RUY CASTRO
RIO DE JANEIRO - Sem alarde, na verdade quase em segredo, a Livraria São José fez 70 anos outro dia. É um dos sebos mais antigos -e à antiga- do Rio. Não vende LPs usados nem revistas velhas. Também não serve cafezinho, croquete ou refresco. Em compensação, seus funcionários, que estão lá há décadas, sabem tudo de livros, de qualquer época, escola ou estilo.
Quando comecei a frequentar a São José, em meados dos anos 60, ela ainda ficava nos números 38, 40 e 42 da própria rua São José, no Castelo. Pareciam cavernas, com prateleiras à guisa de costelas, livro até dizer chega. Ali comprei de Arsène Lupin e Charlie Chan, em lindas edições da Vecchi, ao intransponível "A Skeleton Key to James Joyce's "Finnegan's Wake'". Como se vê, eu era muito jovem.
Tão jovem, aliás, que, ao roçar cotovelos com Carlos Drummond, Lucio Cardoso e Agrippino Grieco entre as estantes, não ousava lhes dirigir a palavra. A São José era um ponto de encontro dos escritores. Nos dias de gala, abrigava as "tardes de autógrafos", em que os autores eram agraciados com "madrinhas" -algumas delas, Tonia Carrero, Bibi Ferreira, Odette Lara.
Perdi a conta das vezes em que matei aula na Faculdade Nacional de Filosofia e fui garimpar livros em suas bancadas. Devo ter sido o único estudante que matava aula não para jogar sinuca ou bater perna, mas para ir ao sebo. Sou grato à São José pelas centenas de livros que comprei lá. De certa maneira, vivo deles até hoje.
Em 1974, mudou-se para a rua do Carmo, e fui atrás. E, há tempos, mudou-se de novo, para a rua 1º de Março, onde continua. Hoje, seu forte são os livros jurídicos, que me interessam menos. Mas, a qualquer hora, vou achar ali "A Marca do Zorro", de Johnston McCulley, também da Vecchi, que procuro há anos.
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