7.05.2009

Erasmo Carlos, o maior parceiro do Rei, lança disco, livro e diz que seus 50 anos de carreira são no ano que vem


Karla Monteiro

RIO - Quando o carro para na casa 322 de uma rua tranquila do Jardim Oceânico, na Barra, a curiosidade aumenta. Quem vive ali, do outro lado do portão de madeira escura, é Erasmo Carlos. Como será que ele é, assim, de pertinho, na intimidade? Foi a pergunta que me veio à cabeça enquanto cantarolava em silêncio "É preciso saber viver", uma das quase 500 parcerias de Roberto e Erasmo, a dupla com mais hits da história da música brasileira. Segundo Nelson Motta, os dois assinam cerca de 70 hits, número superior aos de Chico Buarque, Caetano Veloso e Tom Jobim somados. O caseiro abre a porta e o louro Elvis dá as boas-vindas. A construção é bem oitentista, confortável, concreta, cercada de plantas. No interior, os espelhos nas paredes, a cerâmica preta no piso, o carpete na escada e em alguns cômodos, tudo remete aos anos 80, quando o Tremendão se mudou para aquele canto do Rio com a mulher, Nara, morta em 1995, e os três filhos, Gil Eduardo, Alexandre e Léo, hoje com 46, 35 e 34 anos, respectivamente. A empregada pede que a gente espere na piscina. Pouco depois, Erasmo aparece, de jeans e camisa bacana da estilista Gilda Midani, casada com André Midani, fundador da Warner e um dos melhores amigos. Do alto do seu 1m86, Erasmo é mesmo um gigante gentil, como o chamam Nelson Motta e Rita Lee.
- Eu e Narinha fizemos esta casa no gosto da gente. Essa coisa de planta eu herdei dela - conta Erasmo. - Bicho, eu vivo sozinho. Os filhos e os netos moram perto. Domingo de futebol, aparece um, outro. Dia de semana, passam. É assim. Saio pouco. Mas, quando saio, eu saio. Geralmente Baixo Leblon. Hoje bebo mais vodca. Não me dá ressaca.
Logo na primeira rodada de café e cigarros, um atrás do outro, o jeito Erasmo Carlos de ser preenche o ambiente. Piadista, frases espertas, raciocínio rápido, humildade genuína, muito charme, ele nocauteia, faz a gente entender o porquê de tudo. Somando as parcerias com Roberto, a carreira solo e as composições para outros intérpretes, Erasmo está presente em mais de 100 milhões de discos vendidos em meio século. Falar nas bodas de ouro da dupla Roberto e Erasmo causa uma certa polêmica na conversa. São contas complexas. Roberto e Erasmo se conheceram em 1958. Roberto já cantava no programa "Clube do rock", de Carlos Imperial, e levou o novo amigo para passar as tardes de terça na TV Tupi. Erasmo logo assumiu os vocais nas apresentações de Roberto, Tim Maia e Jorge Ben. Em 1959, Roberto estreou na boate Plaza. Por conta desse contrato, o primeiro que lhe renderia um troco, o rei está comemorando 50 anos de estrada - no próximo sábado, tem festão no Maracanã. Erasmo vai estar lá, interpretando "Sentado à beira do caminho". Mas diz que ele próprio só completará 50 anos de carreira no ano que vem, porque só gravou o primeiro disco, com a banda Snakes, em 1960.

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