11.14.2009

Barbara Heliodora: Débora Duarte brilha em 'Adorável desgraçada'



RIO - Débora Duarte está interpretando no Teatro Solar de Botafogo o monólogo "Adorável desgraçada", de Leilah Assumpção, prêmio de melhor texto de 1994 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). O monólogo é um excepcional exemplar de veículo para intérprete, contando com brilho, humor e dor a biografia de Guta, a pequena e feiosa Augusta, que no momento espera a visita - após sete anos de silêncio - de sua alta e bonita "melhor amiga", Maribel. Tímida, religiosa, pudica, Guta passa a vida perdoando os incontáveis e bem-sucedidos "maus passos" da amiga, perdão esse que na realidade vai acumulando um vasto acervo reprimido de inveja, ressentimento e condenação moral e religiosa. A solidão de Guta é patética, mesmo quando descrita com muita graça, enquanto os delírios da interpretação pessoal do que seja da religião são muito bem usados para construir a personalidade da protagonista, misturados com seus fervorosos sonhos de felicidade pessoal e, admitamos, desgraça alheia.
Direção de arte, de Bia Lessa, é irretocável
A encenação de "Adorável desgraçada" é exemplar: a direção de arte de Bia Lessa é irretocável, seja pelo belo cenário que fala de preservação de um mundo retrógrado, com o requinte da cortina de chuva que completa o isolamento, seja pelo figurino, uma simples camisola coberta por um robe decorado com anjos e santos, lindo e definidor da personagem. A luz de Lauro Escorel é de primeira qualidade, enriquecedora e imaginativa, e o mesmo se deve dizer da trilha de Dany Roland.
A direção de Otavio Müller é excelente, precisa, aproveitando da melhor forma o material que tem em mãos, texto e atriz.
E que atriz! Após longa ausência dos palcos cariocas, Débora Duarte volta com um trabalho maravilhoso. Quando sobe a luz e ela entra para "apresentar" os vários personagens da ação, já chega o impacto de uma atriz que sabe o que faz, que o faz muito bem e que abraça a plateia para incorporá-la ao círculo de mágica de seu trabalho. A criação de Guta é um trabalho de ourivesaria, rica em detalhes e autocrítica, pensada, controlada, que nos apresenta uma patética figura humana que, usando muito bem o texto, consegue reunir em uma só todas as solitárias Gutas interioranas que vivem na cidade grande presas aos valores trazidos de casa.
O texto e a encenação de "Adorável desgraçada" têm grandes qualidades. Mas são, em última análise, a bela moldura para o brilho da atuação de Débora Duarte, sem dúvida um dos grandes
Adorável desgraçada
Texto Leilah Assumpção.
Direção Otávio Müller.
Com Débora Duarte.
Solar de Botafogo.Rua General Polidoro 180, Botafogo.
Tel.: 2543-5411. Sextas e sábados, 21h30. Domingos, 20h30. R$ 60. Não recomendado para menores de 14 anos. Até dia 20 de novembro

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