10.13.2009

Walter Franco: Auditório Ibirapuera - São Paulo/SP

Eduardo Guimarães
Em 1972, quando Walter Franco apresentou sua composição “Cabeça” no Festival Internacional da Canção, da Rede Globo, o que se ouviu vindo do público foi uma grande e maciça vaia. O júri do festival - formado por Roberto Freire, Rogério Duprat, Décio Pignatari e Nara Leão - estava disposto a premiar essa canção, mas foi demitido pela emissora, supostamente por pressão da ditadura militar.
Trinta e sete anos após esse episódio, o que se ouve da platéia nas raras apresentações de Walter Franco é a repetição de cada palavra das letras de suas músicas ou expressões de admiração ou ainda risadas devido a alguns comentários do artista. Pelo menos foi isso que aconteceu na apresentação realizada na última sexta-feira, 09, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.
Desta vez Walter não estava acompanhado de sua ‘banda abstrata’, mas sim de amigos que o ajudaram a mostrar que mesmo após quatro décadas, suas canções continuam sendo fortes, belas e muitas vezes incômodas para aqueles que estão acostumados aos fáceis e efêmeros sucessos das FMs.
Os amigos Raulito Duarte (guitarra), Celso Nascimento (percussão), Giba Faverin (bateria) e Willy Verdaguer (baixo - Beat Boys, Secos & Molhados, Raíces de América) se uniram ao filho de Walter, Diogo Franco (violão), para apresentarem algumas das canções marcantes da carreira do artista e também composições ainda inéditas.
O mesmo Walter Franco que apresenta com voz e toques mansos ao violão canções como “Respire Fundo” e “Serra do Luar”, se transforma e expressa uma energia Rock n’ Roll que a maioria das bandas brasileiras na ativa atualmente não possuem. O ápice dessa catarse vem com “Canalha” (já regravada pelo Camisa de Vênus), quando Walter vira o pedestal do microfone para que o público grite após a deixa: “é uma dor... Canalha!”. Arrepiante.
“Quem Puxa aos Seus Não Degenera”, “Partir do Alto”, “Only Life”, “Encanto e Paz”, “Signo”, “Tutano” e “Feito Gente” (que o Ira! regravou em seu último álbum) também foram apresentadas no show. Em “Zen” e “Govinda”, Walter chamou ao palco Alberto Marsicano para tocar sua cítara indiana, criando um clima quase sacro.
Além de acompanhar o pai na banda, Diogo Franco também teve seu espaço no show e mostrou seu trabalho que traz fortemente impresso o DNA paterno, afinal, “quem puxa aos seus não degenera”, já diz a canção. Destaque para “Dentro da Cabeça”.
Diogo também protagonizou um dos momentos mais bacanas do show ao cantar “Vela Aberta”, música composta por seu avô, Cid Franco, e uma das músicas mais marcantes da carreira de Walter. De certo modo, três gerações estavam ali presentes no palco.
Esta apresentação foi gravada por uma equipe da TV Cultura de São Paulo. Portanto, se você não teve a felicidade de estar presente, terá a oportunidade de assistir pela TV. Mas ainda não há previsão para esta memorável apresentação ser exibida.

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