudo para anular o que foi dito. O nordestino do Recôncavo Baiano que se instruiu é da "elite" e comparar Lula e Marina Silva, dois outros de infância pobre, não é enaltecer o esforço desta, mas sim ter "preconceito" quanto àquele.
Lula não estudou porque não quis. Só isso.
Ambiente de Festival
Para quem ainda não ouviu, vai a seguir a faixa denominada "Ambiente de Festival", gravada em 1968, ao vivo, no II Festival Internacional da Canção. Ela foi lançada como Lado B do compacto simples de É Proibido Proibir – no Lado A, claro, rola a música gravada em estúdio.



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